quarta-feira, 6 de abril de 2005

Madeira e política desportiva

Não temos dúvidas que a maioria dos madeirenses está mal informada sobre a política de apoios que o Governo Regional concede às diversas colectividades desportivas da Região. Mas também não temos dúvidas que a maioria não acompanha, com o devido interesse a vida dos Clubes e desconhece a importância vital que o Desporto representa no seu todo, com particular acuidade na sociedade Madeirense. Também não temos dúvidas que quem mais contribuiu para a contestação aos referidos apoios oficiais, foram e continuam a ser os partidos da oposição (obviamente) e certos fundamentalistas feridos pela “clubite aguda”.
É sobre estes três pontos (desconhecimento, contestação e posição política) que vamos centrar a nossa dissertação de hoje, tendo por fundo a actividade desportiva na região Autónoma da Madeira.
Desporto e Governo sempre viveram em comunhão (em qualquer região ou país), como acontece com muitas outras áreas, desde o ensino à saúde, da economia à indústria.
Nesta perspectiva, seria bom que se fizesse um exercício de memória, recuando alguns anos no tempo e que, desapaixonadamente, se comparasse a realidade desportiva de então com realidade actualmente vivida, nomeadamente quanto a quantidade e qualidade de instalações desportivas e de modalidades existentes, realização de eventos, participações e títulos alcançados quer nacionais e internacionais, nas mais diferentes modalidades e, principalmente, que se meditasse na extraordinária obra realizada na área do desporto escolar que merecia, quer na Madeira, quer no exterior, uma vasta e justa divulgação. Política e Desporto não são “seres” desconhecidos nem podem ser marginalizados. Os governos não determinam o modo de funcionamento dos clubes mas devem definir as respectivas políticas e estarem disponíveis e atentos para poderem intervir sempre que algo de anormal possa ocorrer.
A contestação (quando surge do desconhecimento ou de falta de causas racionais) torna-se numa aberração quando é feita sobre factos pontuais, sobre clubes em particular ou ainda acerca de tomada de posição individualista.
O Governo Regional, através de medida politica inscrita nos vários programas de governo, amplamente sufragados pelos Madeirenses, decidiu apoiar os Clubes essencialmente por carências de ordem financeira destes, mas de igual modo pode dar por terminado (ou definir outras orientações) quanto a esse apoio, se considerar que os pressupostos, então invocados, não foram atingidos.
Poderá haver um “dever” de apoiar mas não há razão em apoiar sem que haja evolução ou rentabilização por parte dos clubes.
Na maioria das situações os clubes não souberam corresponder adequadamente ao enorme esforço financeiro disponibilizado pelo Governo. Se é certo que o Governo procura dinamizar os clubes, estes acomodam-se, ao ponto de se dizer claramente que sem o apoio do Governo os clubes, sem excepções, estavam condenados a voltar às origens.
É no desconhecimento gerador da confusão, da mentira e do boato que a oposição política procura tirar dividendos, apoiando agora o que sempre contestou, confundindo ainda mais os que estão pouco ou nada familiarizados com o fenómeno desportivo.
As amarras parecem rebentar quando o presidente do Governo, Dr. Alberto João Jardim, aborda, de novo e com toda a legitimidade, a questão do “clube único”. Não fala em retirar apoios mas em centralizar apoios num único clube (no que concerne ao futebol profissional), tornando-o mais forte e com mais capacidade para vir a lutar sempre por objectivos maiores, o mesmo é dizer, obter eficácia na vertente desportiva e, consequentemente, maior projecção da Região no País e no estrangeiro.
A Madeira atingiu um grau de Autonomia e desenvolvimento tal que não faz agora sentido apoiar projectos que não sejam vencedores e não estejam ao serviço da Região. A questão abordada pelo presidente do Governo Regional está no consciente da maioria dos madeirenses sensatos, que ninguém tenha dúvidas.
É bem sintomático de que os actuais clubes pouco têm feito para viverem sem as ajudas do Governo e que estas não se têm dirigido preferencialmente para a formação e fomento de valores genuinamente regionais.
A questão de fundo nem estará no montante dos apoios, mas em saber se os clubes são ou não merecedores de continuarem a receber apoios sem o cumprimento de objectivos, até porque estes são também entidades empresariais e estão naturalmente obrigadas a seguir métodos de rigorosa e objectiva gestão, a começar pela gestão dos recursos humanos.
O que a maioria dos madeirenses questiona é se vale a pena investir tanto para tão fracos resultados e menor aproveitamento que têm vindo a ser registados pelos nossos Clubes, principalmente na vertente do futebol profissional. Valerá a pena também pensar-se na “conveniência” de construção de novos estádios, quando é sabido que as audiências nos estádios de futebol são cada vez menores e que o Estádio dos Barreiros dá e sobra para as necessidades até porque os clubes de futebol têm já suficientes estruturas para treino.
A manter-se o actual quadro de apoios e com o anunciado figurino para os campeonatos nacionais que, ao que tudo indica, passa pela redução de clubes nas competições, os clubes da Madeira vão sentir ainda mais dificuldades para chegarem aos lugares cimeiros. Depois há todo um conjunto de factores a envolver os clubes que constituem razão mais que suficiente para que se faça uma séria e profunda reflexão sobre a participação das equipas da região nos campeonatos nacionais.
A criação de um “Clube Representativo” da Região não colide com a história e a continuidade dos clubes existentes. Nem faz sentido que assim não seja. Cada clube tem a sua história e deve manter-se intocável, com novos projectos e ambições adequadas ás capacidades de cada instituição. O clube único não visa acabar com os clubes, como alguns fazem crer, mas apenas criar condições para poder promover a Madeira ao mais alto nível, a intrometer-se na luta pelos títulos nacionais e europeus. Com o actual quadro de apoios, a Região muito dificilmente terá um clube a lutar para atingir tais objectivos numa forma sustentada.
Se dúvidas existem, pergunte-se aos madeirenses.

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