quinta-feira, 3 de fevereiro de 2005

Os burros da democracia.

As pressões e as tentações para porem em causa os valores que foram sendo construídos na Região Autónoma da Madeira reaparecem com mais persistência sempre que se aproximam actos eleitorais. No resto do tempo, os maldizentes desaparecem ou recolhem às cavernas. Se têm tantas certezas naquilo que dizem, se conhecem bem a realidade dos factos, deviam manter-se activos todo o ano e não serem penduras dos tempos de antena que as campanhas eleitorais lhes oferecem.
É aviltante ver pessoas que nunca fizeram nada na vida política aproveitarem-se dos tempos de antena para deitarem cá para fora as suas angústias e frustrações. Como também é eticamente vergonhoso vermos pessoas que, há poucos meses, na campanha eleitoral para a Assembleia Regional, atacaram miseravelmente o Governo Regional e hoje andam calados como se não soubessem falar. Será porque estavam enganados e agora reconhecem a obra que o PSD construiu em toda a região ou porque alguém os amparou quando mais ninguém os queria? O mínimo que a própria consciência lhes exigia era que, agora, pelo menos fizessem o acto de contrição.
Pessoalmente, não acredito que os burros sejam totalmente burros. Acredito mais que haja burros inqualificáveis, de orelhas moucas, capazes de apregoar em nome da paz quando afinal o que buscam é a guerra. São burros aqueles que querem ser ou os que estão convencidos que os outros é que são burros.
A atitude do Prof. Freitas do Amaral é metaforicamente de burrice. O que o Dr. Manuel Monteiro anda a dizer é figurativamente de burro. O que a maioria dos candidatos a deputado na Assembleia da República andam a dizer é de uma enormidade burriqueira. E passaram-se mais de três décadas que a democracia passou a vigorar em Portugal.
Ouvi na rádio (antena 1 – Madeira) que o Dr. José Sócrates, líder do PS, andou pelas ruas do Funchal a distribuir sorrisos e a passar a mensagem do seu manifesto eleitoral. O azar foi que sempre que se dirigia às pessoas para falar estas eram de nacionalidade estrangeira, sem direito a voto em Portugal. Fica assim explicada a razão do cartaz do PS, espalhado pela Região, a promoção da ideia falaciosa de que Sócrates é candidato pela Madeira. Se isso ainda fosse uma mais valia…
O candidato mostrou não conhecer as características físicas dos madeirenses, o que não é de admirar para quem só se lembra de vir à ilha quando é para pedir votos. São as tais burrices continentais.
Um continental não conhecer os madeirenses não é nada de estranhar. Admiro aqueles que procuram conhecer a história do ilhéu nos seus múltiplos pormenores. Sempre protestei contra aqueles que chegavam à ilha como descobridores de todas as coisas, menosprezando os madeirenses e procedendo como se fossem senhorios da comunidade insular.
O que dizem agora é que há muito continental a vir para a Madeira, a fugir das burrices de lá e a tentarem, de todas as formas e feitios, assentar arraiais na ilha. Esses, para não serem figurativos burros fogem do “desenvolvido”continente para se fixarem na ilha, reconhecendo que afinal estavam enganados. Mas são poucos a reconhecer que estavam enganados do que por lá se dizia.
A entrevista que o Dr. Alberto João Jardim concedeu a uma televisão do continente, num dia desta semana, foi curiosa. Não pelas fáceis respostas dadas pelo presidente do Governo Regional, a que de resto estamos habituados, mas pelas encomendas que o entrevistador intentou impingir. O jornalista pretendeu misturar chicharros com cavalas para depois puxar a brasa à sua sardinha. Tentou, por mais de uma vez, obter as respostas que queira ouvir mas enganou-se redondamente e ficou a saber, uma vez mais, que esta “Madeira Nova” não é somente as vias rápidas, os túneis e as frente-mar, como alguns continentais e alguns opositores costumam dizer.
O pré-juízo deformado dos continentais sobre a realidade madeirense vai continuar. Até porque os governos da República e os políticos do continente não querem que os portugueses do continente conhecem a Madeira nem o Porto Santo. Se conhecessem a Região Autónoma da Madeira, iriam confrontar com as regiões continentais e exigir respostas objectivos a muitos políticos, governantes e até a autarcas. Assim, preferem cultivar a burrice junto do eleitorado continental, junto daquelas comunidades que, infelizmente, não têm meios para virem à Madeira.
Manter as pessoas mal informadas é uma burrice, mas é na ignorância que os políticos continentais conseguem sobreviver. Gostam do “desenvolvimento pobre” nas regiões, do isolamento das populações, porque lhes dá poder. São os burros da democracia.

Sem comentários: