quinta-feira, 4 de agosto de 2005

Ver, ouvir e reconhecer

Há muito que o Funchal deixou de ser apenas a cidade das ruas antigas e comerciais, o centro de negócios e capital da Região. A velha frase “vamos à cidade” durou séculos e muitos foram os madeirenses que nasceram e faleceram sem nunca terem ido (vindo) à cidade. Nem era propriamente a distância quilométrica a impossibilitar a ida (vinda) à cidade, é porque não havia meios de transporte para ligar o centro da cidade a outros pontos , aos sítios e lugares mais próximos, às redondezas da cidade, hoje difundidas por “zonas altas”, que não tinham estradas, nem luz eléctrica, nem água potável, nem rede telefónica, nem escolas, nem centros de saúde, nem isto nem aquilo que o presente nos apresenta.
Quem hoje circula pelas estradas que ligam o centro da cidade às zonas altas e fala com as pessoas de idade avançada, é levado a ficar com a ideia de que o centro da cidade do Funchal esteve durante séculos de costas voltadas para a sua periferia, que os responsáveis pela Câmara Municipal, pela então Junta Geral e pelo Governo Civil, viam um Funchal circunscrito ao perímetro da Sé Catedral, e que a partir do Ribeiro Seco, Torreão, Levada de Santa Luzia e pouco acima do Campo da Barca, era o campo da cidade, com quintas, colonos e camponeses, com terras lavradas de sol a sol, poços e águas de rega, com famílias inteiras a cavar, a bordar e obrigadas a viver quase como num mundo à parte de quem vivia na cidade.
E não estamos a fazer retratos do Funchal de finais do século XIX, princípios do século XX. Estamos, pelo que nos dizem os mais antigos, a falar dos anos 20, 30 e 40 do século passado. De há 80, 70 e pouco mais de 60 anos.
Estamos a percorrer a freguesia de Santa Maria Maior, de sul ao norte, de leste a oeste. Tínhamos um conhecimento mais aprofundado da parte sul, a mais citadina, e uma visão global, com passagens esporádicas, de todos os sítios de Santa Maria Maior. Sabíamos muito da freguesia mas hoje sabemos inquestionavelmente muito mais. Ficamos com aquela sensação sobre a imagem que nos é transmitida mas que vai se transformando e ganhando substância da realidade à medida que vamos conhecendo cada vez mais os lugares, as pessoas, o antes e depois, os planos do presente e as ambições no futuro.
Santa Maria Maior, berço do Funchal actual, é das freguesias da Madeira com mais cidade e menos periferia distanciada da evolução, estando cada ano mais próxima e desenvolvida em todo o seu espaço territorial, sendo um dos bons exemplos do gigantesco progresso que toda a Região Autónoma tem vindo a registar vai para três décadas.O concelho do Funchal, no seu todo, tem registado progressos que todos reconhecem.
Não se queira, porém, ficar com a ideia de que tudo quanto as populações legitimamente ambicionaram e desejaram está feito. Se assim fosse estaríamos todos a aceitar que mais nada havia a fazer, que o desenvolvimento tinha atingido os seus limites. Nem nos concelhos, cidades, regiões e países mais desenvolvidos do mundo isso acontece. Ainda há poucos dias vimos na televisão um grupo de cidadãos residentes numa das zonas mais habitadas de Nova Iorque a protestar contra algumas irregularidades detectadas no saneamento básico e nos transportes. Isto para ilustrar que até nas principais cidades do mundo nem todos os habitantes estão plenamente satisfeitos.
O que não se pode é esquecer que há sempre algo por fazer e que mais deve ser feito. Que haja vontade e honestidade para ir ao encontro da realidade, sem promessas falaciosas, dando solução a cada questão. Esta tem sido a política global que a Madeira tem seguido, cujo progresso está à vista de todos, e quem melhor nos tem dado testemunho desta realidade têm sido os mais idosos. Mas o passado não é para viver no presente e muito menos no futuro, mas é bom nunca esquecer que sem passado não há presente e que o futuro será muito daquilo que for feito no agora.
Prometer é fácil. E quem tem bem a noção do que é o fazer e o prometer sabe que há uma grande diferença entre as políticas dos que dizem que tudo é fácil e o trabalho sério que é preciso fazer para se concretizar o que deve ser feito. Quando ouvimos a oposição falar em mudar isto e aquilo, em abrir e fechar a cidade aqui e acolá, em construir aquela obra e outra mais acima e mais adiante, como se tudo fosse possível e houvesse uma varinha de condão para alterar tudo o que ligeiramente prometem, ficamos com a ideia de que a política é para alguns como se fosse um jogo de futebol ou uma lotaria. Joga-se (promete-se) à sorte, a ver se dá, ou como sempre dizem os treinadores e jogadores vamos ganhar o jogo, menosprezando tudo o mais como se estivessem reunidas todas as condições para ganhar, sem mais nem menos.
Na política ganha-se trabalhando, dia a dia, com muito trabalho e muita seriedade. Durante todo o ano há sempre muito a fazer e quem está por dentro das questões, do desenvolvimento e das políticas encetadas que levam ao caminho do progresso e bem- estar das populações, sabe que nunca nada está definitivamente concluído.

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