quinta-feira, 24 de novembro de 2005

Segurança é fundamental

Está confirmado que a segurança está nas pessoas, nas comunidades, nas sociedades justas e organizadas. Não se pode pedir segurança numa sociedade onde simplesmente há o estúpido catálogo de “pretos e brancos”, “milionários e pobres”, “cultos e analfabetos”.



Todos os inquéritos feitos aos turistas que se encontravam em Paris, por altura dos distúrbios que ocorreram nos subúrbios da capital francesa, conduziram sempre a uma mesma resposta central: “segurança, é preciso que haja segurança”.
Se formos para os países do médio oriente, para a Ásia, América Latina ou do Norte, para o leste da Europa, a resposta é sempre a mesma “segurança”. As pessoas pedem segurança porque sentem-se inseguras, porque vêem que o mundo está a perder estabilidade e autoridade, porque deixou de haver respeito pelas instituições e perderam-se princípios de conduta que primavam pelo respeito para com os outros.
O mundo está instável, perdeu âncoras que suportavam a sociedade e não deixavam que os baloiços andassem ao sabor dos ventos e marés. Sem segurança vive-se no medo, na ansiedade do que poderá acontecer ou não, retraindo-se quando se devia avançar, lutar pelos pressupostos da globalização partilhada com lealdade, entreajuda, amizade e respeito mútuo. Os desacatos em Paris e arredores são condenáveis por muitas que sejam as assimetrias existentes na sociedade francesa. Não é destruindo que se põe um mundo em construção, não é contestando que se consegue valorizar os nossos ideais nem é com malcriações e falta de respeito para com os outros que conseguimos fazer valer ou alcançar os nossos propósitos.
A Madeira é de facto um “paraíso de segurança” se compararmos ao que vai pelo mundo. Sem que com isto queiramos dizer que não haja focos esporádicos de alguma atitude menos estável. O “paraíso” está exposto a tudo quando vai acontecendo pelo mundo e as repercussões, ainda que palidamente, vão chegando a toda a parte. A Madeira dá aos residentes e turistas uma estabilidade como não vamos encontrar em muitas regiões da Europa e do mundo, não apenas em termos de bem-estar e sentir-se em segurança como em qualidade de vida.
O mundo está a ficar inseguro, os cidadãos levantam questões para as quais não recebem respostas. As falhas e as incompreensões proliferaram nos últimos anos, o bélico expressa-se de várias formas, e todos sentem que viver com as portas e janelas abertas faz parte do passado. No presente, todas as trancas devem ser colocadas nas portas e janelas, sejam nos edifícios da economia, da justiça, do ensino, das finanças, da política e até da religião. O mundo moderno traz-nos outros deveres e obrigações, as vias rápidas, as ligações planetárias, as tecnologias, são produtos da nova era mas não devem ser encarados como produtos do fantástico e do maravilhoso.
A segurança tem de continuar a ser a mãe de todo o bem-estar social. Seja na sociedade civil ou militar, nas ruas e praças das nossas cidades ou nos campos de guerra. Quando há uma mina que rebenta por debaixo de uma viatura militar, apesar de todos os cuidados eventualmente tidos, é porque não terão sido tomadas todas as medidas de segurança, mais a mais quando o carro circula numa estrada de terra batida.
A morte do militar português destacado no Afeganistão tem um pouco a ver com a tal insegurança que sempre existe. Reprovável e intolerável é o aproveitamento despropositado que o governo de Lisboa fez, promovendo um verdadeiro show-off, profusamente difundido pelas televisões, bem à maneira portuguesa, do apego ao mórbido, e que, a par da insistente campanha a favor da (má) decisão da Ota e da maledicência, diariamente debitada nas televisões, pelo candidato Mário Soares, contribuíram para desviar as atenções aos atropelos que o povo vem, diariamente sendo sujeito.
Difíceis de prever são as reacções que demandam de classe sociais intoxicadas de promessas dos políticos. Nos arredores de Paris há bairros com milhões de pessoas desempregadas e sem meios para sobreviver, mas o mesmo vamos encontrar na periferia de Lisboa, com bairros em piores condições de segurança que os bairros franceses, e os políticos da capital e do próprio governo da República levam anos a prometer alterar a degradante situação e nada fazem. Situações idênticas encontramos na periferia do Porto e noutras zonas periféricas das principais cidades do país. A revolta feita a partir do estado de pobreza em que vivem as pessoas tem um outro sentido e um sentimento de descontentamento que deve ser maduramente interpretado.
Está confirmado que a segurança está nas pessoas, nas comunidades, nas sociedades justas e organizadas. Não se pode pedir segurança numa sociedade onde simplesmente há o estúpido catálogo de “pretos e brancos”, “milionários e pobres”, “cultos e analfabetos”. Pode-se não mudar a cor das pessoas, nem há interesse nem se pode, mas já podemos dar um equilíbrio social, construir uma sociedade mais igualitária, promover os valores culturais e educativos, sem que com isto estejamos a criar a demagógica sociedade socialista-comunista que promete tudo para todos e no fundo são os primeiros a criar aldeias isoladas vivendo na pobreza, tal como vamos encontrar nos “paraísos” comunistas da Europa do leste, em Cuba e nalguns países asiáticos.
A segurança é fundamental. Os distúrbios nos arredores de Paris e na própria cidade parisiense deixaram marcas violentas que contradizem com a paz podre e a segurança que pensamos sempre existir.

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