quinta-feira, 2 de março de 2006

Os algozes da desgraça

Custa-nos ouvir tanta pretensa sabedoria sobre tanta coisa que se revela às catadupas, seja para o bem como para o mal, mas particularmente para a desgraça. Sempre que ocorre qualquer tempestade é certo que alguns estragos vão acontecer, seja por via de um tornado, maremoto, ou queda abrupta de chuvas abundantes ou ventos ciclónicos, os estragos vão sempre aparecer, seja na meia encosta, nos pontos mais altos ou na beira-mar, haverá sempre marcas da passagem das tempestades.
O que dizem certas “almas” é como chover no molhado, é como transpirar nos dias de muito calor. A Marina do Lugar de Baixo tem sido fustigada por fortes temporais mas nada que nos faça esquecer outros grandes ou maiores temporais que já aconteceram na Região e noutras partes do mundo. Vimos pontes novas serem abatidas por temporais, vimos ribeiras fundas a transbordar de água das chuvas, vimos a Avenida do Mar num mar de lama, vimos estradas derrubadas pelas tempestades, vimos casas a serem radicalmente destruídas pela força dos ventos e da chuva, vimos barcos a irem ao fundo devido ao mar revolto.
A Marina do Lugar de Baixo não foi construída para ser destruída pelas fortes ondulações do mar, como não foram construídas grandes cidades americanas e asiáticas e europeias. O local da construção não deixa de ser analisado e cientificamente estudado antes que a obra seja feita. A engenharia não trabalha com os sinais do tempo nem podem deixar de estudar um determinado lugar só porque ali sempre houve tempestades que deixaram grandes estragos. Se assim fosse, ainda andávamos de tanga, de caravelas, a partir pedra e sempre sobre a terra e não sob a terra. Os túneis não existiriam, teríamos que continuar a circular à volta das montanhas, por caminhos cheios de abismos e a viver como quando chegamos à terra.
A Marina do Lugar de Baixo já estava eleita como lugar de “demónios” antes de ser construída. Os bestiais do surf e da praia privada não queriam que o governo fizesse alterações no Lugar de Baixo, como no Jardim do Mar, na Calheta, como em Santa Cruz, Machico e no Caniçal. Não queriam que o Porto Santo deixasse de ter a imagem do “burriquito” e que Santana fosse cidade e dotada com um dos mais culturais parques temáticas do país.
São os mesmos que não querem um passeio público do Lido a Câmara de Lobos, que contestaram as alterações na vila do Porto Moniz (por causa do privado parque de campismo) e que gostariam de continuar ver uma Madeira do tempo da colonia e dos governadores nomeados por Lisboa. Haverá sempre quem não queira reconhecer a realidade. A moda dos últimos tempos é ter a arrogante sabedoria (pacóvia) de comentar, em tom de crítica saloia, as tempestades que infelizmente têm fustigado a Marina do Lugar de Baixo. Enquanto lá estiveram dezenas de embarcações de luxo, que dali partiram recentemente num regata mundial cujo destino à Martinica, poucos foram à Marina do Lugar de Baixo ver o extraordinário espectáculo, de diferentes nacionalidades, que ajudaram a dar vida e visibilidade à pacatez do lugar, bem como da Ponta do Sol e da Ribeira Brava.
A comunicação social (imprensa, rádio e televisão) deu pouca relevãncia à presença daquela riquíssima classe de embarcações de recreio.
No entanto, bastou uma horas de forte temporal com as ondas a invadirem a Marina do Lugar de Baixo para que toda a comunicação social posicionasse jornalistas, fotógrafos e material de televisão a captar cada onda que chegada e outra que partia. O jornalismo da desgraça revela-se nestes momentos, de uma certa apetência mórbida, (tal qual com o a do abutre), de pegar nas pedras do calhau revolto e atirá-las contra a obra feita.
Dizem-nos (quem conhece bem marinas e esteve nos estudos de toda a costa) que a Marina do Lugar de Baixo dentro de poucos anos será das melhores marinas da região e das mais concorridas do país, tal como virá a ser a da vila da Calheta. Não há nada que não possa ser melhorado nem rectificado. Aqueles se alimentam da fome da desgraça também engolem sapos, vão ao fundo, e estão irremediavelmente de passagem. A Madeira e a Marina do Lugar de Baixo continuam e vão continuar a desenvolver-se com pilares bem firmes.

Sem comentários: