quinta-feira, 25 de agosto de 2005

Problemas por resolver

Muito se tem falado da crise económica e das dificuldades financeiras do país, do apertar do cinto e da contenção de despesas. Muito se fala e pelos vistos muito se irá continuar a falar, com milhentas observações e justificações. Os governantes da República, do actual e dos anteriores governos, mostram-se incapazes de controlar os sucessivos aumentos da dívida pública ao mesmo tempo que vão anunciado obras orçamentadas em centenas de milhões de euros, algumas das quais perfeitamente dispensáveis como o novo Aeroporto na Ota e outras.
As contas dos governos da República estão longe de terem a precisão dos antigos “roles das vendas” (mercearias) nem da “lista de fiados”que tinha liquidação garantida no fim de cada mês. Palavra santa. As contas dos governos da República não têm “lápis atrás da orelha”, nem “role” nem “fiados”. Têm computadores, fotocopiadoras e uma listagem infinita de calotes e de caloteiros, de dívidas e receitas, de investimentos que não respeitam os orçamentos nem se têm ou não viabilidade.
Os investimentos públicos não visam dar lucro nem se está à espera que os cofres do Estado estejam a abarrotar de dinheiro ou que o Banco de Portugal esteja a abarrotar de barras de ouro. As contas do tostão, sem investimento reprodutivo, pertencem ao antigo regime e sabemos bem os resultados negativos que deram ao país. Acontece que os actuais governantes da República passam o tempo de mandato a falar em crise económica, em dificuldades financeiras enquanto vão gastando mais do que deviam e, por conseguinte, a contribuírem para aumentar a dúvida e a dívida.
É confrangedor ouvir um ministro dizer que não sabe quantos funcionários públicos existem em Portugal. Que uma obra orçada em 50 passe a custar 100 e que o fisco seja tratado como uma bola que vai sendo pontapeada para a frente, para trás e para o lado, conforme os interesses dos intervenientes. Enquanto os governantes da República não entenderem que os exemplos têm que vir de cima, dizer para fazer mas não fazer na sua própria casa, é lançar dúvidas dificilmente esclarecidas e por isso não podem esperar muito mais do que a dúvida, o pessimismo e o mal-estar.
O Banco de Portugal, que tem como governante um socialista (o tal do embuste do défice), veio esta semana com a notícia que as Autarquias estavam endividadas como nunca estiveram. Trata-se de uma notícia puramente eleitoralista e de um novo embuste.
O governador do Banco de Portugal sabe que a maioria das Autarquias do país são do PSD e que dentro de oito semanas aproximadamente vão decorrer eleições (9 de Outubro). É altura de começar a campanha contra as Autarquias na tentativa de desgastar e pôr em causa a gestão das Câmaras maioritariamente sociais democratas. Tudo feito com a habilidade de um salto de sapo, com reparos e lamentações em jeito de campanha eleitoral em proveito dos socialistas.
Como se sabe, o Partido Socialista tem o poder na presidência da República, no Governo da República (e nos Açores) e no Banco de Portugal. Falta-lhe o poder autárquico. O ataque às Câmaras do PSD vem a calhar nesta altura, à beira de eleições, na tentativa de abrir portas aos socialistas. Ficaria o PS não com o poder absoluto mas mais absolutista. Centrados neste objectivo deixam correr o marfim, vão tentando ganhar pontos e distraindo o povo exibindo as violentas e lamentáveis labaredas que destroem florestas e habitações, com centenas de pessoas em estado de desespero, enquanto o fogo ameaça e avança.
Diz-se ou transmite-se a ideia que dos fogos ninguém é verdadeiramente culpado, mas que o governo está solidário com as pessoas. Que outra coisa se poderia ouvir dos responsáveis. Os culpados dos incêndios são todos aqueles que têm a responsabilidade de proceder ao respectivo ordenamento e zelar pelas florestas, de disponibilizar convenientes e eficazes meios de combate aos incêndios, a começar pelo governo da República. Não há dinheiro que pague vidas humanas, casas destruídas e culturas reduzidas a pó.
O processo de tudo isto tem muito provavelmente muitas origens e causas por esclarecer. Não há controlo. As contas públicas andam em derrapagem há vários anos e continuam a agravar-se, a dívida pública é uma vergonha e as despesas do Estado atingem proporções mais elevadas sempre que o governo da República é socialista, desde há muitos anos.
O que se pede nesta altura é que o governo faça o que tem a fazer, resolva os problemas que criou e evite que o país entre novamente em acções de protestos nas ruas e nas contestações às políticas encetadas. Façam-se sérias reflexões sobre os funcionários públicos, sobre o código de trabalho, sobre as polícias e as forças armadas, sobre os impostos, sobre o desemprego e sobre o novo quadro comunitário de apoio para 2007-2013.
Deixem de funcionar pela rama para irem ao fundo das questões. Resolvem-se os problemas com acções e não com lamentações.

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