sexta-feira, 22 de junho de 2007

Verdades escondidas

...outro ministro diz que a única localidade para construir o novo aeroporto de Lisboa é na OTA mas depois já aceita que seja feito um estudo sobre a localidade de Alcochete mas não permitindo que se ponha em causa sequer a hipótese de se manter o aeroporto da Portela conjugado com outra alternativa. É que, ao que parece, o importante da questão são os negócios imobiliários que resultam do eventual encerramento do aeroporto da Portela. As certezas e incertezas são tantas que os portugueses ficam sem saber onde começa e acaba a verdade



A estação do Verão acaba de começar e o ministro da Administração Interna apressou-se a afirmar que este ano Portugal está bem preparado para combater os incêndios. Disse com a presunção de quem tem a certeza que este ano os incêndios nas florestas portuguesas e não só estão condenados ao fracasso. Obviamente que não pode ter tanta certeza e, por tal, devia ser mais comedido e mais racional. Devia dizer, isso sim, que o investimento que o governo fez em equipamentos de combate a incêndios é superior ao dos anos anteriores mas que não pode garantir, por si só, que os incêndios em Portugal tenham os dias contados.
Esta postura do ministro, recentemente chegado ao governo para substituir o ministro António Costa que saiu para se candidatar à Câmara de Lisboa, é muito semelhante aos demais ministros do governo socialistas, isto é, prometer mas não cumprir. O ministro da Saúde manda encerrar centros de saúde para depois os tribunais darem ordem para reabrir, outro ministro diz que a única localidade para construir o novo aeroporto de Lisboa é na OTA mas depois já aceita que seja feito um estudo sobre a localidade de Alcochete mas não permitindo que se ponha em causa sequer a hipótese de se manter o aeroporto da Portela conjugado com outra alternativa. É que, ao que parece, o importante da questão são os negócios imobiliários que resultam do eventual encerramento do aeroporto da Portela. As certezas e incertezas são tantas que os portugueses ficam sem saber onde começa e acaba a verdade.
Os políticos e governantes do PS têm o condão de tudo tornarem fácil mas na prática não conseguem funcionar e perdem credibilidade. A pesada derrota que sofreram em Maio nas eleições regionais na Madeira não causou surpresa. Os madeirenses não vêem nos socialistas credibilidade para estarem à frente do governo. E quanto mais eleições se vão realizando maior é o desencanto dos madeirenses e dos portugueses em geral pelas políticas socialistas para o nosso país.
Apesar dos portugueses nunca terem sido muito empenhados pelas causas públicas, também não gostam de ser marginalizados nem desconsiderados. Desde sempre que não terá havido muito interesse em saber sobre as causas públicas, uma postura que vem desde os tempos da monarquia, onde o rei e a nobreza tudo sabiam e em tudo mandavam, foi assim nos primeiros tempos da República e com maior visibilidade durante o Estado Novo e, agora que estamos em democracia, a tendência é para deixar a política, a governação e os poderes aos outros. Não questionamos nem somos exigentes. Os portugueses “comem” o que lhes dão e não estão interessados em saber como estão as contas públicas, e a governação do país.
Se os portugueses questionassem a governação do Estado, exigissem seriedade e responsabilidade aos governantes da República muito provavelmente não seria hoje Portugal um dos países mais endividados da Europa, dos mais pobres na comunidade europeia, com um PIB fraco e uma crise que se arrasta cada vez mais penosa e sem soluções à vista, apesar das (falsas) promessas dos governantes da Nação.
Bastará citarmos alguns dados para vermos como há um enorme divórcio entre os governantes da República e os cidadãos. No relatório referente ao sector empresarial do Estado, alusivo a 2005 e divulgado no ano passado, são revelados prejuízos que constratam de forma absurda com a redução e contenção de despesas que os governos da República andam a prometer há muitos anos. Prejuízos de empresas públicas que o Estado admite sem colocar um travão.
Quando as despesas são das Autarquias e dos Governos das Regiões Autónomas, principalmente da Madeira, o Governo central aparece com ameaças de cortes de transferência do Orçamento do Estado (como tem procedido o actual governo PS que montou uma cruzada contra a Madeira), numa atitude de intolerável prepotência que os madeirenses não deixam de registar com todo o desagrado.
Há dois anos, dez empresas públicas, sobre a tutela do governo da República (PS), apresentavam os seguintes prejuízos financeiros: CP, 196,8 milhões de euros; Metro de Lisboa, 162 milhões de euros; Refer, 160,4 milhões de euros; Metro do Porto, 71,3 milhões de euros; Carris, 54,5 milhões de euros; RTP, 31,9 milhões de euros; Sociedade de Transportes Colectivos do Porto, 17,1 milhões de euros; Empordef, 14,6 milhões de euros.
O prejuízo total de estas dez empresas do sector público ascendia, em Dezembro de 2005, a 708,6 milhões de euros, ou seja, em moeda antiga, a cerca de 142 milhões de contos. Mas há muito mais empresas sob a tutela do governo da República que andam a dar prejuízo há vários anos. Quando o actual governo socialista vem dizer que há que apertar o cinto, congelar carreiras na função pública, tributar taxas mais elevadas sobre as pensões dos reformados, e não mete na ordem as empresas que tem sobre a sua tutela, está a comportar-se com dois pesos e duas medidas e a empobrecer os portugueses.

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