quinta-feira, 31 de agosto de 2006

Portugal, “província” de Espanha

Há uns anos, a ainda Comunidade Económica Europeia - posteriormente tomou a designação de União Europeia - fez publicar um mapa dos 15 países que integravam a Comunidade. Semanas depois do mapa territorial ter sido distribuído pelos Estados membros verificou-se que o mapa de Portugal não estava inteiramente correcto. A Madeira era indicada no mapa como sendo região insular de Espanha, tal como são as ilhas Canárias.
Os responsáveis pela elaboração do novo mapa comunitário europeu, técnicos de gabinete seleccionados, exercendo funções no organismo máximo da Comissão Europeia, revelaram um desconhecimento inconcebível sobre os países e regiões. A ignorância foi, meses depois, rectificada, colocando-se a Madeira e Porto Santo no mapa de Portugal, ligação que vem desde 1418. Antes dos portugueses, por cá passaram os navegadores genoveses (italianos) e possivelmente outros povos, mas não consta que alguma vez tenham estado por estas ilhas navegadores espanhóis.
A Espanha sempre esteve muito próxima de Portugal. Os espanhóis sempre cobiçaram as terras lusitanas e durante cerca de 60 anos dominaram e governaram como bem entenderam o território português, Continente, Madeira, Açores e as colónias além mar. Foi em 1640 que Portugal conseguiu libertar-se do jugo espanhol.
As aproximações entre a Espanha e Portugal nunca deixaram de existir e com alguma cumplicidade política e económica. Durante a guerra civil em Espanha, nos anos 30 do século XX, foram muitos os espanhóis que se refugiaram em Portugal, inclusive a família e o actual Rei de Espanha. No anterior regime político português e espanhol, os chefes de governo de ambos os países eram amigos pessoais, Salazar e Franco.
Mais recentemente, as ligações entre os dois países têm vindo a tomar outros e mais íntimos rumos, em todas as áreas. Hoje, com alguma perplexidade, não custa nada ouvir-se dizer que Portugal é mais uma província de Espanha, tendo em atenção o provincianismo que grassa no Continente português submisso aos interesses espanhóis.
O governo da República portuguesa tem procedimentos que nos fazem lembrar a figura das regiões espanholas perante o poder central. O governo português é inclusive menos actuante, menos ambicioso e menos reivindicativo que os governos autónomos das regiões de Espanha, desde Bilbao a Barcelona.
A economia portuguesa actual é um prolongamento da economia espanhola. Os montes alentejanos e as grandes herdades em território continental português estão a ser comprados pelos espanhóis, assim como grande quantidade de património arquitectónico em avenidas da capital. A banca espanhola é quem dita leis na actividade bancária que opera em Portugal (Banco Santander, Banco Popular, Banco Bilbau Vizcaya Argentaria, etc.), o comércio espanhol (El Corte Inglés, Zara e outras marcas) está a crescer no Continente, na Madeira e Açores, como se isto fosse, entre aspas, uma província de Espanha.
A soma financeira de todos os bancos portugueses não atinge o montante financeiro de um dos maiores bancos espanhóis. O poder de compra - incluindo salários e regalias sociais usufruídas pela actividade profissional - é inferior no nosso País. Os tão falados combustíveis (gasolinas, gasóleos, etc.) são muito mais baratos em Espanha ao ponto de os portugueses que vivem próximo da fronteira irem abastecer os seus carros às estações de serviço espanholas e até as parturientes que vivem perto da raia já se deslocalizam para as clínicas em Espanha.
A habitação em Espanha é mais económica, tal como são os produtos de primeira necessidade (roupa, calçado, produtos alimentares, veículos e outros). O nível de vida em Espanha é superior ao de Portugal, em todos as áreas. Centenas de jovens estudantes portugueses estão a estudar nas universidades espanholas, onde mais facilmente têm acesso a todos os cursos e graus de licenciatura, nomeadamente na medicina.
Podíamos continuar a enumerar um sem número de outras diferenças que fazem ver um Portugal “província” de Espanha, sem melindres de nacionalidade ou de patriotismos. As diferenças são muitas e muito grandes. Na área política, por exemplo, não estamos a ver o primeiro Ministro de Espanha, Sapateiro, a correr pelas promanadas de Madrid e muito menos num país estrangeiro, como faz o actual primeiro Ministro de Portugal, Sócrates, a correr em Luanda e no calçado do Rio de Janeiro. Estas diferenças dão-nos imagens de quem é quem.
Uma coisa é certa. Os espanhóis nunca tiveram tanto domínio sobre a economia e as finanças portuguesas como têm agora. Nunca foram donos de tantas terras do Continente português como no presente e com tendência para serem cada vez mais os novos latifundiários em Portugal. Sem esquecer, com todas as letras, que o único prémio Nobel da Literatura, José Saramago, nascido em Portugal, foi viver para a ilha espanhola de Lanzarote.
Não sabemos se esta crescente cobiça dos espanhóis pela compra de terras portuguesas tem a ver com a globalização ou com a tendência para as “desmoralizações”. Nos últimos anos, a balança de transacções comerciais e de investimentos entre os dois países foi altamente positiva para Espanha e negativa para Portugal. A dependência nunca foi tão evidente. Será que ainda vamos assistir à desmoralização do Governo de Lisboa para Madrid?

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