quinta-feira, 13 de abril de 2006

Revoltas mal contadas

Alguém escreveu recentemente que a Revolta da Madeira, de 4 de Abril a 2 de Maio de 1931, está mal contada, e nós acrescentamos que ainda mais mal contada está a Revolta de 25 de Abril de 1974. Os factos parecem viver enquanto vivem os seus intérpretes directos (vencidos e vencedores, sejam quais forem), depois aparecem a escarafunchar uns tantos historiadores e escritores, comentaristas e palestrantes, sobre as revoltas e as guerras que não conheceram nem lá estiveram.
A guerra colonial que é tomada como causa para derrubar o Estado Novo está mil vezes contada, acrescentada e descontada. Os heróis são sempre os mesmos, os colonos, as guerrilhas, as reuniões às escondidas na capela do Rato cheia de boas vontades e com a presença de algumas alegadas ratazanas, e outros que não se sabe bem o que fizeram no antigo regime nem de onde vieram, são transformados em “cabeças inteligentes” que com a sua coragem (...) restituíram a liberdade a Portugal!
Basta ver algumas condecorações, o passado de alguns condecorados e como se condecoram os (ditos) melhores por via de verdades e mentiras para que se fica facilmente a saber como todos estes cozinhados são feitos. Temos condecorados que deviam ter vergonha de ostentar a medalha e temos condecorados que deviam orgulhar-se da medalha merecida mas evitem falar no assunto. Para além destes, temos milhares de não-condecorados que mereciam as mais distintas condecorações e foram e são esquecidos, apesar dos actos que praticaram em prol do país e do povo português. Os heróis frustados como alguém já os adjectivou.
Nós tivemos a oportunidade de falar com um dos combatentes madeirenses, entretanto falecido, que participou activamente na Revolta da Madeira de 1931. Fardado, de mauser e baioneta. Não teve medo de enfrentar o exército vindo do Continente, com mais homens, melhores armas, mais balas e apoiados pela artilharia e navios de guerra. Não morreu nas encostas de Machico, onde alguns foram abatidos pelos militares vindos do Continente, porque soube como se movimentar, montar emboscadas rudimentares e ficar sempre foram do alcance dos atiradores continentais que tinham ordens para matar quem lhes fizesse frente.
A Revolta da Madeira está mal contada porque, de tempos em tempos, aparecem uns cavalheiros a escrever sobre aquilo que foi escrito na altura da revolta, usando inclusive as mesmas fotos, e não podemos acreditar que os escritos da época tenham tido a liberdade para relatar toda a verdade dos factos. Muita coisa foi escamoteada, branqueou-se informação e as notícias eram as que eram possíveis, desde que tivessem a concordância do poder. Um escrito esfarrapado, contista, para não dizer nada de nada, apenas que a Revolta de facto existia e que as tropas portuguesas estavam a dominar perfeitamente a situação rebelde.
Um pouco à imagem das notícias que saíam nos jornais editados no Continente, na Madeira e nos Açores, sobre a guerra do ex-Ultrmar (Guiné, Angola e Moçambique). Se numa emboscada ou num confronto de tiros morriam cinco militares portugueses e um “turra”, tropa inimiga, dava-se a notícia que as tropas portugueses infligiram pesada derrota ao inimigo que levou à morte de cinco guerrilheiros (turras) e apenas um soldado português sofreu alguns ferimentos. Eram assim narradas as “verdades” da guerra. Estamos a falar de coisas sérias. Sabem quem fez o 25 de Abril de 1974? Sabem quem fez a Revolta da Madeira 1931? Sabem quem foram os responsáveis pela guerra civil em Angola e em Moçambique depois de ter sido dada a independência a estes países? Sabem o que fizeram aos comandos da Guiné, que lutavam lado a lado com as tropas portugueses, mal foi adquirida a Independência da Guiné-Bissau? Sabem como decorreu o fuzilamento dos militares portugueses em Timor? Sabem porquê houve necessidade de haver uma FLAMA, na Madeira, e uma FLA, nos Açores?
São muitas histórias muito mal contadas. Mas pensamos ter chegado à altura, sem ódios, de alguém contar a verdadeira história. Da Revolta da Madeira, da FLAMA, da FLA, dos partidos políticos no 25 de Abril de 1974 e das pessoas que tudo fizeram para transformar a Madeira à imagem da pobre e isolada ilha de Fidel de Castro (Cuba).
O que se fez contra a Madeira e contra o povo madeirense, a maneira como se apoderaram dos ficheiros da PIDE/DGS, na rua da Carreira, e dos ficheiros e de todo o património da UN/ANP, na avenida de Zarco, está por contar. Se um dia for feita a história destes factos objectivamente haverá quem ficará com vergonha de ostentar condecorações e talvez de sair à rua.
Que não se deixe a história dos factos ser deturpada nem os nossos jovens sem saber a verdade dos factos. A Madeira ultrapassou os obstáculos do comunismo e de toda a outra denominada esquerda folclórica e está como está, porque houve Homens que souberam enfrentar as violentas ameaças e combateram a ditadura que a esquerda queria a todo o custo impor.
Voltaremos ao tema.

Boas Páscoas, a todos.

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