quinta-feira, 15 de julho de 2004

Perigos da (des)informação

O poder do “IV Poder” deixou de haver! Perdeu-se a substância para dar guarida ao menos importante! Um escândalo passou a ser o alimento predilecto, os leitores são desassossegados, a sociedade condena, todos têm direito a julgar, e alguma Comunicação Social vai incendiando cada vez mais a chama até mais não poder. Nunca se falou e escreveu tanto para dizer tão pouco.


O facto da oposição criticar o governo é uma atitude normal, faz parte do seu estatuto de opositor. Tem essa missão ingrata de procurar descobrir falhas no desempenho governativo, de seguir atentamente os passos do poder, ir até aos limites da pesquisa para obter uma nota que possa reverter em arma de arremesso contra quem governa. A oposição denuncia as falhas e tenta cativar o eleitorado. É o seu contributo à democracia se for desempenhado de forma inteligente, construtiva e não demagógica.
Neste papel da oposição reconheço, por vezes, algum mérito. O que me choca verdadeiramente é ver alguma Comunicação Social tomar partido nas posições assumidas pela oposição, desvirtuando por completo a sua função que é de informar tal como a notícia se apresenta. Quando sai fora da sua função natural a Comunicação Social está a prestar um mau serviço, a deturpar a informação e a pôr em causa a própria credibilidade noticiosa.
O poder do “IV Poder” deixou de haver! Perdeu-se a substância para dar guarida ao menos importante! Um escândalo passou a ser o alimento predilecto, os leitores são desassossegados, a sociedade condena, todos têm direito a julgar, e alguma Comunicação Social vai incendiando cada vez mais a chama até mais não poder. Nunca se falou e escreveu tanto para dizer tão pouco.
Depois que o Dr. Durão Barroso aceitou o convite para presidente da Comissão Europeia a oposição entrou em paranóia e a Comunicação Social a dar a cobertura. De um momento para outro um terramoto político aconteceu em Portugal. Ainda ontem ouvia-se a Antena 1 (estação emissora do Estado) que o Dr. Durão Barroso corre o risco de não ser presidente da Comissão Europeia, depois de já ter perdido o cargo de Primeiro-Ministro de Portugal. Alegava o jornalista que, na votação marcada para o próximo dia 22, no Parlamento Europeu, os deputados do grupo PSE (Partido Socialista Europeu) ameaçam não votar no português. Esta “inventona” e outras atitudes assumidas pela estação do Estado, fazendo o papel de oposição rasca em todo o processo que envolveu o convite honroso ao Dr. Durão Barroso e à eleição do Dr. Santana Lopes, é bem o exemplo do que acontece mantendo um socialista à frente da TV do Estado. É verdadeiramente o que se chama “dar tiros nos próprios pés”. Agradeça-se ao Ministro da tutela.
Votem os socialistas contra ou a favor, o Dr. Durão Barroso será presidente da Comissão Europeia durante os próximos cinco anos “2004/2009”. Os jornalistas deviam saber isto como deviam saber que o ex-Primeiro-Ministro português não ia aceitar um cargo sem ter a certeza absoluta que o mesmo estava garantido. Que a oposição lance para a opinião pública esta e outras atoardas ainda podemos compreender, razões estratégicas para ver como reagem os menos atentos, agora vir a Comunicação Social divulgar este tipo de notícia é frustrante e desolador.
Também esta semana, o futuro Primeiro-Ministro, Dr. Pedro Santana Lopes foi contemplado com muitas (des)atenções por parte da mesma Comunicação Social. A mais hilariante foi a de que o líder do PSD estava em dificuldades para formar Governo. A notícia era repetidamente dada como se o Dr. Santana Lopes andasse a pedir “esmolas” por todo o País para “arranjar” um Ministro quando, nesta como noutras situações de constituição de elenco governativo, todos sabemos que a oferta é sempre muito superior aos lugares disponíveis. A questão de fundo está no saber eleger a pessoa que melhor perfil apresenta para desempenhar determinado cargo.
A confiança na pessoa para o lugar indicado é da inteira responsabilidade do Primeiro-Ministro. Nem a oposição sabe as razões e muito menos a Comunicação Social. Noticiar sem saber é especular e o resultado de tais procedimentos só pode redundar na descredibilização. Choca-me verdadeiramente a notícia especulativa. Pode uma deturpada notícia estar a cometer um grave crime quando, ao invés, podia conter toda a informação real dos factos para que pudesse prestar uma informação devidamente fundamentada e credível.
Estamos nos primeiros anos de século XXI com uma Comunicação Social cada vez mais perdida entre o que é notícia pela notícia e a desinformação. Vêem mais interesse no “nivelado por baixo” que as notas positivas do progresso. Há muito que se diz que no atraso de Portugal na Europa está alguma desinformação veículada pela Comunicação Social portuguesa. Um pesadelo que o “IV poder” terá que resolver para evitar que o “verdadeiro poder” caia na rua, na brutalidade e na desconfiança. Até um dia…

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