quinta-feira, 10 de fevereiro de 2005

Surpresas na campanha política

Em todas as campanhas eleitorais aparecem políticos ou pseudo políticos sobresselentes. Figuras de surpreendentes contrastes. Amores verdadeiros, amores falsos. Políticos a fazer de conta, a viver das aparências e a vender gato por lebre. Chateiam ou perdem as estribeiras só porque deixaram de constar nas listas ganhadoras, o eleitorado já não os reconhece como candidatos potenciais e, enquanto governantes, não deixaram saudades. Os verdadeiros políticos são os que assumem as suas verdadeiras identidades, são os que têm o sentimento do dever, os que acreditam no país no seu todo, no amanhã.
Não são os que andam à caça dos palcos sob as luzes dos holofotes, fingem ser o que não são e tentam arrebanhar os que por ai andam distraídos. Fernando Pessoa tinha razão: “há uns senhores que falam tão bem que não dizem nada”. Os enganos e desenganos de Freitas do Amaral e Cavaco Silva, quando terão manifestado desejo que o PS ganhe as eleições de 20 de Fevereiro, dizem isso mesmo, “uns senhores que falam e não dizem nada”.
São só aparências, exibicionismo, pseudo sumidades que são directamente responsáveis pelo rico país que é hoje Portugal, na cauda da Europa. Ainda há quem dê credibilidade a estes políticos. Freitas do Amaral sempre se identificou e “morreu de amores” pelo CDS/PP, mas agora está de braço dado com os socialistas. Cavaco Silva fanatizou-se com o PSD mas agora, ao que dizem, oferece-se de cócoras ao PS, apelando ao voto nos socialistas. Dizem… e não ouvimos a voz do próprio desmentir.
As primeiras notícias são as que contam, os desmentidos valem o que valem. Freitas do Amaral e Cavaco Silva apoiem o PS. Este é o filme já vimos várias vezes anunciado. Está agora a ser exibido em Portugal mas já foi visto em muitas salas por esse mundo fora, nomeadamente nos países onde vivem portugueses.
Nem o elogio de José Sócrates a Paulo Portas (uma tremenda gaffe, em plena campanha eleitoral, que pode custar caro aos socialistas) nem a infeliz verborreia de Francisco Louçã ao dizer que José Sócrates não tinha conhecimentos para falar sobre questões relacionadas com crianças, porque não tinha filhos. Insinuou o quê e porquê?
Louçã desconhece que grande parte do eleitorado português tem menos de 25 anos e que com esta idade a maioria dos jovens português ainda não é pai (logo não podem falar sobre crianças!?, segundo o candidato do Bloco de Esquerda).
Depois vem o uso e abuso da bandeira do patriotismo. Vem o hino e as algazarras. Da bandeira e do hino muitos serão os candidatos a deputados e políticos que não sabem decifrar as cores da bandeira das quinas e muitos menos entoar a letra do hino nacional. “Contra os canhões, marchar, marchar!”. É isso mesmo, os canhões que restam ao país estão atolados em museus ou em fortes e castelos abandonados, na generalidade em ruínas. Infelizmente, para muitos dos políticos que aparecem em momentos de eleições, estes são os reais valores pátrios.
Há de facto muita mediocridade política em Portugal. Na política como noutras áreas. Muitas jogadas de interesse, muito colorido e muita gente enganada. A democracia permite que haja tanto barulho na praça pública, e a que, quem a viver no andar de cima, passe a vida a arrastar móveis e a fazer ruídos que incomodam toda a gente, sem lei nem roque, na maior impunidade. E pior ainda é ver-se os doutores da política, como Freitas do Amaral e Cavaco Silva, com ar de quem desconhece o que se está a passar. Fingem e fingem muito bem.
Há anos, por muito menos, Mário Soares terá sido agredido na Marinha Grande e Francisco Assis, também do PS ameaçado pela população para os lados do Porto. Não há registo que alguma vez um político do PSD, em plena campanha eleitorado, tenha sido ameaçado ou agredido. Claro que Cavaco Silva e Freitas do Amaral já fizerem o que tinham a fazer nos seus partidos, agora são, como diz o brasileiro, chapa politicamente enferrujada. Políticos destes, obrigado e boa viagem.
E ainda há, de fora, quem se permita falar da política e das campanhas eleitorais na Madeira. Os partidos e os políticos da oposição na Madeira (a nossa região é a que mais partidos e políticos tem por quilómetro quadrado) ao menos mantém alguma verticalidade, sejam da esquerda ou da direita. Fazem o que podem, estejam a perder ou a ganhar. Já os conhecemos a todos e perdoamos alguns excessos quando não são injuriosos e difamatórios.
No Continente em todos os actos eleitorais surgem uns salamaleques a quererem apanhar todos os comboios que seguem em todas as direcções. Só não querem é ficar apeados.
Haja juízo! Lembrem-se que o eleitorado de hoje não tem a mesma mentalidade de anteriores actos eleitorais de que já não basta anunciar propostas ou subir para palcos improvisados. Esse tempo já lá vai. O presente e futuro trazem-nos outras responsabilidades que só os políticos a sério serão capazes de receber o voto responsável do eleitorado.

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