sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

Desalojados

Delapida-se o património Nacional em favor de um país estrangeiro enquanto que, a Região Autónoma da Madeira, parcela ainda Portuguesa, é traiçoeiramente penalizada a coberto de atitudes revanchistas que põem em causa o cumprimento de objectivos desenvolvimentistas da Região e a própria coesão nacional


Faz na próxima segunda-feira (1 de Janeiro) trinta anos que era noticiado, pela primeira vez, que mais de 400 mil desalojados das ex-colónias tinham regressado a Portugal. Mais tarde o número aumentou para 500 mil e houve quem afirmasse que o total de retornados do ultramar ultrapassava os 600 mil. Pessoas que foram obrigadas a deixar tudo quanto tinham em Angola, Moçambique e Guiné Bissau, nomeadamente nestas três ex-províncias portuguesas, para salvar a vida que estava a ser duramente ameaçada.
A questão da descolonização tem sido tratada aos mais diversos níveis e narrada por militares, políticos, escritores e por quem nunca terá posto os pés em qualquer um destes territórios. São tantos os escritos que perdemos a conta e seu conteúdo. A África portuguesa, entre aspas, foi para alguns um paraíso de riqueza e de bem estar enquanto que para outros foi um inferno que levou à morte jovens militares inocentes na guerra contra guerrilheiros treinados e habituados a viver na dureza do clima e das matas traiçoeiras.
Recentemente veio à baila, uma vez mais, o acidente aéreo que matou Sá Carneiro, Amaro da Costa e os demais acompanhantes que faziam viagem na mesma avioneta que saiu de Lisboa em direcção ao Porto. O mistério do acidente continua, apesar do autor confesso da bomba que fez explodir o aparelho estar vivo e tenha dado uma entrevista, há poucas semanas, a uma revista editada em Lisboa.
Neste caso, parece ter havido pressa em concluir o processo ou demorou-se o tempo suficiente para que fossem vencidos todos os prazos possíveis de retomar as investigações. O caso está dado definitivamente por concluído sem se saber quem esteve por detrás do atentado.
A questão do atentado que matou Sá Carneiro e a questão da descolonização do ex-ultramar português, têm ligações enquanto actos não devidamente esclarecidos. Houve pressa comprometedora em desmobilizar as forças militares portuguesas destacadas e de dar, por qualquer preço, a independência a Angola, Moçambique, Guiné Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, sem cuidar devidamente os interesses do Estado, das pessoas e respectivos bens (a exemplo do que fizeram outros países colonizadores), como houve pressa em anular o poder social e político que Sá Carneiro claramente possuía. Por detrás dos actos estiveram inequivocamente razões políticas e ideológicas.
Quem esteve directamente ligado à assinatura dos acordos para a independência das ex-províncias portuguesas em África foram figuras proeminentes do partido socialista. Foi, na sua base, o partido socialista quem “deu” de livre arbítrio a independência dos territórios aos líderes dos movimentos guerrilheiros que combatiam contra Portugal.
Os socialistas portugueses nunca negaram a sua aproximação aos líderes dos grupos terroristas na luta pela independência e que lutaram contra Portugal, destruindo bens, cometendo crimes selváticos em populações indefesas, com matanças à catana que as fotos da época revelam.
Mário Soares e seu filho João Soares tiveram grande afinidade com Jonas Savimbi, líder da Unita, brutalmente morto pelos militares do MPLA, partido que está no governo de Angola. Almeida Santos e outros socialistas nunca esconderam as boas relações com o líder da Frelimo, Samora Machel, que esteve à frente do governo de Moçambique até que veio a morrer num acidente de aviação, também cuja causa nunca foi claramente esclarecida. Jonas Savimbi e a Unita bem como Samora Machel e a Frelimo lutaram contra Portugal, foram inimigos de Portugal. Não estamos em condições de afirmar que os socialistas mencionados lutaram ou conspiraram contra o seu próprio país, apenas das afinidades que tinham com inimigos de Portugal.
Recentemente, por ocasião da visita a Moçambique, o primeiro-ministo/secretário- geral do partido socialista, perante a incredibilidade da maioria dos portugueses, “ofereceu” àquele novel país parte importante e emblemática do património do Estado português que ainda restava em Africa, a barragem de Cabora Bassa. Delapida-se o património Nacional em favor de um país estrangeiro enquanto que, a Região Autónoma da Madeira, parcela ainda Portuguesa, é traiçoeiramente penalizada a coberto de atitudes revanchistas que põem em causa o cumprimento de objectivos desenvolvimentistas da Região e a própria coesão nacional.
As novas gerações estão a passar à margem desta crua realidade e os livros, muitos deles escritos por escribas com interesses desconhecidos, narram aquilo que a linha de orientação lhes é favorável ou pedida. Faz bem afirmar que Portugal tinha que sair de África e deixar os territórios para os africanos, que já não fazia sentido a presença portuguesa naqueles territórios quando outras potências já tinham dado a independência às suas colónias. Estes argumentos fazem sentido como também o de acabar com o envio de jovens militares para uma guerra que todos sabiam que nunca Portugal sairia totalmente vencedor. Tudo isto faz sentido. Só que as independências, não tendo sido “preparadas” em situação política anterior, tudo teria sido bem diferente e legítimo com o advento do regime democrático.
O que os livros não contam é que nestes territórios ex-portugueses já morreram, em situação de guerra, muito mais africanos, depois que foi concedida a independência, do que durante os catorze anos de guerra contra Portugal e talvez durante os cerca de 500 anos de colonização portuguesa bem como as condições sociais e de vida se degradaram de forma cruel e aviltante.
O socialista José Sócrates durante a visita que fez este ano a Luanda referiu que agora existe um “novo” Portugal e uma “nova” Angola mas seria bom saber qual o verdadeiro sentido dos vocábulos “novo e nova.”
O passado não se limpa com a passagem de uma esponja. Isso é falso e é fugir às responsabilidades. Sempre defendemos a transparência em tudo aquilo que aos portugueses diz respeito e é mau andarem a esconder a verdade dos factos às novas gerações.
Portugal (embora nunca tendo sido um bom administrador no sentido dos gerais interesses da Nação), foi uma potência mundial que teve territórios na Ásia, na América do Sul e em África, mas tudo perdeu. Alguém contou a verdade dos factos, com objectividade, em poucas linhas e sem rodeios?
Passados 30 anos ainda é grande a dor sentida por muitos desalojados portugueses das ex-colónias.

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