quarta-feira, 27 de novembro de 2002

Perigos da impunidade

Gosto da paz, mas não de uma paz fingida. Admiro os que defendem os indefesos mas arrepia-me ver utilizar-se povos sem forças para reagir a troco de combater o inimigo que se encontra algures. Sempre ouvi dizer que quando a esmola é muita o povo desconfia e a prova está nos anúncios da solidariedade à tangente com o perigo que mora mesmo ao lado. Mais grave ainda é tolerar a impunidade quando os actos cometidos merecem punição.

Nos últimos tempos o mundo está a ser metralhado com o que há de mais cruel e desumano. São atentados que causam milhares de mortes onde nunca ninguém suspeitaria que alguma vez viesse a acontecer (EUA, Bali, Afeganistão, Israel, Palestina, Moscovo e por ai fora), é o combate ao terror da droga, ao branqueamento de capitais, à prisão de agentes policiais, as fugas ao fisco, ao descrédito que está a pôr o futebol em Portugal de pés para a cova e a impunidade que parece impor regras às autoridades quando devia ser ao contrário.

Que mundo e que país são estes onde vivo? Onde o delito é ou não punido de acordo com uma longa justificação sem nada para justificar. Não sou pessimista nem me deixo facilmente levar pela onda da fácil difusão de factos considerados graves, das bem urdidas afirmações, mas tenho enormes dificuldades de ficar de braços cruzados ante uma enorme vitrina de casos de atentados que ocupam as primeiras páginas dos jornais em todo o mundo.

Estão a pegar nas coisas sérias como quem pega numa bola de trapos e resolve dar um chuto para longe. A forma como está a ser tratada a questão “Casa Pia”, em Lisboa, mais parece que naquele centenário estabelecimento funcionava um santuário de “violação de menores” com a complacência de toda a gente. Mete-se no mesmo saco toda uma instituição e indirectamente os muitos milhares de jovens que ali passaram. Decide-se e esfrega-se as mãos de contente quando se consegue apanhar todos os pingos que possam dar notícia ainda mais negra, abrem-se os microfones à denúncia e faça-se acusações em directo, insista-se nas interrogações ao Primeiro-Ministro sobre o escaldante tema e obrigue-se o presidente da República a dizer o que sabe e não sabe.

É da crueldade que as pessoas gostam (!) e quanto mais forte e agressiva for a notícia mais as pessoas se deliciam, ficam com a deixa para falar durante todo o dia. A desgraça dos outros ajuda a apagar os nossos males, parece ser este um refrão do fado português. Gosta o povo português do desalinho, do politicamente incorrecto, porque assim tem tempo para fazer o essencial e saber quanto baste. Aguenta-se enquanto se pode, depois quem vier atrás que feche a porta.

Ouvi o Dr. Alberto João Jardim dizer, vai para catorze anos, que com o sistema de ensino que Portugal tem nunca iremos a lado nenhum. Mais tarde outros políticos apanharam a boleia na tentativa de tirarem dividendos partidários. Os anos foram passando e o Estado português foi cada vez mais investindo milhões de contos na Educação, abrindo mais escolas e criando melhores infra-estruturas para professores e alunos. O resultado de todo isto é dado pela OCDE num relatório internacional divulgado esta semana: O ensino em Portugal é dos piores a nível de eficácia.

Sendo a educação peça basilar para a formação dos jovens, ao apresentar tão drásticos resultados, será que se pode esperar muito mais daquilo que nos é apresentado diariamente? Que ensino, que professor, que escola? Quem está em causa e porquê? Aquilo que disse nos finais dos anos 80 o presidente do governo Regional da Madeira terá sido desconsiderado mas o “mesmo” que vem agora no relatório da OCDE dizer, custa a pôr em causa.

Há quem tenha dificuldades em enfrentar os factos, prefira ignorar e viver das aparências, das luzes artificiais, mas tudo acaba por vir ao de cima, muitas das vezes com uma carga de tormentas que podiam ser evitada se a intervenção e correcção tivessem sido feitas na altura em que foram detectados os primeiros sintomas negativos.

As crises não vêm do nada, as guerras não acontecem por acaso, tudo tem resposta e devem ser consideradas todas as razões. O que se está a passar em todo o mundo não é um acidente de percurso. Grave é quando a causa está à nossa frente e não vemos ou não somos capazes de ver!

domingo, 10 de novembro de 2002

Ingénua esperança dos “fora de tempo”

Passam a vida a contestar. Alguns têm tiques decorativos e de fachada outros colocam-se ao lado dos que vivem “fora de tempo” na ingénua esperança de que, virando do avesso, vão conseguir resolver todos os problemas. Os paladinos do inconciliável sentem dificuldades em viver numa sociedade responsável, esgotam as suas energias nas ilusões subalternizadas e mantém-se enfiados em lutas frenéticas ora pressurosamente encavalitados em esquerdas e direitas ora perdidos nas próprias causas que defendem.

Não há dúvida que os derrotados tentam sempre encontrar desculpa para as suas falhas, são incapazes de ver que o mal feito ficou a dever-se à sua incapacidade. No desporto, raro é o jogo onde o derrotado não atira as culpas para os árbitros ou para o sistema (que ninguém sabe explicar o que é!). Na política, o combate é mais vasto e talvez por isso também mais aberrante, por vezes bárbaro e estúpido, onde o achincalhar toma, por vezes, atalhos da pior espécie. Nunca percebemos bem porque razão é que os políticos na oposição recorrem às mais insolentes verborreias para dizer que o governo está a proceder mal nisto e naquilo.

Diga-se, sem rodeios, onde está o governo a proceder mal, aponte-se os defeitos, ponha-se a claro todas as dúvidas, fundamente-se a tomada de posição para que os cidadãos não fiquem com essa terrível ideia de que os “políticos são uns oportunistas”, “não fazem nada”, “são uns incompetentes”, “uns travestidos”, “só sabem dizer mal uns dos outros”, são todas observações que se ouvem no dia a dia. A bancada parlamentar do PS na Assembleia da República, formada por muitos ex-Ministros e secretários de Estado do governo anterior, é o mais vergonhoso modelo de toda esta presunção. Em todas as suas intervenções atiram-se contra o actual governo acusando-o de uma má política nas finanças, no ensino, na saúde, na ciência, no planeamento, no desporto e em quase tudo que está sob a tutela do governo.

Ora, o actual governo (PSD/PP) ainda não teve tempo de fazer quase nada, de pôr em pratica com resultados evidentes as suas propostas, porque em cerca de seis meses de governação tem estando envolvido em tapar megalómanos “buracos financeiros e de má gestão” do governo PS, tem sido chamado a intervir, dentro e fora do País, nomeadamente aos centros de decisão em Bruxelas, obrigado que está a solucionar graves e complexas situações em sectores vitais da economia portuguesa que o governo socialista deixou num caos sem precedentes.

De todos os quadrantes vem a preocupação sobre o inconcebível esvaziamento em que caiu Portugal nos últimos oito anos, perdendo conceitos básicos que eram trunfos da nossa reputação histórica, e vêm agora os socialistas dizer, com a santa ingenuidade de

uma esperança que destruíram enquanto estivem no governo, que o governo PSD/PP está a contrariar o rumo que o governo PS tinha encetado. Nem querem aceitar as

críticas que são feitas pela União Europeia ao nosso País nem, ao menos, querem empenhar-se na resolução dos graves problemas que criaram.

O escândalo que está a passar-se com as forças policiais vem, em grande parte, da má política seguida pelo governo PS. O mesmo acontece com a Justiça, onde os anteriores ministros socialistas nunca puseram em prática as medidas tantas vezes anunciadas. Igual vergonha está a passar-se com o Europeu 2004, onde o governo socialista gastou milhões de euros para trazer para Portugal o campeonato mas não fez as contas dos custos que acarretaria para os portugueses e agora é o que se vê. O fim do juro bonificado foi por culpa do governo PS e não do governo PSD/PP. O governo socialista prometera pagar a diferença da bonificação da taxa aos bancos e não cumpriu na totalidade ao ponto dalgumas instituições de crédito serem firmes a informar o actual governo, mal tomou posse, ou recebiam a diferença da taxa bonificada, cuja dívida do governo já ultrapassava os cem milhões de contos, ou deixavam de dar bonificação. Foi o que aconteceu.

Mas tudo isto seria porventura encarado de outra forma se os culpados fossem politicamente educados, honestos. A leviandade tem os seus limites e não foi por “obra do destino” que a maioria dos portugueses pôs o PS fora do governo. Mais grave ainda é estarmos à assistir diariamente a uma doentia e ingénua esperança da oposição na Assembleia da República acerca do futuro do País sob o modelo socialista e comunista. Nem lampejos de esperança, acreditem!