quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

A revolta está latente

Por tudo quanto temos assistido nos últimos anos, a Madeira não parece ser território português! Para alguns portugueses (pior quando têm responsabilidades ao nível de órgãos do Estado) será quando muito um território de segunda categoria, com uma população sem direitos mas obrigatoriamente com todos os deveres, sujeita a miseráveis provocações por parte de responsáveis do país aos mais diversos níveis



Portugal será dos países europeus que mais complexos tem para com as suas antigas colónias situadas fora do rectângulo continental. Tem complexos, tem frustrações, tem vergonha do que fez e tem medo do que possa vir a acontecer com essas ou a partir dessas ex-colónias e com as actuais Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, ainda bem há pouco tempo designadas por Ilhas Adjacentes. Portugal não consegue entender nem aceita a evolução histórica e ao pragmatismo de uma política que conduziu a Madeira a níveis evolutivos superiores aos do rectângulo continental. Eles são portugueses mas só do lado de lá, pejorativamente, os donos da Pátria que tudo podem, mandam e fazem colonialment
Por tudo quanto temos assistido nos últimos anos, a Madeira não parece ser território português! Para alguns portugueses (pior quando têm responsabilidades ao nível de órgãos do Estado) será quando muito um território de segunda categoria, com uma população sem direitos mas obrigatoriamente com todos os deveres, sujeita a miseráveis provocações por parte de responsáveis do país aos mais diversos níveis. Impedir os madeirenses e açorianos de terem os mesmos direitos e igualdades que outro qualquer português residente em qualquer parte de Portugal continental é estar a fazer discriminação, é na maior das vezes ser xenófobo, racista, dar títulos de incapacidade e de menoridade, e criar ódios e separatismo entre povos de um mesmo país.
A revolta dos ilhéus, em concreto dos madeirenses está latente, pode não estar constantemente a manifestar-se exteriormente, poderá eventualmente estar oculta, mas não está extinta. Ouvir um governante do Estado, tenha ele a hierarquia que tiver, dizer que a Madeira só tem direito a uma equipa por modalidade, excepto o futebol (até um dia!), exigir que sejam os madeirenses a suportar custos impossíveis, limitar os jovens madeirenses (que são portugueses) a competir, fazer um carta de intenções para os clubes e os atletas das ilhas diferente do plano que aprovam com todas as mordomias para os clubes e para os atletas continentais, é estar a fomentar revolta.
Portugal está dividido em dois, entre o Continente e as Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores e, se formos mais atrás, está medrosamente dividido entre o Continente, Brasil (que gozam a mais não poder dos portugueses continentais), dos angolanos e moçambicanos que continuam a ver no governo português uma forma de sacar mais algumas ajudas (todos se lembram das tristes cenas que se passaram no jogo de futebol entre as selecções de Portugal e Angola – que por ironia do destino vão encontrar-se em Junho, para o Mundial), da Guiné, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor. Portugal que é que tem recebido em troca?
O grito da revolta da Madeira não começou com a revolta da farinha, a 6 de Fevereiro de 1931, nem com a revolta que durou de 4 de Abril até 2 de Maio do mesmo ano. A revolta da Madeira esta à nascença, a partir do momento em que os madeirenses começaram a entender que Lisboa via a ilha como uma quinta, de africanos brancos (com a devida consideração pelo africanos pretos que bem os conhecemos e o sofrimento que passaram e ainda passam devido às políticas discriminatórias dos portugueses do Continente), sem respeito pelas populações que, em grande número foram obrigadas a emigrar para poderem sobreviver, sendo que, ainda hoje, milhares de nossos conterrâneos vivem em situações de muita pobreza em países que nunca foram a sua Pátria.
A Madeira está a precisar de um “grito de revolta” que se faça ouvir por esse mundo fora. Um grito contra o colonialismo português. Contra todas as discriminações que tentam ofender e rebaixar os madeirenses. Em muitas das situações actuais, não parece que a Madeira seja Portugal...as diferenças e tratamentos, a igualdade desigual, fazem mossa, e provocam feridas difíceis de curar!

Sem comentários: