quinta-feira, 23 de dezembro de 2004

Natal da diferença na igualdade

Todos queremos, de boa fé, que neste Natal haja tempo para festejarmos sem ódios, sem maldade e com o pensamento num mundo melhor. Não basta dizer nem fazer por agradar sem vontade própria. Não basta as acções fugazes, aparentes, tentando apressadamente tapar o fosso. A construção da vida faz-se com permanência, intervindo em concordância e exaltando os valores. Todos aqueles que pensam que o hoje será igual ao amanhã acabam por perder as pistas da vida.



Chegar ao Natal é como chegar ao princípio de um mundo que se deseja sempre melhor. É um Nascimento que se renova na esperança da solidariedade, da justiça e da paz. Todos os anos milhões de mensagens correm o universo com este sentimento crente em Jesus que muito O amamos para além daquilo que somos e pensamos ser.
Gostaríamos que este nosso mundo humano fosse racionalmente mais humano, mais preenchido pela fé e pela tolerância. Que os homens pensassem que todos somos iguais na diferença e diferentes na igualdade. Que agissem por vontade do melhor e não se deixassem iludir pelas fáceis aparências, pelos “demónios” que pululam com capas sem cor, pelas falsas promessas e pelos enganos comprometedores que deixam mossas muitas vezes irrecuperáveis.
Gostaríamos que os líderes da política, da economia e da cultura mundiais fossem menos cépticos, deixassem de esgrimir forças que vão atingir gravemente milhões de seres humanos indefesos. O universo humano não é nem nunca será um teatro de fantoches à mercê de uns quaisquer habilidosos que, sem escrúpulos, tentam manobrar os atilhos como bem entendem.
Gostaríamos que a intervenção dos governantes tivesse uma maior, mais sincera e transparente objectividade. Que a palavra de quem tem o poder governamental não deixasse margens para dúvidas, não fosse nunca ambígua e que houvesse respeito pelas sensibilidades. Ter sempre presente que o povo é também um ser humano e que, embora infelizmente não conheça todos os seus direitos, por motivos educacionais e culturais, pode vir para a rua, em liberdade, e tomar posições que em nada abonam a democracia ou outro qualquer regime.
É verdade que fiquei chocado quando, há poucos dias, ouvi, pela rádio, cidadãos deste meu país, a chamar o presidente do meu país, Dr. Jorge Sampaio, de “bandido, aldrabão e mentiroso”. Não pode haver, seja qual for a causa desta raiva, actos desta natureza. O presidente do meu país, seja de que partido for, que figura física tenha, seja católico ou agnóstico, nunca pode ser acusado de “bandido”. Porque nego-me a acreditar que qualquer que seja o político do meu país, esteja em que cargo estiver, não pode ser tratado a um nível tão reles. Mais a mais o presidente do meu país. O regime democrático cuja conquista tão efusivamente festejamos, deve, a todo o custo, evitar-se que apodreça. Ensine-se que liberdade não é o mesmo que libertinagem. Ponha-se urgentemente o orgãos competentes do Estado a funcionar para que, no futuro, possamos viver Natais em paz e verdadeira liberdade.
Mas, por favor, sejam cultores de mais verdade entre os homens. Tenham mais sentido pelas coisas da vida, dêem mais atenção ao mundo real, deixem de proteger os incautos e de valorizar os que apenas gravitam em redor por um oportunismo desenfreado. Na Madeira, ilha pequena e com cerca de 260 mil habitantes, aparecem, de vez em quando, uns indivíduos que não conseguem ver a diferença na igualdade e dai fazerem uma confusão maldosa. Tentam atirar pedras, criar inimizades e desvalorizar o que existe.
Todos queremos, de boa fé, que neste Natal haja tempo para festejarmos sem ódios, sem maldade e com o pensamento num mundo melhor. Não basta dizer nem fazer por agradar sem vontade própria. Não basta as acções fugazes, aparentes, tentando apressadamente tapar o fosso. A construção da vida faz-se com permanência, intervindo em concordância e exaltando os valores. Todos aqueles que pensam que o hoje será igual ao amanhã acabam por perder as pistas da vida.
Neste humilde artigo em época natalícia, não consigo, também, abstrair-me da guerra, da fome, das atrocidades, da violência, da insegurança, do desrespeito pelos valores. O Iraque tem sido, nos últimos tempos, o cenário mais mediático da guerra mas sabemos que há pelo mundo tantas ou mais guerras quiçá mais contundentes que a guerra que decorre em território iraquiano. Entenda-se lá porquê? Quando vemos povos a morrer à fome, jovens destruídos pela droga, as cadeias superlotadas, milhões de seres humanos a viver nos limites da sobrevivência.
Que Natal! Meu Deus. Paz para todos, sem excepções.

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