quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Hostilidades do poder central

A Madeira não pode o governo mandar fechar! O que pode o governo PS é fazer como tem feito até agora, cortar por todos os meios ao seu alcance tudo quanto possa estrangular financeiramente a Região e por consequência dificultar ao máximo a vida dos madeirenses




“Sérvia sem o Kosovo não é Sérvia”, esta frase foi proferida esta semana por um Bispo sérvio. As populações do pequeno enclave do Kosovo querem a independência, ao que dizem, por estarem fartos de governos que apenas se lembram do Kosovo quando há “chatices”, quando ocorrem “conflitos” e quando surgem manifestações contra o “poder central”. Pelo contrário, quando “baixam a cabeça” e quando “aceitam servilmente as decisões” da República, não há violações aos direitos dos kosovares e até recebem algumas visitas dos governantes em “paz e com esmolas”.
Ao lermos estes excertos entre comas acorre-nos algo de semelhante ao que se passa entre Portugal continental e a Madeira. Não ao ponto de se subscrever a frase do Bispo sérvio-kosovar, ou seja, que seria o mesmo que dizer que “Portugal sem a Madeira não seria Portugal”. Portugal seria e será sempre Portugal, com ou sem a Madeira. Portugal foi fundado em 1143, é o mais antigo país do velho continente.
Também a Madeira não é o Kosovo. A começar por um arquipélago não ser um território com fronteiras terrestres. A semelhança poderá legitimamente colocar-se no plano das intenções. Se os kosovares querem chegar à independência, invocando factos e razões históricas fundamentadas, por que não hão-de alcançar o objectivo ?. Se os governos da República da Sérvia passam a maior parte dos mandatos de costas voltadas para o Kosovo, a que propósito podem opor-se a que um povo queira constituir a sua própria nação e livremente eleger os seus governantes?
As partes e o todo entre o Kosovo e a Madeira, na engrenagem governamental ou do poder central, residem no desfasado tratamento que é dado por quem está à frente dos destinos da República. O tratamento que o governo da República de Portugal está dar à Região Autónoma da Madeira é como se este arquipélago fosse uns quaisquer rochedos no Atlântico, habitado por um povo sem princípios e a vier à margem dos demais povos que integram o todo território português.
A Sérvia não quer dar um tratamento digno ao Kosovo mas quer que os kosovares tenham um comportamento igual aos que dentro do Estado sérvio recebem permanentemente. Depois vem o governo dizer que os kosovares são hostis, desenvolvem acções fundamentalistas, travam lutas separatistas. Um discurso algo idêntico ao que diz o actual governo da República portuguesa em relação aos madeirenses.
Definitivamente o governo socialista português não quer nada com os madeirenses. Se a Madeira fosse um departamento do Estado o governo PS já há muito tinha mandado encerrar e mandava os trabalhadores para o desemprego. De algum modo, o mandato do encerramento da Universidade Independente (UN), onde o primeiro-ministro obteve o seu diploma em engenharia, deixou no ar a ideia de que o governo mandou fechar a universidade depois das dúvidas e alegadas falcatruas sobre a licenciatura do cidadão José Sócrates. A UN não era propriedade do governo, era uma entidade privada, mas a verdade é que foi o governo quem mandou fechar as portas, depois da polémica que se gerou sobre a dita licenciatura.
A Madeira não pode o governo mandar fechar! O que pode o governo PS é fazer como tem feito até agora, cortar por todos os meios ao seu alcance tudo quanto possa estrangular financeiramente a Região e por consequência dificultar ao máximo a vida dos madeirenses. É a pressão feita sob a capa da contenção das despesas e de uma política de rigor financeiro para, ao mesmo tempo, andar o governo socialista a derramar milhões em iniciativas que não têm nenhum retorno.
Se, na verdade, o governo da República (socialista) de Portugal vê na Madeira e nos madeirenses obstáculos às suas estratégias político-partidárias deve clarificar bem o que quer em vez de andar a criar intrigas entre os portugueses. Nada melhor para esclarecer as dúvidas do que o governo socialista avançar para um consulta popular (referendo) aos portugueses que nasceram e vivem neste arquipélago sobre o que pensam de Portugal e como desejariam que a Madeira fosse no futuro.
É certo que os referendos em Portugal têm dado para o torto, isto é, os poucos até agora realizados não foram nada favoráveis aos intentos dos governos da República. O último dos quais, sobre a despenalização do aborto, deu um resultado que deixou os portugueses sem saber se a maioria dos eleitores (que não votou) votam a favor ou contra! Uma centelha mais abortiva não podia ser. Ganhou o “sim” porque o “não” deixou-se ficar em casa. No entanto, para que o aborto, isto é, a despenalização do aborto fosse aprovada, o governo da República insistiu em dois referendos, em datas diferentes, com desfechos antagónicos. Mas tanto insistiu que acabou por ter nota mínima suficiente para poder passar à letra (morta) da lei.
Um referendo sobre a futuro da Madeira, com ou sem a soberania portuguesa, como põem em causa os socialistas, pensamos nós que seria um alívio para aqueles governantes que nada querem com os madeirenses. Um belo exemplo, entre aspas, dá o primeiro-ministro José Sócrates que está há dois anos e cerca de seis meses nas funções de chefe do governo de Portugal e ainda não teve tempo para visitar oficialmente a Região Autónoma da Madeira. Esta ausência, sem especulações fáceis que possam ser feitas, é bem elucidativa. Mas ainda quando a Madeira fica a pouco mais de uma hora de Lisboa e o primeiro-ministro, apesar da sua azáfama diária que ocupa todo o seu tempo, seja muito viajado. Talvez o primeiro-ministro português mais viajado desde que Portugal foi fundado.

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