quinta-feira, 26 de julho de 2007

Mais reformas, mais desperdícios

Mal começou a vigorar a democracia havia que apagar rapidamente tudo quanto vinha da ditadura, (mesmo o que havia de bom), a começar pelo ensino, saúde, justiça, economia, cultura, de modo a apagar todas as memórias do passado. Tudo havia que reformar, funcionasse bem ao mal.

Portugal será dos países que mais reformas anuncia, mais reformas inicia, mais reformas ficam por concluir e mais reformas são concretizadas. Temos um balanço reformista dos mais completos e dos mais improfícuos da Europa. Tudo a precisar de reforma e mal começa uma reforma já é anunciada a necessidade para a reforma que acaba de ser encetada.
Não há sector em Portugal que já não tenha sido sujeito a mais do que uma reforma nos últimos trinta anos e alguns sectores andam em reformas desde que se operou a mudança de regime. Mal começou a vigorar a democracia havia que apagar rapidamente tudo quanto vinha da ditadura, (mesmo o que havia de bom), a começar pelo ensino, saúde, justiça, economia, cultura, de modo a apagar todas as memórias do passado. Tudo havia que reformar, funcionasse bem ao mal.
O bichinho da reforma pegou de estaca na democracia em Portugal e os partidos políticos, da esquerda à direita, foram chamando a si a condução das reformas à medida das suas políticas ideológicas. No princípio era a “bíblia” do comunismo a instruir a juventude e os mais incautos, com um novo dicionário onde se sublinhava o proletariado, a terra a quem trabalha, os ricos que pagam a crise, a demissão forçada de administradores e patrões, uma educação de baldas, baladas e de badaladas, com as classes profissionais, a começar pelo ensino, lideradas por filhos da política comunista e socialista. Depois vieram todos os outros e as reformas passaram a ser o pão nosso de cada dia.
O mais caricato é que quanto mais reformas são levadas a efeito mais o pais se afunda e maiores são os desperdícios financeiros. Portugal é, desde 1 de Janeiro de 1986, Estado membro da União Europeia, tendo recebido até agora somas financeiras da ordem das dezenas/centenas de milhões de euros de ajudas comunitárias, e, todavia, continua a ser dos países mais atrasados da Europa comunitária, sendo inclusivamente ultrapassado por países que entraram para a UE muitos anos depois e que conseguiram, em poucos anos, atingir um patamar de estabilidade e um desenvolvimento económico superior ao de Portugal.
As reformas defendidas pelos governos da República têm redundado num fiasco. Acontece que os governantes fazem as reformas que entendem fazer, na maioria das vezes sem atenderem às questões de fundo, acabam o mandato de governantes e vão à sua vida, ficando a governação do país de novo no colo de um novo governo com novas ideias, novas reformas.
Se as reformas promovidas por um governo não resultaram ou até tenham prejudicado seriamente o país (como já aconteceu), nenhum mal acontece aos governantes. Numa empresa privada tinham levado a empresa à falência e seriam responsabilizados, mas como governantes da República, falham nas reformas que projectaram, e nada lhes acontece.
Um das situações mais badaladas configura-se à função pública. As reformas na administração pública começaram em 1974 e até à presente data ainda não foi encontrada a reforma ideal tão falada para esta área. Os números de funcionários públicos em Portugal oscilam entre os 600 e 700 mil e os custos anuais com todo este pessoal será da ordem dos 22 mil milhões de euros, qualquer coisa como cerca de 61 por cento do valor dos impostos que o Estado cobra aos portugueses todos os anos.
Para se ter uma ideia da disparidade entre a função pública portuguesa e a europeia, a média da despesa na União Europeia, com 27 Estados membros, com os funcionários públicos, ronda os 40 por cento e em Portugal a média ascende aos cerca de 61 por cento. Todos os anos vem para cima da mesa projectos de reformas e todos os anos os custos na administração pública sobe e a produtividade não evolui.
Pode chocar muita gente, pode inclusive por em causa tudo quanto até agora foi feito pelos governos em matéria de reformas, mas a verdade é que o fracasso das reformas só pode ser imputado aos governantes. Se quisermos ir mais longe, Portugal não tem tido governantes à altura das necessidades e responsabilidades, caso contrário não haveria todo este fracasso acumulado de reformas que têm prejudicado grandemente o crescimento do país e a qualidade de vida dos portugueses.
Estamos em 2007 e veja-se, em dois anos de governação, os efeitos das reformas que o governo socialista pôs em prática. Falhanço atrás de falhanço, desde o ensino, saúde, justiça, economia e em todas as áreas. Depois não é de admirar que o país esteja a ficar cada dia mais assimétrico, mais desnivelado, empobrecido e a perder competitividade.
Reformar sem saber é melhor não fazer. Portugal e os portugueses agradecem.

PS: Quem viu ou ouviu através da tv ou rádio a recente entrevista feita ao primeiro-ministo, ficou com a ideia que as respostas tão positivistas não diziam respeito a este país chamado Portugal pois a imagem transmitida de “país maravilha” não tem nada a ver com a triste realidade vivida pelos portugueses. Para Sócrates os portugueses devem ser todos uns atrasados mentais pois só a sua própria opinião é que vale. “Essa é a sua opinião, não a minha”, como insistentemente responde a quem o interpela, fazendo lembrar tristes épocas do absolutismo e da bufaria.

Sem comentários: