quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Governos policiais

Temos bem presente o que foi a ditadura do Estado Novo e os cerca de 47 anos da ditadura que teve em Salazar o líder absoluto. Temos a memória fresca do partido único (União Nacional/Acção Nacional Popular), dos presos políticos em Caxias e no Tarrafal, do medo aterrador que perseguia quem tivesse opinião contrária, da polícia de investigação que actuava passando por cima de tudo e todos, dos informadores (bufos) que andavam por todo o lado, do país amordaçado, maioritariamente analfabeto e com uma população apegada a um sector terciário de fracos recursos.
Comparar o passado com o presente, no que respeita ao estilo de governação absolutista, vemos que as pontas se ligam em muitas e variadas frentes. O governo PS não terá herdado o estilo absolutista de governos socialistas anteriores em Portugal, apesar de fazer parte da mesma família partidária, mas estará muito próximo do estilo de governação que vamos encontrar em países onde a ideologia socialista domina a seu bel-prazer.
Nada melhor para se configurar o presente com o passado senão comparar a postura do actual governo com a Madeira. Se no tempo de Salazar os madeirenses eram considerados portugueses de segunda, sujeitos as migalhas que o governo do Estado Novo bem entendia contemplar os ilhéus portugueses, no presente o governo volta a ter requintes de carrasco para com os madeirenses. Salazar nunca visitou a Madeira, enquanto chefe de Estado (a única vez que visitou a região foi a convite do Ateneu Comercial do Funchal, no princípio dos ano 20 do século passado, anos antes de ter entrado para o governo da República), também José Sócrates, o chefe de Estado que mais tem viajado, ainda não teve tempo para visitar oficialmente a Madeira, a única vez que esteve na região foi para conversar com os seus camaradas socialistas locais, ignorando a grande maioria do povo madeirense.
Perante esta realidade não nadaremos longe se dissermos que o Portugal de hoje tem muito de identificação com um Governo-Estado ditatorial e policial. Tem metaforicamente censura ou exame prévio, tem procedimentos a fazer lembrar a tristemente célebre Pide-DGS, coarcta a liberdade de manifestação, não ouve nem atende os cidadãos, pensa e decide orgulhosamente só (a fazer lembra o Estado do governo chefiado por Salazar) e não quer ver o rumo de frustrações que o país está a seguir.
O actual governo tem tiques e atitudes em nada diferentes dos governos de ditadura comunista-socialista da América Latina, de África ou do continente asiático. As medidas que toma não surtem efeitos positivos, a taxa de desemprego atinge a percentagem recorde da ordem dos 8 por cento, superior à taxa média da União Europeia que é de 6,5 por cento, as tentativas para baixar a inflação têm saído frustradas, o governo quer avançar com mais privatizações (EDP, etc.) em desespero para alcançar a meta prometida dos 3 por cento.
Somente num Estado policial podemos ver a polícia a entrar de surpresa na sede de um sindicato de professores de onde leva documentos, dias antes do primeiro-ministro visitar a escola que frequentou quando adolescente; um jornalista da RTP denuncia alegadas intromissões do governo na informação noticiosa; o governo ordena inquéritos para apurar os responsáveis pelas manifestações contra o chefe do executivo; são feitas acusações sobre a manipulação de notícias; é visível o abafar das contestações às políticas do governo e alegadamente a perseguir quem ousa levar por diante os direitos de liberdade de expressão.
Neste seis meses de Portugal na presidência europeia (faltam pouco mais de dois meses para acabar com o grandeza fingidora), o governo socialista tem andado em bicos de pé ao lado de governantes do topo europeu. Os assuntos internos, de maior fôlego, têm passado à margem ou estão adormecidos, não há tempo para resolver os problemas que o país tem mas há tempo de sobra para andar de um lado para outro na correria europeia. Internamente o país está parado.
Esta governação socialista não é propriamente uma novidade, em termos de procedimentos e considerações, mas é talvez a que mais se aproxima da governação totalitária, manietando a liberdade dos cidadãos e impondo regras como se o povo português tivesse um governo policial. Um governo que não dialoga, que vive fechado ao exterior, que desconhece o país tal como é, não pode ser nunca um bom governo.
Espera-se que terminado o consulado da presidência europeia, que muito jeito tem dado ao governo e em particular ao primeiro-ministro, as questões que mais preocupam os portugueses entram na agenda diária da política nacional. O ano de 2008 servirá de antecâmara às eleições que se avizinham. Será difícil corrigir tantos erros e fazer esquecer o descontentamento existente.
Como escreveu Churchill: “os fracos governos são pertença dos fracos governantes”. O governo socialista poderá ser um caso semelhante. O presente parece ser esta realidade, o futuro dará resposta mais consistente

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