quarta-feira, 15 de dezembro de 2004

Presidente metido em “sarilhos”

Nos últimos tempos estão a acontecer factos em Portugal que jamais pensei que alguma vez pudessem vir a acontecer. E vou directamente aos acontecimentos: “Sampaio é bandido, aldrabão, mentiroso”, ouvi, “ipsis verbis”, no noticiário da Antena 1 (RDP), estação pública, propriedade do Estado, no noticiário das 19 horas, do dia 14.12.2004.
Fiquei pasmado! Contestavam os habitantes de Canas de Senhorim que querem que a freguesia passe a concelho. Uma pretensão igual à que tem o Caniço, freguesia do concelho de Santa Cruz, que também quer passar a concelho. Os habitantes de Canas de Senhorim, não sabemos precisar se na sua totalidade, afirmavam que o Presidente da República lhes tinha prometido a passagem da freguesia a concelho e, até agora, nada terá sido feito nesse sentido.
Se a promessa foi feita (que não sabemos), sabe-se lá porque razões e em que circunstâncias, devia ser viabilizada, mais a mais quando é feita pelo Presidente das República. Se há razões que impeçam a passagem de Canas de Senhorim de freguesia a concelho também deviam de ser explicadas. O pior que pode haver na política e particularmente na acção do Presidente da República ou de qualquer Governo é não esclarecer a opinião pública e deixar no ar dúvidas que põem em causa a credibilidade das pessoas e instituições.
No entanto, nada pode justificar os epítetos e a agressividade que os habitantes de Canas de Senhorim manifestaram, em alto e bom som, contra o Presidente da República. O Dr. Jorge Sampaio não é um ditador de um país do terceiro mundo nem os portugueses uns trogloditas que se comportam como se não tivessem o menor grau de educação e de civilização. Nenhum cidadão português, de um país que é Estado-membro da União Europeia, que é a Nação mais antiga do velho Continente, tem direito a atirar-se ao Presidente como se este fosse um “aldrabão e mentiroso”.
Isto acontece no Continente (no Portugal Continental) onde tudo parece ser permitido e permissivo, onde todos falam do que sabem e do que não sabem, fazendo valer os mais primários actos de má educação. Quando se ouvem estas graves afirmações contra o Presidente da República, com a Antena 1 (RDP) a pôr no ar, nos noticiários, aberrantes epítetos, somos levados a interrogar em que país estamos e que povo é este para acusar o mais alto representante do Estado de “bandido, aldrabão e mentiroso”. Só nos países do terceiro mundo é que situações destes podem acontecer.
Estranha-se, também, que Jorge Sampaio, sendo Chefe de Estado, não tenha accionado mecanismos, perfeitamente ao seu alcance, para pôr termo a tanta “barbaridade”. Nem a postura e atitudes da população de Canas de Senhorim, por muito banalizada que esteja a democracia, tem o direito de chamar os nomes que bem entendem ao Presidente da República nem de proceder como andam a proceder já há muito tempo. Haja respeito pelos cargos de soberania. Quando um povo não respeita o Chefe de Estado, vai respeitar quem!
O Presidente Jorge Sampaio nos últimos tempos tem andado numa roda-viva nem sempre fácil de entender. A mais gritante foi a decisão da dissolução da Assembleia da República e a consequente queda do Governo presidido por Santana Lopes, sabe-se lá porquê. Jorge Sampaio não foi claro, não deu a conhecer aos portugueses a razão que o levou a provocar a queda do Governo. Na verdade, a grande maioria dos portugueses ainda hoje questiona porque motivo terá a assembleia sido dissolvida?
No Conselho de Estado do passado dia 10, do corrente mês, viu-se de que lado estavam os conselheiros. Os escolhidos por Jorge Sampaio para o Conselho de Estado obviamente que votaram a favor da tese do presidente, o presidente do governo dos Açores, bem como Mário Soares e Ramalho Eanes, entre outros. Contra a dissolução da Assembleia da República votaram Alberto João Jardim, António Capucho, Paulo Portas, Santana Lopes e Mota Amaral. Dos 18 conselheiros que estiveram presentes, 12 votaram a favor, 5 contra e 1 abstenção. Uma decisão tipo “golpe de Estado”, como definiu e bem o presidente do Governo Regional da Madeira. De resto não há memória que alguma vez algo semelhante tenha acontecido em Portugal.
O presidente Jorge Sampaio está a viver a última fase da sua função de presidente e espera-se que seja para esquecer. Não só não consegue despir a farda socialista como está a deixar os portugueses desencantados. Uma governação ao bom estilo socialista que tem uma enorme facilidade em prometer mas depois porta-se como se nada tivesse prometido.
Até agora nada justifica estes comportamentos. Nem a decisão de Jorge Sampaio de dissolver o Parlamento, nem o povo de Canas de Senhorim chamar Sampaio de “bandido, aldrabão, mentiroso”, têm justificação.

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