quinta-feira, 19 de julho de 2007

Provincianismo socialista

Parece-nos pois evidente que o voto deveria assumir caracter obrigatório evitando-se assim situações confrangedoras de falta de participação cívica com resultados como os verificados no pretérito referendo sobre o aborto e do recente acto eleitoral para a Câmara de Lisboa em que uma pequena percentagem de cidadãos condicionaram a maioria pela própria inépcia desta.


Um mau exemplo da democracia.
Domingo à noite, à porta do hotel Altis, em Lisboa, muita gente da província empunhava bandeiras do Partido Socialista, gritava por vitória nas eleições intercalares para a Câmara de Lisboa. Gente que veio de muito longe, que nem tem direito a votar para a autarquia de Lisboa, estava ali, como se estivesse a assistir a uma acontecimento invulgar.
Alguém trouxe aquela humilde gente da província para vir a Lisboa encher a plateia socialista. Um provincianismo intolerável. Nunca tínhamos visto nada assim.
Foi confrangedor ver-se, na TV, alguns jornalista a perguntar a essas humildes pessoas da província, com bandeiras socialistas, o que pensavam da vitória do candidato do seu partido (PS). Não sabiam responder. Diziam que não eram de Lisboa. Então… que estavam ali a fazer, perguntava-se? Estavam ali a fazer número.
Não eram de Lisboa nem podiam votar para a Câmara de Lisboa!
Inacreditável. Um partido socialista que se diz peregrino da democracia e que recorre a estes expedientes primários para mostrar “muita gente” não pode ser considerado um grande partido com grandes dirigentes. Enquanto os naturais e residentes em Lisboa, com direito a voto, mandaram as eleições às malvas, optando por irem para a praia, para os passeios dominicais com a família ou com os amigos, os socialistas da província foram arregimentados para virem apoiar o candidato do PS que os socialistas lisboetas voltaram as costas.
Será que os socialistas lisboetas estarão alguma vez dispostos a irem à província, com bandeiras em punho, fazerem centenas de quilómetros, acumulando cansaço físico, para apoiar o candidato de uma qualquer autarquia do seu partido?
Este e outros episódios semelhantes ocorridos em redor das recentes eleições para a Câmara de Lisboa foram, pelo que se viu, um castigo pesado para a democracia. Cerca de 65 por cento dos 500 mil eleitores não votaram, mandaram o acto eleitoral às malvas, e deixaram os políticos lisboetas e os partidos num quase deserto eleitoral.
Quando em Lisboa, capital do país, onde se encontra o poder político, governamental e presidencial, onde se encontra a maior autarquia do país, a participação dos eleitores é confrangedora, com uma presença nas urnas que em nada robustece a democracia, que resposta terão a dar os lideres políticos e partidários nacionais? Parece-nos pois evidente que o voto deveria assumir caracter obrigatório evitando-se assim situações confrangedoras de falta de participação cívica com resultados como os verificados no pretérito referendo sobre o aborto e do recente acto eleitoral para a Câmara de Lisboa em que uma pequena percentagem de cidadãos condicionaram a maioria pela própria inépcia desta.
O vencedor, Dr. António Costa, ex-ministro socialista, não chegou a receber 30 por cento dos votos entrados nas urnas, não conseguindo mais do que 6 vereadores, quando eram necessários, no mínimo, 9 vereadores para que pudesse ter a maioria. Em suma a esmagadora maioria dos lisboetas residentes não votou no candidato socialista. Uma “vitória” socialista que tem mais de derrota do que de vitória! E a confirmar que os socialistas estavam inseguros, a direcção do partido recorreu aos filiados de fora de Lisboa para virem encher com bandeiras alguns locais, particularmente à porta do hotel onde o candidato se encontrava. Foi mau de mais para ser verdade.
Por outro lado, ficou à vista dos lisboetas que a “queda” do Engº Carmona Rodrigues da presidência da Câmara não foi a melhor solução. Os resultados deixam ver isso mesmo. A alternativa apresentada pelo PSD não surtiu efeitos e abriu uma brecha para que o PS ganhasse a Câmara quando, em situações normais, dificilmente ganharia. Uma vez mais ficou comprovado que um partido que ganha eleições não deve demitir-se das funções por muitas que sejam as campanhas políticas de desgaste ou alegadas acusações sobre matérias não provadas.
O Engº Carmona Rodrigues chegou à presidência da Câmara de Lisboa com o apoio do PSD, com um mandato de quatro anos legitimado pelos eleitores, logo devia continuar no exercício de funções até final do mandato. Se as acusações viessem a confirma-se em sede da justiça, então a sentença estaria legalmente feita. Forçar a retirada das funções só porque os partidos da oposição, nomeadamente o PS, decidem fazer uma campanha de descrédito sobre a gestão camarária não é razão suficiente para haja lugar a eleições intercalares. Esta situação nunca teria acontecido se o PSD nacional tivesse uma liderança firme e consensual. Este é mais um paradigma a reter para que futuras situações semelhantes não provoquem roturas insanáveis.
O PS, uma vez mais, ganha de “bandeja” umas eleições, desta feita na autarquia de Lisboa, tal como já tinha conseguido para o governo, na sequência das campanhas armadilhadas que os socialistas fizeram contra o governo chefiado pelo Dr. Santana Lopes. Primeiro, o desgaste através de suspeições, segundo, a fraca reacção do PSD às investidas do PS e, terceiro, as manobras que o PS consegue fazer passar na comunicação social, como se tudo estivesse no caos e só os socialistas podem salvar o país.
Em pouco mais de dois anos, o PS consegue montar campanhas contra o PSD ao ponto de levar à “queda” um governo PSD e uma Câmara PSD e, por via das estratégias montadas, o PS consegue chegar à chefia do governo da República e à presidência da Câmara de Lisboa. É mau de mais para ser verdade. A democracia, de facto, está doente. O provincianismo socialista vence onde a questão do défice democrático é mais real do que aparente.

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