quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006

Kadhafi, Independência e Maomé

É bom olhar para o passado, para o muito que foi feito e continua a fazer-se, mas a Madeira tem que ir mais além, os madeirenses querem ter mais cidadania europeia, querem melhor informação sobre as grandes causas, já começam a ficar fartos dos mexericos, das notícias rescaldadas, de não terem uma comunicação mais culta e mais adulta.



Quando a 27 de Fevereiro de 1978, Kadhafi, presidente da Líbia, apresentou uma proposta para a independência da Madeira, a Presidência da República Portuguesa (Ramalho Eanes, era presidente), a Assembleia da República (Vasco da Gama Fernandes, do PS, era o presidente) ) e o Governo (2.º governo constitucional, resultante do acordo de incidência governamental e parlamentar entre o PS e o CDS), ) repudiaram o pedido sem mais explicações.
Um silêncio sem resposta mas bem explícito. Houve quem se apressasse a escrever na imprensa continental que a “A Madeira é de Portugal”. Dava a entender que a Madeira não era portuguesa, não era território nacional, não tinha os mesmos direitos que tinha a Nação portuguesa, era apenas, bem sublinhado, “de Portugal”.
Nunca ficámos a saber em que pilares se assentaria tal independência da Madeira, nem o que eventualmente poderia pretender o líder da Líbia, para além do anuncio público internacional. Nunca foi realizado um Referendo sobre a independência da Madeira.
“A Madeira é de Portugal”, esta afirmação absolutista é como quem diz que aquele pedaço de terreno é meu, aquelas pessoas que vivem naquele terreno são meus capatazes ou meus refens, o que dá naquelas terras é da minha propriedade, posso fazer o que bem entender porque tudo aquilo é meu, está escrito e registado em meu nome.
Não se viu na altura nada escrito, nem o Governo, a Assembleia da República nem a Presidência da República a afirmar que a Madeira fazia parte integrante de Portugal e como tal tinha todas as mais valias, direitos, atribuições e deveres consignados todos as regiões do Continente.
Kadhafi, polémico como sempre, como também sempre foi pela liberdade dos povos independentemente da forma de pensar e agir, do modo como via o mundo Árabe e o mundo Ocidental, viu em 1978 que a Madeira devia autodeterminar-se, obter a independência, porque tinha mais e melhores condições que outras ilhas e territórios a quem Portugal reconheceu prontamente, sem prévias e sensatas condições, a independência às ilhas de Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, bem como à Guiné-Bissau. De Angola, Moçambique e do processo que levou Timor à independência tem muitos outros contornos políticos, económicos, partidários, ideológicos e muito drama que se tenta encobrir.
Ninguém poderá dizer, em absoluto, se a Madeira fosse independente estaria hoje num outro patamar bem mais desenvolvido. Mas oiço muitos portugueses do Continente, e estrangeiros, elogiar o desenvolvimento que a Madeira conseguiu depois de ter alcançado a ainda limitada Autonomia. Conheço países com melhores meios naturais para criarem riqueza e atingirem um maior progresso que estão parados no tempo, a léguas de distância do desenvolvimento que a Madeira já alcançou, em tão poucos anos. Três décadas pouco representa em termos de história.
Aquilo que me apercebo é de que a Madeira já está noutra fase da história, já está a caminho de outras vitórias, em busca de outras conquistas. É bom olhar para o passado, para o muito que foi feito e continua a fazer-se, mas a Madeira tem que ir mais além, os madeirenses querem ter mais cidadania europeia, querem melhor informação sobre as grandes causas, já começam a ficar fartos dos mexericos, das notícias rescaldadas, de não terem uma comunicação mais culta e mais adulta. De ainda não haver o debate sério sobre a Madeira do futuro porque os quês e porquês, as opiniões avulsas, à laia de conversa de café ou de fim de semana de larachas que nada trazem de novo.
Recordo as palavras daquela jovem estudante continental que, com colegas e professores, assistiu a uma “aula” dada pelo Dr. Alberto João Jardim. “Aquilo que dizem, no Continente, do senhor presidente do Governo Regional é completamente diferente; a Madeira está muito desenvolvido e ele é um pessoa extraordinária”.
Podíamos continuar a citar tantas outras opiniões semelhantes. Isto faz-me lembrar também o muito que tem sido dito nas últimas semanas sobre as caricaturas, incluindo a de Muhammad (Maomé). Não conheço, em profundidade, a história do povo Árabe mas conheço alguma através, sobretudo, das leituras feitas ao longo dos anos. É inteiramente falso dar uma imagem de um povo árabe, das mil e uma noites, de terroristas, seitas de assassinos, de martírios e do paraíso prometido depois de cometerem um crime. O povo árabe tem grandes virtudes que os ocidentais desconhecem, e antes de julgarmos alguém seja quem for, devemos de averiguar as causas, cultura, razões históricas e religiosas.a Tudo tem uma origem, um porquê.

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