quinta-feira, 31 de março de 2005

Silêncio enganador

Um silêncio estranho e surpreendente envolve a política portuguesa. Nem o governo espirra nem a oposição faz ruídos. Para quem seguiu de perto a sôfrega campanha política contra o governo de Durão Barroso que redobrou de agressividade com a chegada de Santana Lopes a Primeiro-Ministro, seguindo-se a actividade frenética da oposição, que contou com o apoio do presidente da República ao dissolver a Assembleia, até as eleições antecipadas de 20 de Fevereiro, a existência de um “novo” governo na vida portuguesa nem parece existir. Se há governo, deve estar metido num santuário de culto enigmático.
Que anda a fazer e que mistérios envolvem o governo socialista liderado por José Sócrates? Alguém sabe? Se afinal os socialistas tinham já todo o programa de governo preparado para o accionarem assim que chegassem ao poder, por que razão agora todo este silêncio quando diziam os socialistas que havia tanta coisa mal no país e que era urgente mudar.
Exigiu a oposição, nomeadamente o PS, que o governo de coligação PSD/PP introduzisse, sem demoras, as reformas anunciadas, pressionando a toda a hora e em diversas frentes, principalmente na comunicação social, para que o governo anterior nem tivesse tempo para respirar. Com o actual governo as pressas deixaram de existir, as reformas ficaram adiadas, os pontos críticos evaporaram-se e não há pressões nem oposições sobre nada.
Que se passa na política portuguesa desde que o PS chegou ao governo?
O Presidente da República PS, (agora) cala-se; O Primeiro-Ministro, Ministros e Secretários de Estado PS’s, nada dizem; O presidente da Assembleia da República PS, não fala. O que se estará a passar? Nem as vozes sempre contestatárias do PCP e do BE, que barafustam por tudo e por anda, não se fazem ouvir agora.
Será por causa do Carnaval antecipado, da Páscoa em finais de Março, da chuva que não caiu em quantidade suficiente para encher as barragens e as albufeiras? De António Vitorino não querer cargo nenhum no governo ou de António Guterres desejar um Alto Cargo internacional?
Noutras alturas, a comunicação social (ou sucial) não descansava enquanto não descobrisse o que se estaria a passar com o governo. Agora jaz num perigoso silêncio gerido, ao que se ouve dizer, pelos altos interesses de um capitalismo selvagem que não olha a meios para proteger mordomias instaladas. Esta atitude parcial e vesga da generalidade da comunicação social, (a do costume, sempre zelosa pela manutenção do caduco regime vigente), não é nada salutar e deixa o país inquieto. Não é de crer que seja desprezo por este governo, pelo caso Casa Pia, pela qualidade do ensino ou pelo sistema da saúde. São mistérios a mais. A única coisinha que escapou para a opinião pública foi a do ministro das Finanças dizer que os impostos seriam inevitavelmente aumentados e o Primeiro-Ministro irritado vir dizer que, não senhor, os impostos não vão ser aumentados. Pumba!
Tudo isto é estranho. Se dantes os governantes falavam de mais e eram constantemente assediados e acossados para dizerem coisas, muitas das quais que pouco ou nada interessavam aos portugueses, desde que o PS chegou ao poder criou-se uma capa de ferro que não permite sons nem luzes. Anda tudo às escuras.
Os portugueses deixaram de saber se o governo está a governar bem ou mal. Uma outra pequena “coisa”que deixaram escapar é a de que o governo socialista está a criar uma central de informação para veicular todas as notícias do governo. Exactamente o mesmo procedimento que o governo anterior (PSD/PP) teve a ideia de criar e que os socialistas criticaram forte e feio, ao ponto de dizerem que o governo o que queria era esconder a realidade do país, filtrando a informação.
Ainda não houve nada de novo. Jorge Sampaio ao aprovar as eleições para Fevereiro (mês do Carnaval) terá tido as suas razões. Mês de folia, vindo a seguir o arranque das férias, o aproximar de mais uma ano lectivo, os hospitais privados a servir como escudo de defesa no caso de ataques ao sistema da saúde, as lutas dos estudantes nunca são feitos à beira do fim de mais um ano escolar, as centrais sindicais brigam com as entidades patronais sobre o novo Código de Trabalho, o Pacto de Estabilidade de Crescimento vem de trás, ou seja, há muita guerra cá fora enquanto o governo PS mantém-se na toca, livre de críticas e do mau tempo.
Até lá (data das próximas eleições), os portugueses ficam remetidos ao silêncio sem saberem se este governo PS presta ou não presta, se tem ou não bons ministros. O estar calado é um meio de defesa próprio dos indecisos ou dos que não querem falar verdade. Não quando se fala de um governo que tem obrigações para com os cidadãos, que tem o dever de informar claramente.
Governar no silêncio é não ter nada para dizer e quando um governo tem esta postura é que algo está mal, muito mal. O silêncio é enganador.

Dualidades do líder do PP

A aliança PSD/PP em Portugal continental não obriga a sua aceitação pelos sociais democratas e pelos populares madeirenses, mesmo que ambos os partidos sejam, em aliança, governo da República. No governo ambos os partidos estão irmanados numa boa governação, numa única intervenção política governamental, valorizando e defendendo as causas nobres do país, do melhor para Portugal, pondo de lado a questão puramente partidária.
Enquanto assunção de uma política comum para o país, PSD e PP não devem, sob compromisso que se admite de honra, violar o que os uniu num projecto comum para serem governo. De resto, não faria sentido uma aliança entre dois partidos ser alvo de manifestações tipo oposição de um partido em relação a outro. Ambos os partidos têm a sua conduta política própria, enquanto acção partidária e fora da área governamental, mas perdem legitimidade quando passam a pôr em causa o objectivo da aliança.
Imagine-se que o PSD passava a atacar a política partidária do PP ou que este partido passasse a atacar o PSD. Seria o desnorte, o caos, a mentira da aliança. Mas já é legítimo que o PP ou o PSD, dentro de uma acção puramente partidária, que podem ser comícios, campanhas, fóruns, congressos e outras coisas mais, tenham posturas completamente antagónicas sobre determinadas matérias. Aqui é a voz e o ideal partidário a funcionar, embora dentro de princípios do combate político partidário puramente ideológico, de lutas por ideais, e não como intervenção de enxovalhar o adversário político.
A grande interrogação que se faz (e que a opinião pública não deixa de fazer) é como é possível uma aliança PSD/PP em Portugal continental e um virar as costas na Madeira? Se os partidos são os mesmos, os ideais são os mesmos, apenas as pessoas são outras. Como se pode interpretar uma aliança que tem unanimidade numa parte do país e no governo da República e seja desunida, partidariamente oposição total, noutra parte do país. Será que a aliança PSD/PP para formar governo não teve o aval do PP e do PSD Madeira? Será que os dirigentes do PP Madeira estão contra os seus colegas de partido no continente, entre os quais Paulo Portas, por terem aceitado fazer parte do governo? Será que a comissão política do PP Madeira votou contra a decisão do PP nacional aquando da formação da aliança com o PSD?
São manifestas observações que deixam qualquer cidadão na interrogação. Partindo do princípio que o PP Madeira deu a sua anuência à aliança com o PSD e que o governo da República abrange continente e regiões autónomas, como explicar a duplicidade de acção, o antagonismo, a postura de oposição do PP para com o PSD na região? O líder do PP Madeira, José Manuel Rodrigues, tem sido um tenaz adversário do PSD, com ataques ferrenhos, como se o governo da região fosse um adversário a abater. Faça política pela política partidária, por aquilo que entende ser do melhor interesse para o seu partido, na busca incessante de levar aos eleitores uma mensagem clara e concisa, ao mesmo tempo cativante, mas já é descabido incentivar, mover e tentar desviar a opinião pública contra o governo PSD na Madeira.



Evidentemente que não quereríamos uma atitude de placidez meramente contemplativa do PP para o PSD na Madeira. Seria partidariamente desastroso. Mas ver e ouvir o PP fazer o trabalho de puro desgaste de oposição contra o PSD e o governo Regional, alinhando ao lado dos aparentemente bucólicos comunistas e socialistas, pode ser entendido como se o PP Madeira não só tenha uma autonomia total em relação ao PP nacional, como não tem qualquer respeito ou obediência ao partido a nível nacional. Uma postura completamente contrária à que tem o PSD Madeira para com o PSD nacional. Os sociais democratas madeirenses não abdicam da sua autonomia em relação ao partido no continente mas traçam fileiras e defendem o partido a nível nacional em todos os aspectos, mesmo quando possa surgir discordâncias pontuais. A não ser em casos extremos o que nunca aconteceu.
E o líder do PP Madeira, José Manuel Rodrigues, foi eleito no último congresso para um alto cargo no partido, o que ainda mais o vincula às decisões tomadas a nível nacional. A não ser que esteja a fazer um discurso no continente e outro na Madeira, aplaudindo lá as decisões do seu partido e comportando-se cá como um opositor combatente e rabugento ao governo e ao partido do PSD. A ser assim, fica-lhe mal tal dualidade, revelando um estado de espírito nada abonatório, mesmo quando se sabe que o seu alinhamento à esquerda pouca ou nenhuma influência terá nos próximos actos eleitorais.

quinta-feira, 24 de março de 2005

Amaral do Céu ao Purgatório

Se há actos na vida que mais me fascinam são os que trazem o reconhecimento do erro. Dizer, errei. Dou a mão à palmatória. Acho esta atitude um acto nobre, sincero e humano. Errar é próprio do homem. Só não erra quem nada faz. Mas há erros e erros. Erros que podem provocam danos irreparáveis. Todos os grandes homens erraram. O erro não é um mistério nem ninguém poderá dizer que nunca errou.
Agora, já me custa a perceber certos tipos de erros, particularmente quando têm a ver com a postura das pessoas perante a defesa de princípios marcadamente distintos dos demais. A atitude tomada pelo Prof. Freitas do Amaral, fundador do CDS/PP que, cerca de 30 anos depois, se alia ao Partido Socialista e aceita ocupar um cargo de ministro num governo socialista, é um erro inacreditável. Este não é um erro primário, é um desvio ideológico brutal como de andássemos a brincar aos partidos e aos políticos.
O que fez o Prof. Freitas do Amaral é condenável sob o ponto de vista ético, partidário e ideológico mas sobretudo pelo impacto negativo que deixou passar para todas aquelas pessoas que sempre o viram como fundador do CDS, devoto de uma direita moderada, seguidor dos princípios cristãos da igreja católica e contra tudo quanto se movimentava à esquerda.
O Partido Socialista foi fundado, entre outros, pelo Dr. Mário Soares que, por sua vez, juntamente com o seu amigo kamarada Dr. Alvado Cunhal, fundaram o actual Partido Comunista.
O Partido Socialista português é de uma esquerda bem à esquerda. O CDS do Prof. Freitas do Amaral era um partido à direita, bem à direita. Foram e são extremos. O Partido mais perto do PCP é o PS. O Partido mais próximo do CDS (PP) é o PSD, que, aliás, estiveram ambos (CDS/PP e PSD) no Governo da República.
A questão que leva os portugueses de boa fé a ficarem estupefactos é pelo facto de não encontrarem explicação para um fundador de um Partido de direita (CDS), que durante muitos anos andou a “pregar a doutrina da direita”, combatendo a ideologia socialista e de toda a esquerda, vir a aderir ao PS por troca com o cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros. Tudo leva a crer que foi um negócio, foi!.
Face a esta realidade, não me surpreendeu o facto da actual direcção do CDS/PP mandar pela porta fora da sede tudo quanto dizia respeito ao Prof. Freitas do Amaral. Foi (e com todo o sentido) apeado do Partido que fundou (CDS) como do Partido Popular Europeu (PPE) a que pertencia.
Estranho também foi o silêncio que o PS fez sobre esta questão, sobretudo da parte daqueles militantes que certamente também ouviram ataques do Prof. Freitas do Amaral contra o PS e seus dirigentes, incluindo o Dr. Mário Soares.
A imagem que fica é de que há políticos que não são dignos de estarem num Estado democrático transparente, de respeito pelos valores e pessoas a quem, desde a primeira hora, deram a conhecer o que era a direita (CDS), contra todos os princípios do socialismo-comunismo. Partidariamente, o Prof. Freitas do Amaral a deu um duro golpe no partido que o próprio fundou a troco de um cargo no Governo socialista sem se importar minimamente com o mal estar que deixa entre aqueles eleitores que sempre o viram e consideraram como uma referência da direita portuguesa e uma pessoa de bem em matéria de defesa dos princípios da ética e da moral.
É um jogador, como alguém dizia. Um “santo-diabo” que andou durante anos a “enganar” milhares de pessoas que acreditavam naquilo que dizia., que aderiram ao CDS , que ficaram agarrados à democracia cristão que o Prof. Freitas do Amaral dizia defender, quando afinal tudo era mentira, vindo a colocar tudo em xeque com o escândalo que representa a sua adesão ao PS. Nem faz sentido dizer que aceitou ser ministro no Governo PS mas não se filiou no PS. Até parece que o PS não tinha, entre os seus próprios militantes, ninguém com capacidade de assumir uma pasta tão importante como é a Pasta dos Negócios Estrangeiros. Também não faz sentido que a personalidade encontrada para ocupar tal cargo, seja alguém que tenha comparado o Presidente dos Estados Unidos da América a ditadores conhecidos e se tenha sujeitado ao vexame de, no Parlamento, ter sido confrontado com a verdade dos seus depoimentos, antes tão reiteradamente desmentidos.
O que aí vem é ainda muito mais estranho e preocupante. É ver um Governo PS, que do programa que apresentou pouco ou nada difere dos anteriores governos socialistas, com decalques onde já não há espaço para levar por diante iniciativas válidas e actuais.
Este Governo PS é uma tenda de empregos, de assalariados, sem projecto inovador, distante das grandes questões europeias e com uma estrutura governamental quadrada.
Se o Prof. Freitas do Amaral foi a “bomba” que causou espanto não só em Portugal como no estrangeiro, não se fique com a ideia que o Governo não tem outros rostos que pouco ou nada sabem o que têm de fazer. É o “porreirismo” dos governos socialistas que nunca se sabe onde poderá parar.

Apesar do contexto pouco animador, desejo a todos uma Santa Páscoa.

quinta-feira, 17 de março de 2005

Ilhéus na presidência do Parlamento

Pela primeira vez, as Regiões Autónomas têm na presidência e na vice-presidência da Assembleia da República dois ilhéus. Um dos Açores, Jaime Gama, socialista, que ocupa o cargo de presidente e um da Madeira, Guilherme Silva, social-democrata, no cargo de vice-presidente.
Não vamos tecer comentários que tenha outra interpretação que não seja o facto em si. É pelo menos inédito, nunca tinha acontecido em 95 anos, desde que os republicanos subiram ao poder, a 5 de Outubro de 1910.
Estes cargos no mais alto órgão da República (Parlamento Nacional) têm o mérito de serem eleitos pelos deputados, representantes legítimos dos eleitores, dos portugueses em geral. Têm a intervenção mais próxima dos cidadãos e do Parlamento e a eficiência das respectivas lideranças podem condicionar em muito a vida do país.
O prestígio parlamentar passa muito pela qualidade, bondade e eficácia das leis a aprovar mas também pela idoneidade e capacidade de oratória dos deputados e da forma como são moderados os debates.
Na legislatura anterior, a presidente do Parlamento da República foi exercida por João Bosco Mota Amaral, do PSD, ex-presidente do Governo Regional dos Açores, natural de Ponta Delgada, capital da ilha de São Miguel.
Terá sido, se a memória não nos falha, o primeiro ilhéu a ocupar o cargo de presidente da Assembleia da República.
Porém, e é bom que se relembre que os dois primeiros presidentes da República foram açorianos, Manuel Arriaga e Teófilo de Braga, e que a Madeira já teve Ministros em cargos do Governo da República.
Os critérios para a eleição do cargo de presidente e vice-presidente do Parlamento nacional têm a ver com os partidos e com a maior ou menor representatividade parlamentar.
Na presente legislatura, que há pouco começou, está novamente na presidência do Parlamento um açoriano, desta feita socialista, tal como se verificou com o anterior presidente, então social-democrata. Se não há motivo para fazer considerações extras sobre estes factos, também é verdade que de entre mais de duas centenas de parlamentares, mais de 95 % do Continente, colocar-se nas cadeiras da presidência da Assembleia da República dois ilhéus, não se pode afirmar que sejam simplesmente uma coincidência. A ilação a tirar é certamente que as escolhas (pois é disso que se trata), recaíram em personalidades cujo mérito e prestígio é reconhecido pelas direcções dos respectivos partidos políticos.
Por razões estruturantes do sistema educativo em Portugal, a vida parlamentar portuguesa é pouco divulgada, tem pouca visibilidade na opinião pública, os seus poderes são pouco conhecidos, os trabalhos dos deputados ficam quase que entre-portas e, por razões que têm a ver com a maneira de estar dos portugueses face às instituições políticas nacionais, não sabemos o que se passa e como tudo acontece, mas estamos sempre prontos a fazer julgamentos, a qualquer nível.
A Constituição da República (a precisar urgentemente de revisão, condição indispensável para que o País se modernize e progrida), é a “bíblia” política do ordenamento do Pais, mas será que os portugueses, em geral, já alguma vez consultaram a Constituição? Certamente que não. Para quê? São atitudes ancestrais, de saber o não saber, da maçada que é consultar a Constituição da República, mesmo que seja a título de curiosidade.
Naturalmente que a Assembleia da República não só produz, discute e aprova ou reprova alterações às leis em vigor como debate, aprova ou não nova legislação que, uma vez aprovada, vai obrigar a todos a cumprir com o que a lei determina.
Temos para nós que a vida parlamentar será cativante sob o ponte de vista da intervenção e do debate político, quando os deputados mostram toda a sua capacidade de defender propostas e de argumentar o porquê das suas rejeições sobre determinadas medidas.
Por tudo isto e por tudo quanto representa para o país, a actividade e decisões da Assembleia da República, das aprovações e reprovações, é que não podemos deixar passar em claro o facto de, pela primeira vez, ver na presidência e na vice-presidência do Parlamento nacional dois ilhéus, ainda que militantes de partidos diferentes (PS e PSD) e de regiões diferentes (Açores e Madeira).

quinta-feira, 10 de março de 2005

Governantes fracos fazem um fraco País

Um fraco governo faz um fraco País. O governo que amanhã toma posse é, segundo o que dizem a maioria dos analistas, um governo fraco. Assim sendo, não é de esperar melhoras na governação nem que venha a haver reformas profundas e estruturais num país que parece atolado numa lama que o impede de andar para a frente. O país está preso na lama e os governos não parecem muito interessados em sair da situação.
Quando alguns políticos afirmam que ninguém vai para o governo ganhar um vencimento inferior aquele que ganha numa actividade privada, estão a por em causa a dignidade que deve ser exigida a qualquer governante. É um facto inegável que os membros do governo não são convenientemente remunerados, que ganham pouco, como dizia há pouco tempo o Dr. António Borges, economista de reconhecidos méritos no país e no estrangeiro. Ser governante é muito mais do que lutar pela camisola, conduta que já nem é seguida pelos futebolistas que, como é do conhecimento geral, não jogam por amor ao equipamento que vestem. A política e os governantes devem mover-se por condutas éticas, morais e ideológicas orientadas num único objectivo, o Bem Servir.
Porque os governos pagam mal, no dizer do Dr. António Borges, os bons técnicos portugueses, em geral, viram as costas aos governos e optam por fazer uma carreira profissional muito mas compensadora, bons vencimentos, longe da devassidão e do desgaste pessoal e até familiar a que os governantes estão permanentemente sujeitos.
Os bons técnicos rejeitam todos os convites para assumirem cargos governamentais na República, ainda que se reconheça que existem algumas boas excepções. Quando um governo é constituído por segundas e terceira escolhas nunca poderá funcionar bem, como veio a acontecer, nalguns casos, com o novo governo socialista que amanhã toma posse.
Quando vejo pessoas como o Prof. Freitas do Amaral, fundador do CSD/PP, que se dizia defensor da democracia cristã e dos valores da igreja, que combateu a esquerda socialista com raízes comunistas, apresentar-se agora como ministro num governo socialista, é dar razão aqueles que dizem que a política no Continente há muito que bateu no fundo e que alguns políticos e governantes que andam pelos cargos governamentais não têm valor moral e ideológico para os cargos que aceitam preencher.
Não conheço nenhum político na Europa que tenha fundado um Partido e que anos depois venha renegar o Partido que ajudou a fundar, ao mesmo tempo que em plena campanha eleitoral venha a apelar o voto num partido que é contra o seu partido. Como também é esquisito ver alguns partidos darem guarida a estas pessoas que não têm justificação alguma para procederem com tamanho desplante. Mudar de camisola depois de tanto ter combatido o partido e a ideologia que contraria os seus princípios só pode revelar que o próprio fundador do CSD nunca acreditou no seu partido. Serviu-se do CDS para chegar a determinados lugares, para ser conhecido do grande público, e agora, depois de ter levado na “sua cantiga” milhares, milhões de pessoas a acreditar nos seus valores políticas, volta-lhes as costas, e apela o voto no PS. Os eleitores dizem agora que foram enganados!
Que podem os portugueses esperar desta estirpe de governantes?
Para bem do País, e em consequência, para o bem da Região Autónoma da Madeira, faço votos que este novo governo tenha um bom desempenho, cumprindo com todas as promessas feitas no seu manifesto eleitoral. Contudo, não acredito que este governo dure os quatros anos para que foi eleito como não acredito que o PS tenha ganho as eleições por inteiro mérito próprio.
A própria constituição do governo deixa claramente ver que as escolhas feitas foram as possíveis e não as mais desejadas. O próprio Prof. Freitas do Amaral, para além de já nada ter a dar de novo à política (se é que alguma vez deu alguma coisa efectiva), vai arrastar-se pelos “corredores” do Ministério, até chegar à data da reforma.
Daqui a poucos anos vamos poder verificar que o ano 2004 foi desastrado para a política portuguesa e que os governantes vão continuar a perder posição no quadro da União Europeia e de outros organismos internacionais.
Se os governantes são fracos, fraco fica o país, mais precária fica a sociedade, apesar da legitimidade que a todos os cidadãos assiste de mudarem os acontecimentos em momentos decisivos, como são os actos eleitorais.

quinta-feira, 3 de março de 2005

“Savoir-faire” do PSD-Madeira

Em política como em tudo na vida temos quer ter consciência da realidade objectiva, da veracidade dos factos. Temos que estar preparados para vencer como para perder. O que nunca devemos é aceitar a derrota como um perda irrecuperável, conformar-se como se mais nada houvesse para fazer e vencer de novo. O mesmo devem assim pensar e agir os vencedores. Ficou célebre a frase do estadista inglês Winston Churchill: “Das derrotas, partimos para as vitórias”. Churchill foi Prémio Nobel da Literatura e esteve na Madeira. Faleceu em Janeiro de 1965, com 91 anos de idade.
A discussão em torno das vitórias e das derrotas nunca é consensual. Os vencedores pensam que já venceram tudo, que têm tudo a seu favor, e os derrotados sabem normalmente porque perderam. A maior vitória é saber aceitar a derrota e o pior que pode haver é considerar a vitória como fruto de uma dádiva qualquer. É importante que se perceba que não há dia sem noite, que não existem horas sem minutos, que não há mais sem menos.
O PSD-Madeira, embora saindo inequivocamente vencedor das eleições para a Assembleia da República, deu um claro exemplo de como nos devemos posicionar ante a vitória e a derrota. Desejou ao PS-Nacional um bom desempenho no Governo da República. Isto é “savoir-faire”, é saber estar e ter maturidade política.
Seguramente que outros não tiveram esta postura. Vale ao PSD da Região Autónoma ter um líder com a dimensão do Dr. Alberto João Jardim, com trinta e sete vitórias em actos eleitorais democráticos, de nunca se ter posto em “bicos de pé” nem ter levado as intrigas políticas e partidárias para além das campanhas eleitorais.
É sabido que não há eleições iguais como é sabido que há uma grande diferença entre actos eleitorais para as Autarquias, para a Assembleia Legislativa Regional, para o Parlamento Europeu como para a Assembleia da República. Todos os actos eleitorais são diferentes, com interesses e motivações diferentes para os comuns dos eleitores.
Nas recentes eleições para a Assembleia da República não foi propriamente o PS que ganhou, porque nunca apresentou créditos para merecer tal distinção, foram os eleitores a mostrar o “cartão vermelho” ao Governo da República que não estava a corresponder àquilo que os portugueses desejavam.
Grande parte do país estava descontente com determinados desempenhos do Governo liderado pelo Dr. Pedro Santana Lopes. Muitos eram os sociais-democratas a manifestar o seu desagrado. A solidariedade partidária dos sociais-democratas não é cega nem autista. Era bem visível a quebra que o Governo da República estava a ter, por muito que se voltasse a cara para o lado ou se quisesse combater os erros dizendo que não eram erros. O pior cego é aquele que não quer ver.
O Governo da República, depois da saída (e bem, por ser uma razão de interesse nacional) de Durão Barroso para presidente da Comissão Europeia, perdeu alguma estabilidade que se foi deteriorando à medida que o tempo passava, até que chegou a um momento em que todas as resistências internas se foram abaixo.

Na Madeira, os efeitos do desgaste governamental da República teve obviamente o eco que resultou nas conhecidas consequências. Os madeirenses sabiam do que se estava a passar na República, sabiam que o Governo Regional bem como as Autarquias da Região estavam a ser prejudicados por alguma inoperância do Governo da República. Os eleitores madeirenses, ao contrário do que os partidos da oposição (PS, PP, CDU e BE) cansativamente andam a afirmar, sabem muito bem como votar e em quem votar. O tempo da alienação e da demagogia, da desordem junto às mesas de voto, dos “mortos” a votar como se estivessem vivos, são contas do rosário comunista e socialista da democracia absolutista.
Os votos dos portugueses do Continente e das Regiões Autónomas foram para “deitar fora” o Governo da República. Não foi o PS que obteve a maioria, foram os portugueses a quererem mudar o Governo.
Em consequência, pede-se moderação e “savoir-faire como fez o PSD-Madeira. Quando vemos o PS-Madeira chamar a si uma vitória (que não existiu, porque saiu derrotado), e como se não bastasse, festejar em nome de uma vitória antecipada nas eleições autárquicas, marcadas para Outubro próximo, só podemos lamentar, por se tratar de uma atitude de soberba, tipo novo-rico sem formação, que herdou, sem esperar ou merecer, um bem de um familiar distante.
Os socialistas madeirenses ainda não conseguiram destrinçar a diferença que existe entre eleições regionais, com interesses directos para a Região, das eleições nacionais.
O que se pode concluir, sem fantasias, é que o PS-Madeira não ganhou nada e que o PSD-Madeira voltou a ganhar, sem equívocos.