quinta-feira, 9 de setembro de 2004

Os servos da República

Eu também se estivesse na Madeira a mando do poder da República e movido por interesses (que ainda terei que ocultar), não cederia aos interesses da Assembleia Regional nem do Governo da Região Autónoma. Procederia tal como têm vindo a proceder (alguns) mobilizados do poder da República para a Madeira.
À boa maneira do colonialismo, do mando e posso, assumia as minhas funções como chefe de “tabanca”que obedece cegamente ao poder por quem foi nomeado, mesmo que soubesse que podia, mesmo sem ter poder próprio, proceder de outra maneira.
Os chefes da República mandavam fazer e eu fazia. Bem ou mal, eu cumpria as ordens. Estivesse no palácio ou no castelo, em terra ou no mar.
Tinha as costas largas, estava protegido pelos patrões e, a única coisa que eu não podia nunca falhar, era a de tomar posições sem antes informar os meus chefes em Lisboa.
Assim, restava-me tempo para gozar à brava, pôr ao corrente os meus chefes do que se ia passando e ainda botar umas bocas autoritárias para verem que eu não só não cedia, mesmo que me chamassem de bronco e arrogante. À custa das ordens do poder da metrópole dava-me ao luxo de beneficiar das boas mordomias que os servos do poder sempre beneficiam.
Os tempos agitados, em terra ou no mar, seriam para mim, servo do poder da República, uma forma de diversão, de dormir uma soneca no castelo ou a bordo de uma qualquer jangada. Os poderes regionais, o partido que estivesse no poder ou uma FAMA pronta a intervir e a denunciar arrogâncias e a determinação do ilhéu em viver de acordo com os seus sentimentos autonómicos, não me tiraria nunca o sono.
Ora bem, com a protecção dos meus chefes da República e seguro do meu posto de sentinela, com um bom salário e uns privilégios de fazer inveja, estava-me nas tintas para as acusações e ameaças que os da ilha me fizessem. No meu “poleiro” mando eu, puxo dos galões e zás. Aqui mandava eu, mobilizado pela República. Aqui sabia o que fazia e quem estivesse mal que se queixasse aos meus chefes. Estava-me nas tintas para o poder ilhéu eleito por voto secreto e democraticamente.
Portugal nunca poderá deixar de figurar no mapa de além mar. É dos poucos países da União Europeia a ter uma património de ilhas, com um povo submetido às leis da República e que eu nem os conhecia, nem os conheço, nem os quero conhecer. Afinal são ilhéus, não têm fronteiras terrestres. Para terem qualquer coisa têm que trabalhar três vezes mais que os continentais, estão rodeados de mar, e cá no castelo nada falta.




Da República, pedem-me para fazer assim e eu faço. Não preciso do SIS para pôr ao corrente o chefe do que se vai passando por este minúsculo pedaço de Portugal. Eles sabem tudo, hora a hora, sabem que podem contar com os serviços mobilizados para a ilha. Até dizia, e com inteira justiça, que esta última parcela do colonialismo português foi uma boa aposta para pôr a velhice a fazer o seu pé-de-meia e ir para a reforma com uma mesada bem recheada.
Isto não é Macau, onde se conseguia uma maior e mais fácil riqueza, mas é uma ilha cativante, com um povo obediente, de bom trato, mas que se está nas tintas para os políticos e governantes continentais ignorantes quanto às questões autonómicas.
Pois é, falo assim porque os tempos do agir antes de falar já lá vão. Soube de servos continentais que o povo os obrigou a regressar apressadamente à República. Soube de uns que foram postos inclusive à porta do avião, com ordens para nem olhar para trás. Há 28/30 anos a ilha estava em ebulição, o povo não ia em cantilenas, nem obedecia às ordens dos residentes quer em castelos ou palácios. Se eu mandasse à ordem dos chefes da República não cedia um milímetro. Ia mandar, mandar, mandar, impor os meus galões por tudo e por nada. Era uma maneira de me vingar por na metrópole nada poder fazer por existirem já “grandes-chefes”a mais.
Aqui, sou um rei! Faço, mando e posso. Bela reforma espera por mim!

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