quinta-feira, 14 de julho de 2005

Charutos para Saddam

O antigo presidente do Iraque, Saddam Hussein, alegado culpado da morte de milhares de pessoas e das maiores atrocidades que o povo iraquiano alguma vez sofreu, vive hoje numa cadeia de Bagdade à espera de ser julgado dos horrendos crimes que cometeu. Dizem as crónicas que a prisão onde se encontra é um “hotel” se comparado com o buraco onde as tropas americanas o foram encontrar e que as televisões transmitiram para todo o mundo. O seu refúgio nem ar puro nem luz do sol recebia. Na cadeia onde se encontra parece sentir-se como se nada tivesse acontecido, nada tivesse feito e nada soubesse do que se passou.
As acomodações prisionais parecem dar razão à frase que diz que o crime compensa. O “matador de Bagdade” está bem e diz-se pronto para comparecer em tribunal e negar as acusações de que é alvo. O mesmo discursos que fazem todos os ditadores quando são apanhados e vão para a prisão.
Saddam Hussein está a ter um tratamento VIP. Da cadeia faz regularmente encomendas de charutos cubanos Havana, através da Cruz Vermelha Internacional, que depois são satisfeitas pela filha do ditador. Uma ousadia e uma astúcia que nem Adolf Hitler ousou alguma vez tentar. Aliás, Hitler, ao que consta, terá se suicidado logo que viu as suas ambições megalómanos estarem a cair por terra e as derrotas militares no fundo do poço. O fim dos ditadores, tal como o “carniceiro de Bagdade”, devia talvez ser sempre o mesmo.
Saddam na prisão a pedir charutos cubanos Havana é ou não uma preocupação? Mais ainda quando há milhares de iraquianos a viver em péssimas situações, sem os mínimos de condições de vida, sem dinheiro e sem meios económicos para comprar os produtos considerados de essenciais quando Saddam dá-se ao luxo de pedir charutos cubanos. Mais provocante ainda é ver estes e outros desejos serem satisfeitos quando há milhares de presos em todo o mundo que por actos bem menores ou quase insignificantes nem água têm para beber.
Os prisioneiros de Guantanamo, cadeia situada na zona sul da ilha de Fidel de Castro, Cuba, mas que é propriedade dos EUA, estão encurralados e amarrados como se fossem animais, apesar dos protestos dos organismos internacionais de defesa dos direitos humanos. De certeza que os prisioneiros de Guantanamo, em território cubano, não pedem charutos de Havana, apesar de estarem no país onde os famosos charutos são produzidos.
Pelo contrário, Saddam está numa prisão onde nada lhe falta e rodeado de especiais medidas se segurança. Não com a preocupação que possa fugir mas preocupados com a sua segurança. Começam a correr notícias que muitos dos atentados suicidas que estão a ocorrer no Iraque são do seu conhecimento. Não seria de espantar tendo em atenção a rede de informações corruptas que proliferam no país.
O que humanamente se questiona é como é possível aguardar tanto tempo para julgar um homem como Saddam? Não há provas? Os milhares de pessoas desaparecidas, as prisões superlotadas de adversários políticos, os relatos de pessoas, a contestação de chacinas em série, as invasões que fez aos países vizinhos, as ameaças que lançou à comunidade internacional, não representam nada?
Será justo tratar um prisioneiro com tanta compaixão quando sob as suas ordens aconteceram mortandades e atrocidades? Será justo questionar se um homem que mata deliberadamente não deve pagar com a vida? Qual quê de leis internacionais, do sempre-perdão! Será que nos campos de guerra quando os militares são atacados pelo inimigo não devem disparar para não matar quem os querem matar? Quantos militares foram obrigados a dispara para se defenderem e nessa acção acabaram por matar. Quem disse que “quem com ferro mata, com ferro morre”?
Sei que estas palavras, rudes porventura, podem ferir algumas susceptibilidades, mas é muito difícil ver alguém estar a ser protegido, bem tratado, quando maltratou, assassinou, criou um ambiente de terror a milhares de pessoas, estar a ser tratado como um cidadão normal, que sempre respeitou o seu semelhante.
Para Saddam nem charutos nem muitas outras coisas mais que possam exceder o razoável a um prisioneiro que tanto mal fez ao seu povo e ao mundo. Quem mal faz, mal deve receber. A não ser que esse mal feito tenha subjacente resultados imprevisíveis, provoque perturbações insanáveis ou qualquer tipo de doenças.
Há sempre cura para os males, menos para aqueles como os assassinos em série, os ataques suicidas e as perseguições feitas à revelia.
Que se olhe para o mundo com coração aberto à humanidade, com solidariedade, respeitando o nosso semelhante tal como queremos ser respeitados. O mundo está criado, ao homem caba a missão de dar o seu melhor em prol de uma sociedade sempre mais justa e mais fraterna.

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