quinta-feira, 9 de fevereiro de 2006

Liberdade é educação

Quando se quer baralhar as coisas e deitar abaixo o que está a ser bem feito todos os argumentos são rebuscados. Ouvi esta semana, uma vez mais, um deputado vermelho da Assembleia da República trazer à liça o alegado défice democrático na região. Pensei que com o fim político de Mário Soares esta mania de défice para justificar as derrotas tinha morrido. Bastou que um Kamarada entendesse usar toda a sua livre expressão, que terá ultrapassado os mais elementares princípios cívicos da liberdade de opinião democrática, para que o défice e os outros défices fossem de novo azedamente entoados como fazendo parte da democracia. Nem 30 anos depois da mudança da ditadura para a democracia terá sido suficiente para que alguns tomassem consciência sobre onde começa e acaba a liberdade de expressão. Custa a entender-se como é que alguns profissionais da democracia (deputados) ainda não tenham presente o seu papel de representantes do povo, de porem acima dos seus interesses e guerras pessoais os interesses dos eleitores que os elegeram.
A prevista redução de deputados na Assembleia de República não visa obviamente acabar com tanta malcriação e abuso de linguagem, mas é de bom tom, com muitos ou poucos deputados, ter uma postura de liberdade democrática educada, mesmo que haja amplas carradas de discordância. A democracia não se constrói com boçalidades, acusações sem nexo ou dizer tudo o que vem à cabeça. Para esta postura não era preciso recorrer a actos eleitorais a fazer meses de campanhas em comícios de esclarecimento.
Também aqui na Madeira, na Assembleia Legislativa, a boçalidade de um deputado socialista, useiro nestas situações, marcou presença através de declarações que ofenderam o poder judicial e os orgãos eleitos da Região. Ao pronto e legítimo reparo da bancada do PSD, teve a oposição em conjunto, com a conivência de alguma comunicação social, de demonstrar que infelizmente há muita gente a precisar que lhe seja feita também uma avaliação das respectivas faculdades mentais.
Quanto maior a liberdade, maior é a responsabilidade.
Caíram, os vermelhos da Assembleia da República, sobre o comunicado emanado pelo governo subscrito pelo ministro Freitas do Amaral acerca das caricaturas publicadas num jornal dinamarquês.
Será preciso embandeirar em arco com veementes protestos contra os actos condenatórios dos muçulmanos radicais que, à custa de caricaturas, decidem queimar bandeiras de países e ameaçar o mundo ocidental? Mas, afinal, em que mundo estamos a viver. Será que temos que abdicar da nossa liberdade respeitável ou termos que ficar debaixo de ódios e ditaduras de um certo mundo muçulmano?
Pus-me nestes dias a pensar o que seria de Gonçalves Preto, directo do inesquecível semanário “Re-nhau-nhau” que todas as edições inseria caricaturas, muitas das quais, a satirizar figuras da governação e políticas regionais e nacionais, isto num regime de ditadura, de censura e da Pide. Gonçalves Preto usou inteligentemente a sua liberdade, tocou na ferida mas não fez sangue, criticou mas respeitou, enxovalhou mas nunca pôs em causa a pessoa humana.
Foi assim com o “Re-nhau-nhau”, como com o “Diário da Madeira”, com a célebre coluna giz na parede, foi assim com a “Voz da Madeira”, “Eco do Funchal”, menos com o “cor de rosa” que se movimentava como a toupeira , e se plagiava a si próprio, servindo-se de informações que os outros mandavam para o caixote do lixo. A liberdade de expressão sempre existiu, a forma como se usa a liberdade de expressão é que pode exigir mais ou menos talento, ou se quisermos, mais vocabulário, melhor léxico.
Os muçulmanos não têm o direito de ameaçar o ocidente por causa de umas caricaturas mais radicais como um deputado vermelho na Assembleia da República tem motivos para denegrir e pôr em causa a democracia.
Há de facto uma nova abordagem à forma de fazer política, mas nunca opondo em causa a liberdade e a seriedade do pensamento. Já não faz sentido um ditador como Fidel de Castro que anda a mais de 40 anos a oprimir o povo cubano e ainda ter o descaramento de ameaçar os EUA e outros países, acusando-os de falta de democracia. São estes ditadores frustrados que vão pondo o povo na miséria e pondo o mundo sob ameaças.
Chegou o tempo de acabar com as tolerâncias imprudentes. Fez pagou, sofre as consequências, será a única maneira de acabar com as ditaduras e se devolver a palavra e fundamentada à democracia.

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