quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Identidade Madeirense

Quando hoje vemos as estatísticas da União Europeia dizerem que Portugal foi o Estado membro que menos cresceu, quedando-se, há vários anos, como dos países mais pobres da Comunidade Europeia, devia ser orgulho português saber-se que a Madeira foi das regiões da ultraperiferia europeia que mais evoluiu e que melhor soube investir os fundos comunitários



Não há, como se sabe, um ainda generalizado sentimento independentista na Madeira. Mas há, como se sabe (…) um verdadeiro sentimento de revolta contra os governos da República que, de tempos em tempos, agravam a prepotência e desconsideração com que sempre agem para com os madeirenses. Entre o Continente e as Regiões Autónomas (ilhas no Atlântico) existem diferenças que devem ser assumidas com identificações próprias e atitudes distintas.
O ser português, por si só, pouco representa num universo físico e social com peculiaridades próprias. Está provado que Portugal continental (governo) fracassa sempre que entende governar o “todo” nacional como se o todo fosse igual: a independência dos ex-territórios portugueses no continente africano é disso exemplo. O governo português falhou na governação das suas ex-colónias por entender que a “letra de lei” no Continente tinha de ter a mesma “força de lei” nos territórios situados em áreas geográficas diferentes e a milhares de milhas de Lisboa.
A Madeira não é a “mesma moeda” que o Continente, nem o Funchal é Lisboa. Entenda-se. A própria evolução sócio-política madeirense deve ser equacionada e perspectivada em concordância com uma mentalidade que pode, em muitos aspectos, não perfilhar com a mentalidade de quem nasceu e vive no Continente. Mais de 90 por cento dos portugueses do Continente não conhecem a Madeira e aqueles continentais que conhecem a ilha, na sua grande maioria, foi por curtos períodos de férias.
Até a consagração da Autonomia, por via da mudança do regime em 1974, eram muito poucos os continentais que residiam ou que manifestavam desejo em trabalhar e fixar-se na Madeira. Os próprios madeirenses, sempre que surgia oportunidade de emigrar, pegavam nas malas e embarcavam nos navios que os levavam para países então quase desconhecidos como África do Sul, Venezuela, Austrália e outros, numa situação vista como de “fuga à miséria”.
Da ilha que os continentais dantes rejeitavam – vir para a Madeira – passou a ser uma Região com muito interesse em todos os capítulos. O número de continentais a trabalhar e a residir na Madeira e no Porto Santo cresceu em flecha nos últimos vinte anos. E quem quiser pesquisar o porquê desta “invasão continental” na Madeira vai rapidamente concluir que o que terá pesado (e assim continua) assenta na qualidade de vida, no bem-estar social, na segurança, na estabilidade governamental e, nos últimos anos, no europeísmo que os madeirenses souberam conquistar.
A Madeira - do ponto em que então se encontrava ao ponto onde hoje se encontra – foi a parcela do território português que mais se desenvolveu nos últimos trinta anos. E mais a Madeira não evoluiu porque foi bloqueada, nalgumas iniciativas e projectos de desenvolvimento, pelo governo da República, em Lisboa. Quando hoje vemos as estatísticas da União Europeia dizerem que Portugal foi o Estado membro que menos cresceu, quedando-se, há vários anos, como dos países mais pobres da Comunidade Europeia, devia ser orgulho português saber-se que a Madeira foi das regiões da ultraperiferia europeia que mais evoluiu e que melhor soube investir os fundos comunitários.
O simples equacionar destes dois dados – Portugal pouco evoluiu; Madeira a região que mais evoluiu – transpondo-se para outros patamares concluiríamos que a Madeira teve maior desenvolvimento que Portugal. Aquilo que devia ser orgulho para os governos de Portugal torna-se num pesadelo para os governantes em Lisboa ao ponto de tudo fazerem para que a Madeira fique asfixiada e impedida de manter o seu índice internacional de desenvolvimento. Só por desconhecimento ou pobreza intelectual estas questões são empurradas para o generalismo da independência como se está fosse uma tirania para Portugal e um empobrecimento para os madeirenses.
O que sempre dizemos e defendemos é que quem deve decidir os destinos da Madeira devem ser os madeirenses. Quem cá nasceu, quem cá vive, quem cá trabalha, quem aqui nasceu e daqui partiu para outros países (comunidades). Sempre defendemos a criação de novas Nações, novos Estados, dentro dos direitos e deveres da democracia.
Vejo, também, que o único modo de aproximar e alcançar ou não esta meta reside num Referendo, cujo resultado deve ser soberano. A esmagadora maioria dos madeirenses é quem deve decidir o futuro da Madeira. A própria história deu-nos imensos exemplos durante o século XX, nomeadamente após terminada a II guerra mundial, finais dos anos 40, com a “criação” de novas nações. Num mundo cada dia mais global a medição dos países deixou de ser feita pelo tamanho e sua localização. Todos são países do mundo em mudanças!

01.02.2008

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