quinta-feira, 13 de janeiro de 2005

Os papo-secos estão de volta!

Limpar a eito; cortar em frente; disparar à menor suspeita; nunca dar conversa aos “turras”. Foram tantas as vezes que ouvi estas recomendações, quando estive em Angola a cumprir o serviço militar, que apetece-me conduzir estas frases para os lados dos empatas da política portuguesa. Limpar a eito, abrir fileiras e ir em frente sem perder tempo. Penso que só assim poderemos fazer qualquer coisa de jeito por este Portugal amordaçado, entorpecido e intelectualmente doentio.
Andamos a ver as mesmas caras a falar das andanças da governação, da economia e de todas as áreas, quando nada fizeram que não fosse falar, falar, falar. E pela forma como falam parece que o País está a afundar-se, que os portugueses estão malucos e que a culpa do atraso é dos que mandam e não também dos que nada fazem para mudar. São figuras apalhaçadas que abordam as questões sérias como quem come um papo-seco.
Sãos os papo-secos da politiquice, canhotos, que passam a vida a descer e a subir pelo mesmo corrimão das ideologias de séculos passados, com amigalhaços a cada esquina e prontos a prometer o que sabem ser impossível fazer. Apontam o dedo aos que fazem da política uma profissão levada muito a sério, que trabalham e apresentam resultados dos trabalhos realizados, mas encolhem-se quando alguém lhes pergunta: Há quantos anos está na política? O que tem feito objectivamente? Que resultados concretos pode revelar? Pois, é. Calam-se. Andam desde que a política em Portugal foi aberta. Pegaram nas linhas e passaram a fazer “ponto cruz” e “garanito”. Mas não sabem pegar na agulha e então vão distribuindo o bordado acompanhado de misérias do governo e das entidades públicas.
A campanha eleitoral só começa oficialmente a 6 de Fevereiro, até lá não é permitido falar de projectos nem prometer às populações seja o que for. Esta regra pode funcionar no estrangeiro mas em Portugal é como se não existisse. Os partidos há muito que estão em campanha, embora os PSD e o PP, que ainda estão no governo, não tenham as mesmas possibilidades que a concorrência. Os papo-secos aproveitam o facto do PSD e PP estarem ainda presos do governo para atacar e vão mordendo maldosamente, nalguns casos, com a única intenção de desgastar os responsáveis social-democratas e os centristas.
O ataque sujo que foi feito ao ministro Morais Sarmento, pela deslocação que fez a São Tomé e Príncipe, em serviço e em nome do Estado português, ilustra a desvantagem de quem tem que acatar as directrizes de governante frente aos que apenas têm a preocupação de produzir acusações. Pelo que conhecemos do ministro Morais Sarmento, naquele momento, o seu desejo era poder falar cara-a-cara, sem ambiguidades, em plano de igualdade. Talvez por isso quis pedir a sua demissão, entretanto não avançada.
Os papo-secos vivem destes ataques soezes, com carradas de fermento bolorento, sem se preocuparem minimamente com a vida do País, o bem-estar e o futuro das populações. Jorge Sampaio está, pela segunda vez, na China. Primeiro fez o que tinha a fazer para agradar ao seu partido e os que estão à sua esquerda. Dissolveu a Assembleia da República, sem qualquer justificação e, de seguida, marcou novas eleições. Numa altura em que a campanha política já anda pelo País, Sampaio, responsável pela antecipação eleitoral, mete-se no avião e vai para a China. No oriente vai revendo a rota das especiarias traçadas nos velhos mapas de viagens, estando-se nas tintas para o que pensem os portugueses. Os papo-secos são mais do que muitos.
Espantosamente, para poder tempo de antena, Manuel Monteiro vai desenterrar questões antigas, mais que velhas e ultrapassadas. Os madeirenses se um dia quiserem defender a tese da independência nunca será através de um não-madeirense. Manuel Monteiro ainda é dos continentais que pensam que os madeirenses não sabem como gerir os seus destinos, que não sabem definir e prosseguir o seu futuro, como até sabem distinguir o que é sério e anedótico nacional.
Limpar a eito, e já. Deixem os papo-secos a fermentar até um dia azedarem.

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