quinta-feira, 10 de abril de 2008

A visita do Presidente

Os governos e os chefes de Estado têm ou não orgulho da Madeira do presente, com o notável progresso alcançado nos últimos 30 anos, ou não aceitam o desenvolvimento registado como um bem para o país no seu todo? É chegado o momento de encarar de frente a realidade, de colocar tudo sobre a mesa, pondo termo a um chorrilho de disparates que alguns governantes e políticos andam levianamente a dizer da praça pública.



O Prof. Aníbal Cavaco Silva vai estar na Região na próxima semana, naquela que é a sua primeira visita como Chefe de Estado. Já cá esteve algumas vezes, quer quando foi Primeiro-Ministro, quer como conferencista em eventos relacionados com a actividade económica-financeira. Ouvimo-lo tecer elogios à política de desenvolvimento seguida nesta Região Autónoma como também vimo-lo dançar o bailhinho da Madeira, como também o sentimos acorrentar legítimos anseios de toda uma população no que concerne ao alargamento das competências autonómicas. Sempre nos deixou a imagem de um homem pragmático, decidido, sensível às mudanças que ocorrem pelo mundo e atento aos ecos do Portugal humano.
As suas origens algarvias, mescladas e consolidadas de mar, turismo, pescas, agricultura, e com as vicissitudes de todas as regiões distantes da capital do país, terão tido especial influência na sua formação e terão sido decisivas para a carreira política e de governante que tem vindo a cimentar.
Sendo um homem frontal e inteligente gostaríamos de vê-lo abordar, sem tibiezas, matérias como: descolonização; globalização; descentralização; o atraso português na Europa comunitária; a justiça; o índice gritante de pobreza no país; a fundação de novos países em todo o mundo (que não apenas o Kosovo) e o que representa a Região Autónoma da Madeira para Portugal, nos tempos de hoje, em que, no quadrojurídico europeu não existem Estados Unitários.
Se aprovaria a realização de um Referendo sobre o futuro da Madeira, com votos apenas dos madeirenses naturais, residentes e nas comunidades. Em questão: Autonomia; Federação ou Independência? Sem medos.
Estamos no século XXI e é preciso que se acabe com os tabus da hipocrisia, do fingimento, da falsa propaganda continental contra os madeirenses. Urge pôr fim a campanhas politiqueiras que vão ao ponto de questionar o portuguesismo dos madeirenses, com insinuações graves como a de no Continente andarem a dizer que os madeirenses vivem à custa dos continentais.
O que é a Madeira para Portugal? O que representa a Madeira para Portugal? O Estatuto Político e Administrativo da Região, aprovado por unanimidade e aclamação na Assembleia da República é posto em causa e tornado inepto pelo Tribunal Constitucional, Órgão que mereceu, esta semana, os maiores elogios por parte do Presidente da República Não se pode viver na dúvida, no “parecer-ser”, corroendo a verdade dos factos. Os governos e os chefes de Estado têm ou não orgulho da Madeira do presente, com o notável progresso alcançado nos últimos 30 anos, ou não aceitam o desenvolvimento registado como um bem para o país no seu todo? É chegado o momento de encarar de frente a realidade, de colocar tudo sobre a mesa, pondo termo a um chorrilho de disparates que alguns governantes e políticos andam levianamente a dizer da praça pública.
O Prof. Aníbal Cavaco Silva sabe o que era a economia da Madeira antes de Abril de 1974, como funcionavam os poderes nesta Região e o atraso em relação ao Continente, e sabe como foi sendo conduzido o processo de desenvolvimento por parte do Governo Regional sob a liderança do Dr. Alberto João Jardim, tal como sabe hoje situar a Região no todo nacional e europeu. O arquipélago transformou-se em três décadas como da “noite para o dia”, venceu os piores patamares de pobreza, do analfabetismo, da sobrevivência económica, da colónia doentia e de uma sociedade governada sob regras rígidas e impositivas do governo central.
Os madeirenses fizeram mais por Portugal em 30 anos do que Portugal fez pelos madeirenses em mais de cinco séculos. Como economista e ex-membro do Banco de Portugal, o Prof. Aníbal Cavaco Silva sabe o que representaram as reservas (depósitos nos bancos) dos madeirenses residentes e emigrantes para as “contas públicas” de Portugal no período da grande instabilidade financeira que por pouco o país não caiu na bancarrota. A Madeira foi, de algum modo, o “mealheiro” de recurso que contribuiu para que Portugal se libertasse das “garras” do FMI. Numa fase de grande alarido comunista com todas as tentativas possíveis e imaginárias para apoderar-se do poder.
O Professor sabe o porquê das campanhas orquestradas no Continente contra a Madeira? E sabe que os madeirenses sempre estiveram na primeira linha de combate contra os inimigos de Portugal. Como sabe que já não há espaço para alimentar polémicas entre a Madeira e o Continente, que a autonomia e a liberdade são bens adquiridos e quando não se consegue chegar ao bom senso, reconhecer com gratidão, há que tomar decisões.
É doentio ouvir políticos e governantes continentais ora criticarem os madeirenses com os piores epítetos ora a tecerem os mais rasgados elogios. O povo madeirense merece respeito, sabe o que quer, e por isso não pode continuar a admitir “ataques de terrorismo verbal” contra a Madeira.
A visita do Presidente da República, com todo o seu staff, merece que seja dada atenção ao posicionamento e relacionamento entre a Região e o Continente, a todos os níveis. A “paz podre” enfraquece e deixa rastos doentios. Ou somos ou não somos!

11.04.2008

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