quinta-feira, 21 de abril de 2005

Asas para o desporto madeirense

O desporto sempre me fascinou quer como praticante quer como mero espectador e, desde criança, vejo o desporto como uma grandeza de afirmação das regiões e dos países em todo o mundo. Os grandes eventos desportivos como os Jogos Olímpicos, em todo a sua diversidade de modalidades, o futebol (considerado em muitos países como desporto-rei), o automobilismo, o ténis, o golfe, e tantas outras modalidades desportivas sempre me fascinaram, acontecendo, certamente, o mesmo a centenas de milhões de pessoas em todo o mundo. Não imagino um país sem desporto.
O meu grande pesar e discordância vai para a forma como frequentemente se conduz o desporto, dando-lhe uma imagem mercantilista, meramente financeira, com jogos de interesses económicos e investimentos de aparência duvidosa e obscura, emergindo, por via disso, interrogações sobre se há ou não comportamentos menos nobres que desvirtuam e deturpam a estabilidade e a matriz do desporto, na sua verdadeira essência.
A Madeira é, inegavelmente, uma região de deporto. Desde sempre e cada vez mais se assume como das Regiões do País com mais recintos desportivos, mais praticantes, mais técnicos especializados e mais colectividades. Não é exagero se dissermos que a Madeira, com uma população residente da ordem das 250 mil, está na liderança do desporto em Portugal, em quase todas as modalidades. Uma pequena Ilha que tem mais de duas dezenas de atletas participantes nos Jogos Olímpicos, que tem atletas de várias modalidades a competirem na primeira linha do desporto nacional e internacional, em campeonatos da Europa e do Mundo, só pode figurar no topo do desporto do seu país.
Os valores sociais, culturais e educativos que a Madeira beneficia com este “boom” desportivo parece-nos carecer de uma mais significativa projecção mediática, séria e objectiva, para que todos se apercebam claramente do que se está a passar na Região Autónoma da Madeira, no âmbito do desporto. Fala-se e especula-se dos jogos, dos recintos, dos resultados das partidas, dos orçamentos das associações e dos clubes, dos encargos e dos investimentos feitos nalguns eventos desportivos. Fala-se naquilo que é mais visível, com mais impacto, mas pouco ou nada se diz sobre a monumental obra que o Governo Regional criou na Madeira e no Porto Santo, em todas as frentes sociais, culturais e desportivas.
Não tenho dados e não posso precisar números, mas estou convicto de que a Madeira é das regiões do país que mais cresceu na área do desporto, como, de resto, em muitas outras áreas. A pujança que o desporto madeirense tem hoje no país é deveras excepcional e temos que reconhecer que não foi fácil sair de uma extrema limitação de estruturas desportivas, com clubes a viver das fracas receitas dos seus associados, dos jogos, de uns concursos e das célebres quermesses realizadas no Almirante Reis e na Quinta Vigia, que os clubes podiam alguma vez progredir, sair da ilha e competir ao mais alto escalão do desporto nacional, europeu e mundial.
Todos se recordam da inadmissível situação que teve que passar o Marítimo para ingressar nos “nacionais” de futebol, tornando-se no primeiro clube português, de fora do rectângulo continental, a participar nos campeonatos nacionais. Diremos que foi um vexame para os madeirenses e para todos os portugueses não residentes em Portugal continental, quando qualquer clube de qualquer parvónia do Continente tinha acesso livre à participação nos campeonatos nacionais.
Agora não há milagres nem nada que dure para sempre. Ensina-se a andar, apoia-se a dar os primeiros passos, participa-se nas primeiras batalhas para que não haja decepcionantes falhas de percurso, até que, chegado o momento oportuno, a razão e o bom senso, inevitavelmente aconselham que cada um siga, o seu próprio caminho. Faz parte da vida. O Governo Regional certamente não deixará de “apoiar” os clubes, enquanto entender por necessário, por todas as razões e mais algumas que são sobejamente conhecidas, nomeadamente porque os clubes (no panorama actual) não têm meios para estarem a competir no alto patamar que é sempre desejado. Mas pode o Governo alertar os clubes (como há muito o vem fazendo) para reverem as suas opções competitivas tendo em atenção que a salvaguarda do interesse da Região está acima de qualquer outros intentos individuais incapazes de prosseguirem, por si só, projectos sustentáveis.
Os clubes entraram numa politica de contratações de atletas e de equipas técnicas (em grande numero sem o nível esperado ou desejado) de fora da Região que, em nossa opinião, não correspondem ao espírito nem ao desejo dos madeirenses. São muitos “estrangeiros”, que por pouco que sejam os seus vencimentos são sempre custos irrecuperáveis e que pouco ou nada vieram trazer de novo ao desporto regional. Muitos inclusive, apenas vieram dar uma imagem negativa ao desporto regional, quando sabemos que há jovens madeirenses à espera de oportunidades e que não lhes têm sido dadas em número suficiente para poderem evoluir.
Antes de se contratar tantos atletas, de menor qualidade, no exterior, seria muito mais proveitoso contratar bons treinadores, criar bons gestores desportivos, para ajudarem o desporto regional no seu todo. É preciso encetar mudanças, sem correr riscos desnecessários, para que não se continue a “derramar” avultadas verbas que podiam estar a ser investidas, maioritariamente, nos atletas madeirenses, e em projectos de real interesse para a projecção da nossa Região.

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