quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Portugal no gigantismo chinês

Parte na próxima terça-feira para a China o primeiro-ministro português José Sócrates, com regresso marcado para o dia 4 de Fevereiro. A visita de carácter oficial, com tudo pago pelo Orçamento, está dentro das visitas oficiais que os primeiros-ministros, presidentes da República e outras altas figuras do Estado fazem ao estrangeiro. Nada de extraordinário, excepto para o já falecido Prof. Oliveira Salazar que esteve cerca de 40 anos no poder e não fez uma única viagem ao estrangeiro.
A visita do primeiro-ministro à China está perfeitamente consagrada. Levar outros membros do Governo consigo e uma leva de empresários é também lugar comum. As visitas oficiais abrem portas e permitem uma aproximação entre Estados que por outras vias não é possível. É bom ir ver para conhecer outras realidades.
A surpresa (ou não) é fundamentar esta visita nas vantagens que o “gigante” chinês pode trazer para Portugal. Isto numa altura em que a economia chinesa é das que mais está a crescer a nível mundial e que muitos apontam como a grande economia do século XXI. O primeiro-ministro ao fazer esta visita com a perspectiva de Portugal poder criar futuras parcerias com os agentes económicos chineses é que parece-nos estar mal amanhada. Que alguns empresários portugueses tenham algumas perspectivas pelo continente asiático, principalmente por Macau, onde ainda se fala português, não é de estranhar. Já o mesmo será problemático investir no mercado chinês, japonês ou indiano.
Nesta visita à China do primeiro-ministro algo está a ser pouco esclarecido. Sendo Portugal um dos países da União Europeia com uma das mais fracas economias como poderá encarar a China como um mercado de investimento? Não é o nosso país um dos mais pobres da Comunidade Europeia? Será que as taxas de analfabetismo, o baixo índice na formação técnico-profissional, os mais baixos salários da Europa e a posição que dão a Portugal de um dos país europeu pobre, não pesam?
Digam-nos como pode um país pobre na Europa fazer parcerias com um país com exponencial económico único no mundo? Será que estamos a alimentar a ideia da luta entre David e Golias? Se não tivemos até agora um Governo da República suficientemente idóneo para dar a volta por cima e levar Portugal para um nível superior na Europa e no mundo, como vamos tirar partido com uma China, “o gigante asiático” e mundial, que está a léguas de distância física e mentalmente do amorfo Estado português.
Não estamos a defender que Portugal deve ser apenas um parceiro com os países pequenos, que faça parcerias com países pobres como o nosso em matérias importantes como a educação, economia, justiça, e noutras áreas. O que queremos dizer é se Portugal não consegue aproximar-se dos países médios da União Europeia, com dimensões territoriais e populacionais idênticos ao nosso, como a Bélgica, Irlanda, Holanda e outros que integram a União Europeia, como pode almejar parcerias com mais valias com um país como a China?
Esta febre de pretender colocar Portugal em parcerias com grandes países, grandes economias, é uma iluminação socialista e corroborada pelo actual presidente da República. O Prof. Cavaco Silva esteve na Índia, outro país com uma economia das mais florescentes do mundo, e também falou das mais valias que aquele país asiático pode trazer à economia portuguesa.
O primeiro-ministro José Sócrates vê no Brasil, Angola, Índia e China, parceiros ideais para Portugal. Com menos relevo já os portugueses viram o alarido que provocou a entrada do comércio chinês no nosso país. Uma pequena amostra que deu lugar a contestações, sobretudo no norte do Continente, dada a concorrência que as lojas chinesas estavam a fazer com o comércio tradicional. Uma reacção que também teve eco na Madeira. Felizmente para a nossa economia (regional e nacional), as lojas chinesas já perderam muito do seu “encanto”, tal como a restauração chinesa está a ficar para trás.
Quando pequenas lojas chinesas fazem o sector comercial português entrar em desespero, imagine-se o que não seria se as médias e grandes cadeias alimentares, vestuário, calçado, tecnologias e outros sectores da indústria chinesa decidissem abrir grandes superfícies em Portugal. Custa-nos a acreditar que o Governo socialista não esteja a ver esta enorme assimetria existente entre Portugal, país pobre na Europa, e a China, país gigante na Ásia e no mundo.
Façam viagens ao estrangeiro, aproveitem o estatuto de visitas de carácter oficial, com tudo pago pelo Orçamento do Estado, mas não façam dos portugueses uns atrasados mentais. Nem neste nem em séculos futuros, Portugal poderá beneficiar de parcerias com os potentados económicos chineses. Talvez sejam poucos os países da Europa a poder tirar vantagens de partilha com a economia chinesa.
Paradoxalmente, a visita do primeiro-ministro José Sócrates à China é confirmada numa semana em que o Governo socialista faz saber que o aumento dos vencimentos dos funcionários públicos e a progressão nas carreias estão dependentes do Governo ter ou não dinheiro. É pobreza a mais! Um desaforo.

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