quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Os menos Mais e os mais Menos

Portugal vai entrar em 2008 com as mesmas crises e as mesmas canseiras políticas que se arrastam há mais de três décadas. Os menos vão continuar a ser os Mais (com mais poder, mais riqueza e mais intervenção, independentemente da capacidade), os mais vão continuar a ser os Menos (nas hierarquias do poder, nas lides económicas e na política, por muita idoneidade que possam ter). As excepções (porque também existem) são em número muito inferior na subtracção Mais-Menos. O retrato social e económico de Portugal, à entrada do oitavo ano do século XXI, é de um país não desenvolvido mas em vias de desenvolvimento.
Os menos vão continuar a ser os Mais, os auto-Mais, os mandões de um Portugal que a Europa não considera como país desenvolvido, que as grandes referências para os europeus e outros povos estrangeiros continuam a ser o futebol (primeiro Eusébio, depois Figo e agora o madeirense Cristiano Ronaldo), o Fado e Santuário de Nossa Senhora de Fátima. Os ingleses consideram Portugal um destino turístico barato, com um povo hospitaleiro, onde há sol, praia e paisagens. Os hotéis portugueses, com relevo para as unidades hoteleiras madeirenses, são dos melhores da Europa em acomodações, na qualidade do serviço prestado e em preços.
Todo este melhor não tem, todavia, o retorno que mais desejaríamos. Os hoteleiros portugueses passam o ano a lamentar os níveis de ocupação das suas unidades, com as tais excepções, os empregados da hotelaria fazem contas ao apertado salário (o mais baixo da Europa), o sector hoteleiro está sempre a depender de terceiros. Portugal vende serviços e pouco mais e quando a concorrência resolve baixar os preços por idênticos serviços o negócio bate no fundo. O actual governo português considera Portugal “um paraíso” e por isso convida os países asiáticos a investirem em Portugal por reconhecer que o país tem os mais baixos salários da EU.
Pensava-se (e os governantes apressaram-se a fazer prognósticos) que com a guerra no Iraque e a instabilidade no Médio Oriente (cuja hotelaria sofreu um rombo histórico, passando do oitenta para menos do oito), bem como com o 11 de Setembro nos EUA, a Europa, e de um modo particular as ilhas mais próximas do centro da Europa, seria grandemente beneficiada com a opção dos turistas por serem regiões estáveis. Foram vaticínios falhados.
O crescimento do turismo português faz-se por convulsões. Ainda assim, fora este sector, pouco mais se vê noutros sectores económicos. Não há investimento português multiplicador, os grandes grupos empresariais estão a sair do país, o número de empresas na falência não pára de aumentar e Portugal chega a Dezembro de 2007 com mais de meio milhão de desempregados. Portugal é o país da União Europeia que nos últimos anos mais pobreza tem registado, com mais famílias a sobreviver e não a viver, com os governantes a olhar para o umbigo quando o caos social está bem à vista. Donde vem a violência, a insegurança, os aumentos do consumo da droga e da prostituição?
É neste quadro social que os responsáveis “fecham os olhos” que Portugal vai assistindo a uma sociedade mais vulnerável, corrompida e agressiva. Chegamos ao fim de 2007 com um balanço pouco ou nada animador, pouco ou nada auspicioso para 2008. Nem as mensagens que vão desde Sua Santidade o Papa aos governantes políticos, desde os lideres da economia mundial aos “donos” da alta finança, dos mais badalados nos mass media aos anónimos de todo o universo, todos, sem excepção, a pronunciar um Feliz Natal e Próspero Ano Novo conseguem tirar de cima das costas o fardo de dificuldades que os portugueses suportam quando comparados com os povos de outros países que entraram para União Europeia quando era constituída apenas por doze países (hoje 27). Todos se manifestaram a favor da paz no mundo, ao combate à pobreza e aos excluídos, à solidariedade e a uma humanização que seja fraterna e saudavelmente aceite e partilhada por todos. Paroles!
Na prática, o que vemos é que as sociedades parecem estar cada dia mais doentes, doentiamente egoístas, destruindo-se em picardias e fomentadoras de ingratidão. Os homens refugiam-se em coisas do nada, os políticos trocam galhardetes como se a política fosse um jogo de futebol sem regras, os governantes governam com defesas argumentadas sem convicção e os que fazem (ou estão) oposição aos governos agarram-se a todas as fissuras para apresentá-las como deficiências da governação.
O mais é reduzido ao Menos e o menos é promovido ao Mais. Criou-se nas sociedades actuais o gosto pelo pecado, pelo mal feito, pela aldrabice, pela mentira e pelo oportunismo, abrindo alas para a passagem e subida aos pontos mais altos dos que fazem mais ruído ou dos que se movimentam como répteis traiçoeiros. Como escreveu Pierre Daninos: “as lemas estão sempre presentes mesmo quando não as vemos nem se dá pelo rasto que deixam à sua passagem”. As lemas deixam rasto mas há outra lesmas que fazem mais estragos, destroem muito mais, e passam mais despercebidos que a mais pequena das minhocas.
Os governantes portugueses andam há mais de três décadas a falar ao povo que faça poupança, que aperte o cinto, que os impostos têm que aumentar, os vencimentos não podem subir, as carreiras têm de ser congeladas e os anos de trabalho vão ser mais prolongados. Tudo em nome das dificuldades financeiras que o país atravessa…há 30 anos! Paradoxalmente, há dinheiro para obras duvidosas (no timing e na necessidade), há dinheiro para dar a países africanos, há dinheiro para desvarios governamentais, só não há dinheiro para investir nas áreas que possam contribuir para tirar os portugueses do fosso em que os governantes os colocaram em nome da democracia.
Enquanto os menos continuarem a ser os Mais do poder e enquanto não se pedir responsabilidades efectivas aos governantes (gestores dos bens públicos) não podemos esperar por um Portugal melhor. Não é pessimismo, não. É o somatório da idade, da experiência vivida, de uma realidade palpável. 2008 não será diferente.

27.12.2007

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