quinta-feira, 21 de outubro de 2004

Os patetas vaidosos

Sem cerimónia digo que a comunicação social em Portugal é, em grande parte, culpada do atraso cultural de que tanto se fala. Não me refiro apenas às muitas calinadas do português, porque aceito a máxima que diz “só não comete erros quem não trabalha”, mas a um narcisismo patético e por vezes estúpido que nos leva a ter saudades de uma outra comunicação social, que não do antigo regime, mais séria, mais interventiva e mais rigorosa em tudo quanto abordava e transmitia para a opinião pública.
Quando vejo alguma comunicação social relevar quem perde e desvalorizar quem ganha não posso deixar de pensar, nem eu nem ninguém de bom senso, que os valores devem estar invertidos e empobrecidos. Assim procedendo, os objectivos da comunicação social mais parecem empenhados em menosprezar as vitórias, opor-se ao desenvolvimento e apoiar os reinos da pobreza cultural e da miséria social.
Não é este, de modo algum, o papel da comunicação social. E é vasta a biblioteca sobre os mass media para se perceber que a informação não é para os néscios, para os tolos nem para intocáveis. Não é para quem quer mas para quem possui abalizados conhecimentos de como funciona a sociedade no seu todo.
Tenho o vício, confesso, de ler jornais e revistas de outros países e até das diferentes regiões de Portugal. Um vício que sei ser também de outras pessoas. Tenho uma antiga tendência para ver nos jornais e revistas as janelas dessas regiões e países, um espaço por onde posso perscrutar a sociedade do lugar nos seus múltiplos aspectos.
Vejo nesses jornais (estrangeiros) uma informação o mais completa possível sobre o tema tratado, sem tomar partido, respeitando os prós e contras, apenas com a preocupação de levar para os leitores o que se passou ou vai acontecer.
Estes jornais são respeitados e são muito lidos. Não se escondem atrás de chavões nem se deixam maquilhar por bugigangas de ocasião. Os directores, jornalistas e fotógrafos, são conhecidos e muito respeitados, procuram estabelecer um convívio permanente com a sociedade e não tomam posições a favor ou a desfavor. Sabem os leitores que o que vem nos jornais é o que se passou. Não há choques nem abusos. Há respeito entre todos.
Esta dignidade da comunicação social viu-se em Portugal, noutros tempos, que não antes de 74. Não sei como funcionam as redacções dos diários, nem como é feita a gestão das notícias. Mas também não é isso que interessa-me enquanto leitor. O que vejo é que há muito amadorismo a reportar-se sobre assuntos de grande Pode-se discordar e devemos discordar, é salutar e devemos cultivar e defender as responsabilidade e de exigência profissional que a sociedade vai criando no dia a dia.
nossas posições, mas fundamentando-as e, se não concordamos, apontando claramente os erros e sempre que possível avançando com alternativas. Se o jornalista não quer ser uma caixa de ressonância (nem nunca deve ser) deve saber respeitar quem está à sua frente. O maior pecado do jornalista é quando está convencido que sabe de tudo e pior
ainda quando encara as conferências de imprensa como um simples debitar de palavras.


Não concordo, de modo algum, que haja jornalistas em conferências de imprensa (como a que decorreu na sede do PSD, na noite das eleições) sem um profundo conhecimento sobre o que representa uma vitória eleitoral. Que revelam desconhecer o que são os momentos emotivos que se seguem aos resultados eleitorais e que não estejam preparados para com isenção e postura profissional questionar com objectividade.
Depois ficam amuados, criam tropeções, clamam por protecção e passam a ser heróis por um dia! Nem dão conta que o líder do PSD, Dr. Alberto João Jardim, tem um currículo invejável na democracia europeia, que é o político com mais vitórias sucessivas na Europa comunitária, que tem mais-valias enaltecidas por adversários políticos de craveira que são os primeiros a reconhecer as suas inegáveis qualidades.
Quando a comunicação social, através dalguns dos seus jornalistas, comete falhas que são de todo incompreensíveis, dando destaque a quem perde e desvalorizando quem ganha, está a prestar um mau serviço. A não contribuir para que a sociedade possa evoluir. Desconhecer ou não respeitar esta realidade, desconsiderar os currículos dos vencedores, é ser pateta, estúpido.

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