quinta-feira, 4 de outubro de 2007

São ilusões

Tenho para mim que Portugal é, governamentalmente, uma desilusão. Somos a nação mais antiga da Europa mas ao mesmo tempo a nação mais velhaca, ingrata em si, com sentimentos de inveja pelo sucesso dos outros


Que mal fez a Madeira para que o primeiro-ministro de Portugal evite conhecê-La oficialmente? Que faz o presidente da República perante intencional discriminação? Que opinião têm os líderes da oposição ante um governo que ignora parte do território nacional e cerca de 250 mil portugueses? Por fim: Como reage o representante da República na Região se o Chefe de Estado e o Chefe do Governo dão mostras que nada querem com o arquipélago, hoje com o Estatuto de Região Autónoma, onde os navegadores do Infante chegaram em 1418?
São questões que deviam merecer respostas concretas. Os madeirenses descendem, maioritáriamente, dos portugueses como os portugueses descendem de povos vindos do norte de África e de outras latitudes. Se no princípio eram bárbaros, sem linhagem política e não só, que apenas estavam preocupados em ganhar territórios a qualquer preço, quando vamos a caminho de mil anos da formação do Condado Portucalense e quando o barbarismo há muito que está enterrado, nada justifica alimentar combates fratricidas o entre regiões do próprio país.
Se pegássemos nas afirmações que os governantes e os políticos nacionais fizeram (e fazem) sobre a Madeira e levássemos tudo a peito, a ranger os dentes e de punho fechado, sem ajuizar cada momento e circunstâncias envolventes, os portugueses andavam toda a vida em batalha campal. Era o sul contra o norte, Lisboa em tréguas com o Porto, a Madeira em luta com o Continente e os Açores à pega noutras frentes.
Tenho para mim que Portugal é governamentalmente uma desilusão. Somos a nação mais antiga da Europa mas ao mesmo tempo a nação mais velhaca, ingrata em si, com sentimentos de inveja pelo sucesso dos outros.
Na qualidade de português orgulho-me do desenvolvimento da Madeira e do Porto Santo, sem estar obcecado pelo bairrismo ilhéu, pela ordem natural de que estas ilhas são ainda parte integrante do território português.
Preocupo-me com outras regiões que ainda não alcançaram o crescimento que merecem, quando deviam já ter conseguido, mas não vou sossegar até que todas as regiões estejam num mesmo patamar de evolução, mesmo sabendo que a igualdade, na sua essência, é sempre impossível mas estando convicto que a nossa luta deve estar motivada, hoje e sempre, para evoluirmos mais, atingirmos metas mais além. Não é parar, não é ficar a olhar para trás que se chega mais à frente, é traçar novos desideratos para que o amanhã seja melhor para as gerações que vêm a seguir.
A personagem do actual primeiro-ministro de Portugal deixa ver, para muitos milhares de portugueses, que não tem uma visão humanista, uma radiografia social do país. As perguntas iniciais têm razão de existir. Que faz o primeiro-ministro para reforçar a unidade nacional, para a evolução conjunta do país, para que Portugal saia dos Estados mais pobres da União Europeia? A presidência portuguesa da UE, de 1 de Julho a 31 de Dezembro deste ano, tem evitado que os problemas do país sejam aflorados como deviam, mas sabe-se que há muita podridão escondida, muito formigueiro pronto a saltar para a praça pública.
Sentimos, como todos sentem, que o dia a dia dos portugueses está pior, que as famílias estão mais endividadas, que o desemprego é preocupante e que já há cerca de 50 mil licenciados inscritos nos centros de emprego à procura de um posto de trabalho, que o governo não tem conseguido tirar proveito das políticas feitas nas áreas da fiscalidade, da saúde, ensino, administração pública, entre outras. Que a dívida interna e externa do país aumentou nos últimos anos, que mais capital estrangeiro tem entrado em Portugal mas pouco para mais investimentos, versus mais postos de trabalho. Pelo contrário, mais investimento estrangeiro, nomeadamente espanhol, tem surgido para a compra de património, de propriedades e de terrenos que pertenciam a portugueses.
Governar um país que não regista evolução só pode ser decepcionante. Há melancolia governativa na República que se apresenta bem enfeitada, auto-convincente, com ministros a dizerem coisas que depois o primeiro-ministro vem desdizer. O “caso novelesco” do local do novo aeroporto para Lisboa (a norte ou a sul do Tejo) é uma pequena amostra do desnorte e imcopetência governamental. É como se vê. Há uma prepotência estulta dos falcões no governo socialista da República. Mas há também figuras bufas, intrusos, narcisistas e dependurados no discurso fácil do “coronel” José Sócrates. Ele próprio, agarrado às palavras que as vai moldando tentando (mas sem conseguir) que se traduzam em acções governamentais bem sucedidas.
São ilusões atrás de ilusões.
Portugal continua a ser um país adiado!

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