quinta-feira, 24 de março de 2005

Amaral do Céu ao Purgatório

Se há actos na vida que mais me fascinam são os que trazem o reconhecimento do erro. Dizer, errei. Dou a mão à palmatória. Acho esta atitude um acto nobre, sincero e humano. Errar é próprio do homem. Só não erra quem nada faz. Mas há erros e erros. Erros que podem provocam danos irreparáveis. Todos os grandes homens erraram. O erro não é um mistério nem ninguém poderá dizer que nunca errou.
Agora, já me custa a perceber certos tipos de erros, particularmente quando têm a ver com a postura das pessoas perante a defesa de princípios marcadamente distintos dos demais. A atitude tomada pelo Prof. Freitas do Amaral, fundador do CDS/PP que, cerca de 30 anos depois, se alia ao Partido Socialista e aceita ocupar um cargo de ministro num governo socialista, é um erro inacreditável. Este não é um erro primário, é um desvio ideológico brutal como de andássemos a brincar aos partidos e aos políticos.
O que fez o Prof. Freitas do Amaral é condenável sob o ponto de vista ético, partidário e ideológico mas sobretudo pelo impacto negativo que deixou passar para todas aquelas pessoas que sempre o viram como fundador do CDS, devoto de uma direita moderada, seguidor dos princípios cristãos da igreja católica e contra tudo quanto se movimentava à esquerda.
O Partido Socialista foi fundado, entre outros, pelo Dr. Mário Soares que, por sua vez, juntamente com o seu amigo kamarada Dr. Alvado Cunhal, fundaram o actual Partido Comunista.
O Partido Socialista português é de uma esquerda bem à esquerda. O CDS do Prof. Freitas do Amaral era um partido à direita, bem à direita. Foram e são extremos. O Partido mais perto do PCP é o PS. O Partido mais próximo do CDS (PP) é o PSD, que, aliás, estiveram ambos (CDS/PP e PSD) no Governo da República.
A questão que leva os portugueses de boa fé a ficarem estupefactos é pelo facto de não encontrarem explicação para um fundador de um Partido de direita (CDS), que durante muitos anos andou a “pregar a doutrina da direita”, combatendo a ideologia socialista e de toda a esquerda, vir a aderir ao PS por troca com o cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros. Tudo leva a crer que foi um negócio, foi!.
Face a esta realidade, não me surpreendeu o facto da actual direcção do CDS/PP mandar pela porta fora da sede tudo quanto dizia respeito ao Prof. Freitas do Amaral. Foi (e com todo o sentido) apeado do Partido que fundou (CDS) como do Partido Popular Europeu (PPE) a que pertencia.
Estranho também foi o silêncio que o PS fez sobre esta questão, sobretudo da parte daqueles militantes que certamente também ouviram ataques do Prof. Freitas do Amaral contra o PS e seus dirigentes, incluindo o Dr. Mário Soares.
A imagem que fica é de que há políticos que não são dignos de estarem num Estado democrático transparente, de respeito pelos valores e pessoas a quem, desde a primeira hora, deram a conhecer o que era a direita (CDS), contra todos os princípios do socialismo-comunismo. Partidariamente, o Prof. Freitas do Amaral a deu um duro golpe no partido que o próprio fundou a troco de um cargo no Governo socialista sem se importar minimamente com o mal estar que deixa entre aqueles eleitores que sempre o viram e consideraram como uma referência da direita portuguesa e uma pessoa de bem em matéria de defesa dos princípios da ética e da moral.
É um jogador, como alguém dizia. Um “santo-diabo” que andou durante anos a “enganar” milhares de pessoas que acreditavam naquilo que dizia., que aderiram ao CDS , que ficaram agarrados à democracia cristão que o Prof. Freitas do Amaral dizia defender, quando afinal tudo era mentira, vindo a colocar tudo em xeque com o escândalo que representa a sua adesão ao PS. Nem faz sentido dizer que aceitou ser ministro no Governo PS mas não se filiou no PS. Até parece que o PS não tinha, entre os seus próprios militantes, ninguém com capacidade de assumir uma pasta tão importante como é a Pasta dos Negócios Estrangeiros. Também não faz sentido que a personalidade encontrada para ocupar tal cargo, seja alguém que tenha comparado o Presidente dos Estados Unidos da América a ditadores conhecidos e se tenha sujeitado ao vexame de, no Parlamento, ter sido confrontado com a verdade dos seus depoimentos, antes tão reiteradamente desmentidos.
O que aí vem é ainda muito mais estranho e preocupante. É ver um Governo PS, que do programa que apresentou pouco ou nada difere dos anteriores governos socialistas, com decalques onde já não há espaço para levar por diante iniciativas válidas e actuais.
Este Governo PS é uma tenda de empregos, de assalariados, sem projecto inovador, distante das grandes questões europeias e com uma estrutura governamental quadrada.
Se o Prof. Freitas do Amaral foi a “bomba” que causou espanto não só em Portugal como no estrangeiro, não se fique com a ideia que o Governo não tem outros rostos que pouco ou nada sabem o que têm de fazer. É o “porreirismo” dos governos socialistas que nunca se sabe onde poderá parar.

Apesar do contexto pouco animador, desejo a todos uma Santa Páscoa.

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