quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Despertar para o futuro

Nunca os governos centrais fizeram uma consulta popular (referendo) aos Madeirenses e Açoreanos sobre o que mais desejariam para o seu futuro; se querem continuar a ser Portugueses subjugados pelo poder central sediado em Lisboa, se querem continuar portugueses no quadro de uma Autonomia real e sem sofismas ou se querem uma Independência total mantendo com Portugal uma cooperação normal entre dois países com raízes históricas comuns e pertencentes à EU



Podemos considerar que Portugal é a nossa Nação, o país onde nascemos e vivemos, mas tal não nos impede de defendermos e fundar uma nova Nação. O aparecimento de novos países tem sido uma realidade ao longo dos séculos e, regra geral, os retornos têm sido muito mais gratificantes do que negativos para os povos. O homem não é “propriedade” de um país mas “dono” do seu destino. É preciso despertar para o futuro, para as novas realidades, sem ressentimentos.
Começa a ser intrigante a postura de alguns (poucos) em relação ao futuro da Madeira, sempre que se fala numa mais ampla autonomia ou na independência. Algumas pessoas (poucas), alheias aos fundamentos destas realidades, apressam-se a traçar quadros negros, contrariando os princípios básicos da própria democracia. Ou têm alma de escravos, preferindo a subserviência ao poder centrado em Lisboa, cujos governantes da República não conhecem ou conhecem muito mal a Madeira e a insularidade, ou estão mal informadas acerca da funcionalidade global de um pequeno país no contexto actual europeu e mundial.
Os políticos e os governantes mentem quando dizem que a Madeira não gera meios suficientes para se auto-sustentar. Perdem-se no ontem (passado), focam o hoje (presente) e dramatizam ignorantemente o amanhã (futuro). Mentem quando criticam défices sem fundamentarem as causas. Como nunca afloram a dívida externa de Portugal, sob a responsabilidade do governo central, que é das mais altas dos países europeus. Ignoram pequenos países como o Chipre e Malta, por exemplo, antes e de pois da adesão à União Europeia, que registaram um mudança como da noite para o dia.
Os futurologistas vêem uma Madeira independente como uma viragem para o terceiro mundo. Foi com esta visão dramática que os comunistas traçaram o futuro de Portugal quando da adesão à CEE/UE. Está bem à vista de todos o “drama” que foram estes 22 anos (desde 1 de Janeiro de 1986) de Portugal como Estado membro da União Europeia.
O Portugal do passado (antes e depois da adesão à CEE/UE), mesmo com todas as eventuais falhas de controlo orçamental e derrapagens, está muito diferente, para melhor, em quase todos os capítulos.
O melhor testemunho do efeito positivo que a entrada de Portugal na Comunidade Europeia veio dar ao país está na Madeira. Foi das regiões portuguesas e europeias que melhor soube investir os fundos comunitários. Esta conclusão é da própria União Europeia, dos que nos visitam e dos madeirenses em primeiro lugar. A Madeira teve um desenvolvimento em três décadas incomparavelmente superior aos mais de cinco séculos anteriores à Autonomia.
O passado foi de pobreza para os ilhéus dependentes das decisões de um governador civil nomeado pelo governo central. A Autonomia veio permitir que fossem os madeirenses a escolherem os seus governantes, o progresso não deixa dúvidas. O futuro, o atingir novas etapas, passa por uma Autonomia com mais poder. A independência da Madeira é avivada, com maior fundamentação, desde meados do século passado. Mais precisamente pouco após a aprovação da Constituição de 1933, e anos seguintes, que iria defender toda a política da ditadura que vigorou até Abril de 1974. Por conseguinte, não é um fenómeno novo a questão da independência da Madeira que apenas aos madeirenses (residentes e na diáspora) compete decidir por meios livres e democráticos.
Os governos da República de Portugal, quer no decurso do Estado Novo como no decorrer do regime democrático, nunca perguntaram aos portugueses dos territórios em África (Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Angola e Moçambique), bem como aos de Timor-Leste e aos das ilhas atlânticas (Madeira e Açores) se queiram ser independentes da metrópole, do continente. Nunca os governos centrais fizeram uma consulta popular (referendo) aos Madeirenses e Açoreanos sobre o que mais desejariam para o seu futuro; se querem continuar a ser portugueses subjugados pelo poder central sediado em Lisboa, se querem continuar portugueses no quadro de uma Autonomia real e sem sofismas ou se querem uma Independência total mantendo com Portugal uma cooperação normal entre dois países com raízes históricas comuns e pertencentes à EU.
Com os ecos que chegam até nós, passados quase 34 anos de mudança de regime, mais parece que Portugal deu independência a alguns países sem que fosse, pela maioria dos povos, solicitada. Silenciar os efeitos negativos ocorridos (devido à apressada independência) nalgumas das ex-colónias portuguesas é fugir aos factos. Timor Leste, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, não terão sido “independências” que revertessem as mais valias que os povos estariam à espera.
De resto, a revolução de 1974 não confirmou tudo quanto foi prometido aos portugueses. Foram muitas as arbitrariedades cometidas, os fracassos dos governos da República e as falhas de liderança de políticos que têm responsabilidades no empobrecimento do país. Portugal não está hoje na linha da frente dos países mais desenvolvidos da Europa por inépcia e pelo espírito indeciso dos seus governantes.
Relativamente à independência da Madeira tudo está em aberto. Nos bastidores nada está parado. Como escreveu Émile Alain “o pessimismo é uma questão de humor; o optimismo é uma questão de vontade”.

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