segunda-feira, 9 de março de 2009

O incompreensível futebol português

Com tanta demagogia e artificialismo as mentiras passam a verdades. Está demonstrado que o futebol em Portugal está excessivamente promovido como se fosse a salvação da Pátria. Se não houver ninguém a colocar um sinal vermelho neste desvario futebolístico, mais cedo ou mais tarde, a descrença e o choque serão bem mais violentos.



Exigimos muito pouco e queremos ter o que têm os outros países do futebol. Dinheiro, grandes clubes, super jogadores, estádios cheios e dirigentes com escola. Queremos mas não temos e o futebol português não passa de jogadas e de fintas espontâneas e superficiais, sem continuidade e sem alicerces. Tão fácil chega às vitórias como logo perde onde menos esperam os adeptos.
Portugal não tem bases nem condições financeiras e sociais para ter o futebol que quer ter. Faltam princípios e pilares que vão muito além do número de jogadores federados, dos campos relvados ou sintéticos assim como de uma necessária credibilidade.
O futebol português anda manco, sem ritmo próprio, incaracterístico, tal é a quantidade de jogadores contratados no exterior de inferior qualidade quando comparados aos futebolistas nacionais. Paulo Bento, treinador do Sporting, está a dar uma bofetada com luva branca a todos aqueles que dizem não haver jogadores com qualidade em Portugal e que por isso têm que contratar futebolistas no Brasil e noutros países.
Andamos a vários anos a viver num incompreensível futebol português. Os casos duvidosos são muitos, as incertezas pairam em todos os jogos com o gasto e ferido argumento de que todos os resultados são possíveis. Há sempre desculpas e atenuantes para os resultados negativos como há também resultados positivos que são enganadores.
Que seria de Portugal sem o falso milionário futebol? Um país sem nada para dizer, sem discussões que a nada conduzem, sem festas e sem motivos para debater o estado da Nação. O futebol nunca teve tanta relevância no nosso país como tem tido nos últimos anos.
Parece que a sociedade portuguesa gira à volta do futebol quando acontece precisamente o contrário. Cada vez menos espectadores nos jogos, os clubes cada vez mais endividados, as suspeitas de corrupção a crescerem e as receitas a ficarem muito aquém das despesas, mesmo quando surgem orçamentos a mostrarem lucro.
Como alguém dizia, um presidente de um clube com futebol profissional tem mais tempo de antena na comunicação social que o presidente da República, de um industrial ou comerciante empreendedor de mérito, de um pedagogo. Isto diz tudo! Por aqui se pode aquilatar da relatividade que os portugueses dão ao estado da Nação. Incrédulos devem estar aqueles que diziam que o antigo regime fazia do futebol, do fado e de Fátima o ópio do povo.
Tudo isto é um absurdo. Portugal não tem capacidade para ombrear com países como Espanha, Itália, Alemanha, Inglaterra e outros países onde o futebol é também a modalidade rainha. Mas pelo facto de conseguir alguns êxitos na competição internacional (a nível interno o futebol há muito que bateu no fundo) leva a que se faça pirâmides de vitória como se o país no seu todo ganhasse com isso ou conseguisse sair da envergonhada posição dos mais pobres países da União Europeia.
A quinta (coluna) do futebol alberga os mesmos dirigentes há vários anos, assumindo-se como insubstituíveis, patrões ou donos dos clubes, da federação, da Liga e das associações. Sem eles o futebol seria uma catástrofe. Fazem tantos “sacrifícios” para estarem à frente dos clubes mas na hora das eleições brigam como gatos assanhados, jogam com todas as cartas, para não perderem o tacho ou visibilidade na comunicação social ou algo semelhante. Veja-se as eleições (impugnadas) na Liga.
O futebol profissional em Portugal é uma mentira. Está podre. Apitos Dourados, corrupção, árbitros, dirigentes, gente sem beira nem eira sobem na sociedade à custa da fácil promoção que a comunicação social lhes dá. E nem se perde tempo a saber se há relações de causa e efeito. Não há corruptos sem corruptores.
Basta um golo, uma vitória, para que o estado da Nação passe do mal de que padece para o estado da exaltação momentânea e quase doentia. Portugal perde um título de campeão da Europa para a também pobre Grécia, quando jogava em casa e gastou cerca de dois mil milhões de euros com dez estádios de futebol, sete dos quais se encontram hoje praticamente às moscas.
Veio um técnico brasileiro, trazendo consigo uma equipa de marketing que fez do hino e da bandeira das quinas um vulgaríssimo “show de bola”, com tanta desfaçatez que nem deu para avaliar tamanha insensata vulgaridade. Milhares de portugueses levados na onda cinzenta do futebol, todos os dias a todas as horas nas ondas da rádio, da televisão, dos jornais e revistas, foram sendo arrastados para a loucura do acontecimento que acabou sem vitória. Com o extraordinário desplante de que perdemos mas fomos vencedores!
Portugal está com futebol a mais e cultura (educação, saúde, economia, qualificação profissional e noutras áreas) a menos. Não temos competitividade internacional naquelas áreas que fazem os países serem mais produtivos e mais desenvolvidos, com uma qualidade de vida superior. A bola rebenta por todos os gomos e nem dá tempo para se possa ver para onde foram parar os milhões de euros investidos em contratos de jogadores e treinadores estrangeiros. Por onde começa e acaba a corrupção.
Com tanta demagogia e artificialismo as mentiras passam a verdades. Está demonstrado que o futebol em Portugal está excessivamente promovido como se fosse a salvação da Pátria. Se não houver ninguém a colocar um sinal vermelho neste desvario futebolístico, mais cedo ou mais tarde, a descrença e o choque serão bem mais violentos.

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