quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Mentira e independência

Antes de se atirarem pedras, a torto e a direito, sobre a opinião de Gabriel Drumond, quando traz para a praça pública a questão da “independência da Madeira” , deviam procurar saber as diferentes etapas que os madeirenses enfrentaram ao longo dos séculos, da pequenez e da escravidão, da fome e da miséria, das ditaduras da Monarquia e da República, das revoltas contra as imposições coloniais dos governos da então designada metrópole e que hoje ainda se manifestam


“O primeiro-ministro mentiu”, disseram deputados no Parlamento da República referindo-se ao chefe do governo, José Sócrates. Disseram no hemiciclo onde estão os representantes do povo, dos eleitores. Disseram os deputados da esquerda, do BE e do PC. É grave tal afirmação ou haverá leviandade na liberdade de expressão?
Seja em que situação se enquadre o “mentir” do senhor primeiro-ministro será sempre alvo de reflexões e interrogações, particularmente para quem tem uma visão imaculada dos governantes e muito em especial para com aqueles que estão na chefia da governação do país. Chamar a um governante de “mentiroso” é fazer desmoronar o conceito de honestidade e de seriedade. Seria impensável aceitar que tal seja verdade! Mas a repetição de “mentir” ocorre por diversas vezes, em diferentes situações e por personagens com responsabilidades que nem era preciso ser lembrado pelos deputados na Assembleia da Republica, por ser já do conhecimento geral.
“O primeiro-ministro mentiu” e mente e isso é sumamente grave para o país mas tal atitude é branqueada por toda a comunicação “sucial”.
Em contrapartida abordar o tema “independência da Madeira” já é um atrevimento sem cabimento como refere a mesma comunicação social.
O sentimento de independência nasce com o homem. O ser livre é ter autonomia dos seus próprios destinos. Não há país que não surgisse de lutas pela independência e aquele que não busca tal pretensão vive escravizado pelo que os seus antecessores fizeram e os actuais governantes impõem. A independência não se pode simplesmente colocar na balança do ser a favor ou contra.
Antes de se atirarem pedras, a torto e a direito, sobre a opinião de Gabriel Drumond, quando traz para a praça pública a questão da “independência da Madeira” , deviam procurar saber as diferentes etapas que os madeirenses enfrentaram ao longo dos séculos, da pequenez e da escravidão, da fome e da miséria, das ditaduras da Monarquia e da República, das revoltas contra as imposições coloniais dos governos da então designada metrópole e que hoje ainda se manifestam.
A “independência da Madeira” tem causas e causadores. Ninguém quer se ver livre daquilo que está ou funciona bem, em plano de igualdade, com lisura e solidariedade. O comportamento do actual governo socialista em relação à Madeira é de ingratidão e de perseguição. Ingratidão por não reconhecer que a Madeira conseguiu desenvolver-se mais em três décadas do que em mais de cinco séculos, graças ao querer e saber dos madeirenses. Perseguição porque o primeiro-ministro José Sócrates vê no presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim, um inimigo a abater.
Quando um governo da República não quer reconhecer que o desenvolvimento de uma região só traz benefícios para o país, é ver-se Portugal a crescer no Atlântico, outra coisa não podemos concluir que não seja revolta pelo facto da Madeira ter evoluído, com as mesmas e menos verbas, que outras regiões do Continente.
Têm os portugueses mais razões para estarem preocupados com o “mentir” do primeiro-ministro que com a “independência” da Madeira. Os factos é que determinam e acabam por justificar as questões e pretensões. Um Referendo sobre a “independência” da Madeira poderia dar um resultado interessante e que talvez fosse útil para os governos da República e para os portugueses do Continente e dos Açores. Chipre, Malta, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, entre outros pequenos países na Europa e no Mundo, fornecem dados a serem consultados para os menos atentos.
Por fim, gostaríamos de deixar esta observação: não é propriamente verdade que a Madeira se tenha desenvolvido à custa das transferências financeiras do Orçamento do Estado, dos dinheiros de todos os contribuintes portugueses. Em absoluto, ninguém sabe dizer em quanto contribuiu a Madeira para os cofres da República e quanto dos governos centrais veio para os cofres da Madeira. Em concreto o que se sabe é que as transferência do orçamento do Estado representam cerca de 13% do orçamento da Região e mesmo assim não se trata de uma dádiva ou esmola mas sim de acerto de contas relativas a cobrança de impostos no continente sobre bens consumiveis na Região.
Esta Madeira que hoje prospera e que é citada como exemplo de desenvolvimento na Europa comunitária deve-se financeiramente muito aos apoios europeus, às verbas dos fundos comunitários que o Governo Regional soube muito bem aproveitar e melhor ainda investir, tirando a ilha do atraso e pobreza em que se encontrava. Foram os fundos comunitários que permitiram o Governo Regional pôr a Madeira no patamar que hoje ostenta.
Não vemos o porquê de haver quem tenha menos pudor pelas “mentiras” do primeiro-ministro do que pela opinião, livre, responsável e democrática, de um cidadão madeirense, deputado no Parlamento da Região.
Ou andam distraídos ou têm sangue de escravos.

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