sábado, 17 de julho de 2004

A mais antiga aliança do mundo

Esta velha aliança entre a Inglaterra e Portugal não terá tido a reciprocidade de interesses comuns entre os dois povos mas foi provavelmente muito favorável para permitir aos cidadãos ingleses chegar, demarcar e vencer. (...) Seria interessante sobretudo para os historiadores, lançar para a opinião pública, levar ao conhecimento das novas gerações, os efeitos práticos (os teóricos não fazem parte da história dos tempos que correm) que a mais antiga aliança do mundo trouxe para a Madeira.


Ainda a Madeira não era conhecida dos portugueses e já Portugal tinha feito uma aliança com a Inglaterra, cuja data indica para Junho de 1373. Dizem os compêndios que esta aliança é a mais antiga do mundo, coisa que é sempre de duvidar, uma vez que, com toda a certeza (!), ninguém sabe se na época ou em épocas mais recuadas houve ou não alianças entre Estados soberanos.
Nem há documentos sobre todas as alianças entre nações. Mas ainda quando no século XIV (1373) o planeta terra era praticamente desconhecido em termos da sua total extensão física e humana.
Há relativamente poucos anos tive acesso à leitura de um documento que descreve a Madeira como tendo sido descoberta pelos genoveses muitos anos antes da chegada dos portugueses. Como outros escritos levantam dúvidas sobre outras datas, outras conquistas, outras proezas e propriedades intelectuais.
Nem a data certa da chegada dos portugueses à ilha do Porto Santo é assumida como tal. Estamos a falar com base em escritos. Dizer-se que a aliança Portugal – Inglaterra é a mais antiga do mundo é históricamente bonito, mas à luz do presente, não vimos que tenha havido grandes vantagens nesta aliança, a não ser para determinadas castas monárquicas que dividiam entre si poderes e patrimónios, desconsiderando os que não pertenciam ao “sangue do mesmo sangue”.
Os madeirenses mais atentos sabem os efeitos práticos que os ingleses trouxeram para a ilha, como tambem sabem os apelidos dos que se instalaram na Madeira desde bem cedo. É verdade que nem tudo deve ser visto como do explorador europeu que chegou à América, à África e à Ásia, e logo tomou como seu o espaço territorial que melhor entendeu, sem que os indígenas pudessem esboçar qualquer reacção. Não, nestas situações como noutras a chegada destes povos trouxeram também mais valias e que, em relação á Madeira, são ainda bem visíveis.
Sabem os madeirenses quem durante muitos anos dominou a economia da ilha, quem detinha os monopólios do açúcar, do vinho, dos transportes, dos bordados e de outros sectores. Sabem os madeirenses a quem pertenciam as grandes propriedades, as sumptuosas quintas, muitas das principais riquezas da ilha.
Sabem, mas talvez fosse altura de saberem um pouco mais, de dar a conhecer às novas gerações madeirenses o lugar que os ingleses ocupavam na sociedade da ilha explorada, do povo ilhéu a viver no limiar da pobreza, escravos do capital e das ditaduras estrangeiras protegidas pelas ditaduras do governo central português. Não se pretende dizer que os ingleses foram um povo explorador dos madeirenses mas foram donos de muitas partes de uma Madeira à mercê de quem tinha meios para chamar a si o que lhes desse melhor jeito e não se lhes conhece vontade individual ou colectiva na tentativa de mudar o rumo dos acontecimentos.
Hoje a situação é diferente graças às mudanças reformistas proporcionadas pela Autonomia. Contudo uma “nova colonização” de contornos soezes, de agressão aos madeirenses, surgiu através de meios de comunicação social, de capitais ingleses, declaradamente hostis e revanchistas relativamente ao Presidente do Governo Regional, lançando mão da falácia, da omissão e da censura aos actos do Governo, fazendo deste modo um descarado e miserável frete a comunistas e socialistas.
A velha aliança entre a Inglaterra e Portugal não terá tido a reciprocidade de interesses comuns entre os dois povos mas foi provavelmente muito favorável para permitir aos cidadãos ingleses chegar, demarcar e vencer.(...) Não temos notícia que portugueses tenham “montado” riquezas em território inglês. No sentido inverso, há muitas riquezas acumuladas de ingleses em território português. Não há notícia que a Inglaterra se tenha empenhado em ajudar Portugal a aproximar-se da evolução europeia, quando era conhecimento de todos que Portugal era o país mais pobre da Europa, com uma pobreza secular, com um padrão de vida a nível do dos países subdesenvolvidos.
Pode pensar-se que uma aliança entre países, mais ainda no século XIV, não tem a função do padrinho a ajudar o afilhado, do rico a dar esmolas ao pobre, mas podemos pensar que uma aliança tem sempre subjacente determinados interesses. Nem nada nos diz que a aliança Portugal-Inglaterra não terá favorecido à expansão dos ingleses na ilha.
Seria interessante sobretudo para os historiadores, lançar para a opinião pública, levar ao conhecimento das novas gerações, os efeitos práticos (os teóricos não fazem parte da história dos tempos que correm) que a mais antiga aliança do mundo trouxe para a Madeira.
Seria sem dúvida um bom contributo para melhor entender-se a história da Madeira, o fim das “invasões”, as imposições da ditadura, o como (?) surgiram as grandes propriedades de castas familiares que iam do mar à serra, povoadas por “colonos” vergados ao trabalho de sol a sol e que de seu apenas tinham para seu sustento” parte” dos produtos que cultivavam.
Seria uma oportunidade para compararmos a ilha dos “ingleses” e dos “colonizadores portugueses” com a Madeira actual em que através da “lei da colonia” se fez a verdadeira reforma agrária e se pôs fim à “escravatura agrícola” que reinava em toda a região; da democracia, do progresso, da Autonomia e de outros “sonhos” com morada em permanência no pensamento dos madeirenses. Apenas isto!

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