quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Um presidente sem poder!

O modo e a forma como Cavaco Silva, na qualidade de presidente da República, abordou a Lei das Finanças Regionais, sabendo do impacto negativo que tem para a vida madeirense e nada fez, quando podia e devia ter usado o veto político, é uma ingratidão que os madeirenses e a nação jamais esquecerão


Quando em 1987, o PSD teve a primeira maioria absoluta em eleições democráticas muito se falou do eleito primeiro-ministro Anibal Cavaco Silva. O PSD mobilizou o país para uma vitória de maioria absoluta com os madeirenses e porto-santenses a contribuírem decisivamente para que Cavaco Silva se tornasse no primeiro líder a governar sem coligações.
O país deu ao Cavaco Silva aquilo que nunca tinha dado a outro candidato a primeiro ministro. Foi a capacidade mobilizadora dos sociais democratas que levaram o professor ao “reino” do poder. O PSD da Madeira empenhou-se como sempre e teve a sua quota parte para a maioria que o PSD nacional veio a alcançar.
Na altura, alguma comunicação social do Continente teceu rasgados elogios ao professor e não teve cerimónias ao colocar a frase: “Cavaco quis, pode e manda”. Quis ser líder do PSD e foi, eleito no congresso do partido na Figueira da Foz, o PSD deu-lhe condições para chegar ao poder e teve o mando da governação em seu poder.
Anos mais tarde, depois de ter se retirado da política activa, contrariado pela oposição e com críticas aligeiradas sobre a comunicação social, ao afirmar: “não leio jornais!”, Cavaco Silva chega a presidente da República uma vez mais com a mobilização total do PSD de norte sul de Portugal continental, da Madeira e dos Açores.
Os madeirenses e porto-santenses depositaram, uma vez mais, o seu voto no professor, esquecendo muitas “ingratidões” que o professor quando primeiro ministro teve para com os madeirenses.
Uma vez empossado no cargo de presidente da República, Cavaco Silva volta a ter a frase da sua ambição estampada mas agora com um pequeno senão: “Cavaco quis, pode, mas...não manda”. Apesar de ter sido eleito com os votos dos eleitores do PSD, ficando à frente dos candidatos socialistas, Mário Soares e Manuel Alegre (por razões que a história um dia qualquer desvendará), Cavaco Silva tomou a vitória como um feito histórico egocentrista, um vencedor apartidário, como se fosse possível ser eleito sem o apoio total do PSD e de grande sector do PS. Uma vez mais a gratidão foi marginalizada.
Cavaco Silva quis ser presidente da República, e foi, quis ter o poder de Chefe de Estado, e tem, mas pouco ou nada manda no país. O seu mandato, ainda que no início, não parece destacar-se da moleza interventiva dos seus antecessores, principalmente Mário Soares e Jorge Sampaio.
Mandatos que não deixaram algo de relevo para o país. A não ser as viagens pelo mundo na rota das descobertas que Mário Soares fez na qualidade de Chefe de Estado com todas as mordomias que o cargo oferece. Célebre no mandato de Mário Soares, em termos de visibilidade com algum humor, foi o passeio que deu em cima de uma tartaruga nas ilhas Sechelles.
Já Jorge Sampaio, do seu mandato, ficou a proeza de dissolver a Assembleia da República e directamente destituir o governo legítimo porque democraticamente eleito.
O Chefe de Estado Cavaco Silva parece seguir as peugadas dos seus antecessores. Pelas posições e decisões que até agora tomou, Cavaco Silva deixa a entender que o poder que tem pouco ou nada vale, que a presidência da República é mais uma das muitas figuras de retórica que existe na democracia portuguesa.
Ou então, como por ai se vai dizendo, Cavaco Silva estará prisioneiro do governo socialista, não querendo contrariar as vontades do PS à espera (o tempo por vezes prega partidas) de ser reeleito com o apoio do PS, uma vez mais com a ingratidão para com o eleitorado do PSD que o elegeu.
Sabe o professor que em política as vitórias do ontem podem ser derrotas do amanhã e não seria a primeira vez que os vencedores logo saem derrotados.
O modo e a forma como Cavaco Silva, na qualidade de presidente da República, abordou a Lei das Finanças Regionais, sabendo do impacto negativo que tem para a vida madeirense e nada fez, quando podia e devia ter usado o veto político, é uma ingratidão que os madeirenses e a nação jamais esquecerão.
Se está ou não refém do governo PS, se o poder de Chefe de Estado, em Portugal, é fraco ou muito fraco, se o voto dos madeirense tiveram muito ou pouco peso na sua eleição só o futuro dará conclusões. Uma coisa os madeirenses estão a ficar esclarecidos, o prof. Cavaco Silva não está a corresponder às expectativas criadas.
Bem no fundo, está a ser uma desilusão para os madeirenses, na onda maquiavélica do primeiro ministro e do governo socialista que elegeram os madeirenses como os inimigos a “abater”.

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