quinta-feira, 8 de abril de 2004

Surpresas com certezas negativas

É verdade que as surpresas não têm suporte algum de certezas mas hà surpresas que surpreendem os próprios autores e seus seguidores. O apelo de José Saramago para que os eleitores portugueses votem em branco, de Mário Soares admitir conversações com os terroristas para pôr termo aos ataques suicidas e de um líder socialista madeirense que nunca ganhou um acto eleitoral mas diz que anda a fazer “presidências abertas”, são certezas absolutas que não surpreendem quem conheceu e conhece, hà muitos anos, as posições destas surpreendentes figuras da vida politica portuguesa.
Encaixa, aqui, muito bem a frase “cada macaco no seu galho”. Todo aquele que se convence que sabe tudo, que tem soluções para tudo, está de tal maneira obcecado pelo seu ego que não se apercebe que anda a surpreender pela negativa. Ser nobel não confere um saber tudo sobre tudo, por muito que saiba daq
uiloque sabe, e quando pensa que sabe tudo tão bem como aquilo que melhor sabe fazer acaba por borrar a sua própria qualidade de cidadão.
Manifestar publicamente o desejo para que os eleitores votem em branco, ou simplesmente não votarem, é estarem a condenar a democracia, abrir caminho para um estado de ghetto tal como viveram durante dezenas de anos os países do leste da Europa, com as doutrinas escravisadoras do comunismo soviético de má memória. É estar solidário com os campos de concentração, com os trabalhos forçados, fechar as janelas do país para que as populações não possam ver p que se passa noutros países, como ainda hoje acontece em Cuba.
Surpresa também foram as sugestões do antigo presidente da Republica portuguesa ao colocar a hipótese de serem abertas conversações com os terroristas como via para solucionar os cobardes actos do terrorismo. Surpresa que não surpreende tanto assim. Porque nunca se conheceram certezas no trajecto político de Mário Soares, a nível dos pelouros governamentais que exerceu, ainda que se tenha distinguido nas lides partidárias da área dos socialistas e da esquerda.
O mérito político do antigo presidente da Republica está na esquerda reivindicadora, ameaçadora e pouco prodente em muitas áreas do social. Teve a sua época, ganhou cravos vermelhos e colheu apoios das foices e dos martelos, mas em épocas revolucionárias, no meio das indicisões e confusões. Os socialistas espanhóis Gonzalez e Zapateiro têm uma visão do mundo e do socialismo que choca com a visão dos socialistas portugueses.
Neste emaranhado de sabedoria anda o actual líder dos socialistas da Região. Anda a fazer “presidências abertas”, a surpreender pela negativa e a confirmar a certeza que não basta ter o poder de um partido para abordar os problemas sérios da sociedade. È uma leviandade, uma certeza de incompetência, ouvir-se um líder que sempre saiu derrotado nas campanhas eleitorais, fazer acusações ao presidente do Governo Regional em termos que surpreendem quem o ouve e que vem reforçar a ideia que a política de “alta competição” só está ao alcance de um restrito numero de políticos.
Não podemos concordar com aqueles que dizem que “se queres a paz, faz a guerra”. Os nossos inimigos devem ser tratados como nossos inimigos e não como um amigo que, como nós, quer a paz, luta pela paz. Apelar ao voto em branco (ou a não votar), sugerir o diálogo com os terroristas ou simplesmente andar por aí a falar de cor, são ataques inadmissíveis à democracia.
Vamos ter este ano dois actos eleitorais (as europeias e as regionais), e a mensagem que se deixa é que todos gozem desta liberdade de votar em democracia, de exercer o seu direito, não se deixando influenciar por aqueles que, pelo que dizem, nunca terão ficado agradecidos pela vivência democrática. São surpresas com certezas negativas pelo mal que fizeram e querem continuar a fazer.

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