quinta-feira, 31 de março de 2005

Dualidades do líder do PP

A aliança PSD/PP em Portugal continental não obriga a sua aceitação pelos sociais democratas e pelos populares madeirenses, mesmo que ambos os partidos sejam, em aliança, governo da República. No governo ambos os partidos estão irmanados numa boa governação, numa única intervenção política governamental, valorizando e defendendo as causas nobres do país, do melhor para Portugal, pondo de lado a questão puramente partidária.
Enquanto assunção de uma política comum para o país, PSD e PP não devem, sob compromisso que se admite de honra, violar o que os uniu num projecto comum para serem governo. De resto, não faria sentido uma aliança entre dois partidos ser alvo de manifestações tipo oposição de um partido em relação a outro. Ambos os partidos têm a sua conduta política própria, enquanto acção partidária e fora da área governamental, mas perdem legitimidade quando passam a pôr em causa o objectivo da aliança.
Imagine-se que o PSD passava a atacar a política partidária do PP ou que este partido passasse a atacar o PSD. Seria o desnorte, o caos, a mentira da aliança. Mas já é legítimo que o PP ou o PSD, dentro de uma acção puramente partidária, que podem ser comícios, campanhas, fóruns, congressos e outras coisas mais, tenham posturas completamente antagónicas sobre determinadas matérias. Aqui é a voz e o ideal partidário a funcionar, embora dentro de princípios do combate político partidário puramente ideológico, de lutas por ideais, e não como intervenção de enxovalhar o adversário político.
A grande interrogação que se faz (e que a opinião pública não deixa de fazer) é como é possível uma aliança PSD/PP em Portugal continental e um virar as costas na Madeira? Se os partidos são os mesmos, os ideais são os mesmos, apenas as pessoas são outras. Como se pode interpretar uma aliança que tem unanimidade numa parte do país e no governo da República e seja desunida, partidariamente oposição total, noutra parte do país. Será que a aliança PSD/PP para formar governo não teve o aval do PP e do PSD Madeira? Será que os dirigentes do PP Madeira estão contra os seus colegas de partido no continente, entre os quais Paulo Portas, por terem aceitado fazer parte do governo? Será que a comissão política do PP Madeira votou contra a decisão do PP nacional aquando da formação da aliança com o PSD?
São manifestas observações que deixam qualquer cidadão na interrogação. Partindo do princípio que o PP Madeira deu a sua anuência à aliança com o PSD e que o governo da República abrange continente e regiões autónomas, como explicar a duplicidade de acção, o antagonismo, a postura de oposição do PP para com o PSD na região? O líder do PP Madeira, José Manuel Rodrigues, tem sido um tenaz adversário do PSD, com ataques ferrenhos, como se o governo da região fosse um adversário a abater. Faça política pela política partidária, por aquilo que entende ser do melhor interesse para o seu partido, na busca incessante de levar aos eleitores uma mensagem clara e concisa, ao mesmo tempo cativante, mas já é descabido incentivar, mover e tentar desviar a opinião pública contra o governo PSD na Madeira.



Evidentemente que não quereríamos uma atitude de placidez meramente contemplativa do PP para o PSD na Madeira. Seria partidariamente desastroso. Mas ver e ouvir o PP fazer o trabalho de puro desgaste de oposição contra o PSD e o governo Regional, alinhando ao lado dos aparentemente bucólicos comunistas e socialistas, pode ser entendido como se o PP Madeira não só tenha uma autonomia total em relação ao PP nacional, como não tem qualquer respeito ou obediência ao partido a nível nacional. Uma postura completamente contrária à que tem o PSD Madeira para com o PSD nacional. Os sociais democratas madeirenses não abdicam da sua autonomia em relação ao partido no continente mas traçam fileiras e defendem o partido a nível nacional em todos os aspectos, mesmo quando possa surgir discordâncias pontuais. A não ser em casos extremos o que nunca aconteceu.
E o líder do PP Madeira, José Manuel Rodrigues, foi eleito no último congresso para um alto cargo no partido, o que ainda mais o vincula às decisões tomadas a nível nacional. A não ser que esteja a fazer um discurso no continente e outro na Madeira, aplaudindo lá as decisões do seu partido e comportando-se cá como um opositor combatente e rabugento ao governo e ao partido do PSD. A ser assim, fica-lhe mal tal dualidade, revelando um estado de espírito nada abonatório, mesmo quando se sabe que o seu alinhamento à esquerda pouca ou nenhuma influência terá nos próximos actos eleitorais.

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