quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Falar ao País

A mensagem de ano novo do senhor Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, nada de novo revelou para além daquilo que já era do conhecimento dos portugueses. Um ano de 2007 que ficou muito aquém do prometido pelo Governo socialista sobre o qual o Chefe de Estado se limitou a fazer reparos nalgumas áreas e a passar ao lado de muitas outras áreas que puseram o país a marcar passo. Uma mensagem que soou a muito pouco, não deixou válidos auspícios e defraudou expectativas. Nem sabemos se foram muitos ou poucos os portugueses a ouvir o presidente neste “falar ao País”.
Com tanto vazio de conteúdo quando Portugal atravessa uma crise cada dia mais profunda, vendo-se os responsáveis pela governação às avessas e a tomarem decisões muitas das quais sem terem em atenção os reflexos negativos que caem sobre as populações, a mensagem ficou longe daquilo que seria importante abordar com firmeza. O Chefe de Estado falou com extrema prudência, rodeou tudo quanto pode, evitou levantar polémica ou criar hostilidades, optando por dar “nota positiva” ao Governo para que este pudesse passar de ano. Por defeito de profissão académica (Cavaco Silva é professor), terá seguido o princípio do “falso porreirismo” em que todos os alunos têm direito e passar de ano, mesmo com disciplinas cambadas ou chumbadas. Mensagens que visam satisfazer tudo e todos só desiludem.
Para quem ainda estava à espera de uma mensagem a falar de um “novo Portugal” decepcionou-se. As verdadeiras causas foram postas de lado e foram mais as observações simples do que as chamadas de atenção com firmeza. Nem a citação dos vencimentos faraónicos praticados por alguns gestores de bancos e empresas com tutela privada como pública vieram revelar algo de novo. Pelo contrário, o Chefe de Estado deixou passar políticas seguidas pelo Governo que têm sugado ao Orçamento do Estado muitos milhões. Como deixou passar os usos e abusos do Governo da República sobre os cortes financeiros à Madeira assim como as atitudes totalitárias contra os madeirenses. Atitudes que nos fazem recordar que o agora Chefe de Estado foi, para a Madeira, o pior Chefe de Governo da República que os madeirenses conheceram no pós 25 de Abril.
Portugal não é só Lisboa e o Prof. Cavaco Silva, enquanto Presidente da República, deve atender a todos os portugueses, estejam no Continente, nas Regiões Autónomas e nas Comunidades de emigrantes. É fastidioso ouvir um Presidente ou um governante da República falar dos portugueses e em nome dos portugueses quando não os conhecem, nunca os viram e nem sabem o que fazem pelo País. Durante o anterior regime o Chefe de Estado e o Presidente do Conselho de Ministros eram acusados de falarem em nome dos portugueses sem os conhecerem. Estava o País numa ditadura. Intolerável é que parecidos procedimentos surgem agora no regime democrático.
Portugal tem esta sina do fado que aceita os males como ironia do destino e fica bem alinhar pelo lado dos que fazem das derrotas eufóricas vitórias. O Chefe de Estado e o Primeiro Ministro de Portugal têm mostrado até agora serem “fadistas” em fado castiço e em fado gingão, em nada os diferencia da social democracia ao socialismo marxista. Vivem em sintonia: um faz e o outro aprova; um decreta e outro assina por baixo. Procedendo assim quase que seria dispensável haver um governo e um presidente. Uma só figura dava para governar o País e sempre se pouparia alguns milhões.
Portugal está a seguir por um caminho tortuoso e cheio de buracos. A governação socialista em 2007 foi notoriamente desastrosa. A “nota alta” dada pela condução da presidência europeia é manifestamente por delicadeza e simpatia. Não custa nada dar umas palmadinhas nas costas ao “pequenino” Portugal, já que os seus governantes fizeram o que os grandes da Europa mandaram fazer e tiveram verbas à disposição para darem boas recepções. Foi tão em grande a presidência portuguesa da União Europeia que o culminar, ou seja, a passagem de testemunho para Eslovénia não podia ser mais perfeita: o velho Cais da Cidade do Funchal, com pouca gente a assistir, uns passos de dança nómada e o brilho fingidor nos olhos dos intervenientes. Foi a cena do ano Europeu. Para toda aquela “palhaçada” não precisavam vir para o cais da Cidade do Funchal. Faziam em Lisboa e de certeza teriam muito mais gente a assistir.
Portugal afunda-se e não se aprofunda no que de mais precisam os portugueses. Se o Governo falha o Presidente da República dá-lhe a cobertura necessária. Governo e Chefe de Estado parecem ignorar o crescimento da pobreza que se alastra, o meio milhão de desempregados, o crescente aumento do número de empresas na falência e aparecimento de novos bairros de lata. Na sua mensagem de ano novo o Prof. Cavaco Silva preferiu falar dos vencimentos chorudos dalguns gestores esquecendo os salários de miséria que são praticados no País.
Uma oportunidade perdida na mensagem de ano novo. “Falar ao País” sem nada ou pouco dizer, a fazer-se repetir, é pactuar com o deixar-se ficar. Ainda ficam surpreendidos por o Governo Regional e os madeirenses discordarem da actuação do poder central. É o fado português!

03.01.2008

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